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Coreia do Norte é ameaça a vizinhos e comunidade internacional, diz Pentágono após novo teste de mísseis

Novo armamento teria capacidade de levar ogivas nucleares e atingiu alvo a 1,5 mil km de distância; lançamento ocorre em meio a discussões sobre retomada da diplomacia com Pyongyang
Imagens divulgadas pela agência estatal KCNA mostram o que seria o teste de um novo míssil de cruzeiro da Coreia do Norte Foto: STR / AFP
Imagens divulgadas pela agência estatal KCNA mostram o que seria o teste de um novo míssil de cruzeiro da Coreia do Norte Foto: STR / AFP

PYONGYANG E WASHINGTON — O governo dos EUA criticou a Coreia do Norte depois do teste de um novo modelo de míssil de longo alcance, afirmando que as atividades militares do regime de Pyongyang constituem uma ameaça aos países vizinhos e a toda comunidade internacional. O lançamento ocorreu dias antes de uma reunião de representantes de Coreia do Sul, Japão e EUA para discutir a questão norte-coreana e os meios para retomar os contatos diplomáticos.

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De acordo com a agência estatal KCNA, o teste ocorreu no final de semana, e os modelos voaram por cerca de duas horas antes de atingirem os alvos a 1,5 mil km de distância. A trajetória dos mísseis não foi divulgada pelas autoridades norte-coreanas, que revelaram apenas que o novo armamento vem sendo desenvolvido nos últimos dois anos — coincidindo justamente com um dos períodos mais difíceis da economia norte-coreana e com o fracasso das iniciativas de diálogo.

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Para especialistas, o novo míssil poderia ter a capacidade de carregar ogivas nucleares, uma suspeita reforçada pelo tom da nota da KCNA. No comunicado, a agência declarou que o armamento garante a “segurança do Estado”, “contém as manobras de forças hostis” e é “mais um meio de dissuasão eficaz”, termo normalmente associado a armas atômicas.

— Esse é um eufemismo comum para sistemas com potencial nuclear — declarou à Reuters Ankit Panda, pesquisador do Centro Carnegie para a Paz Internacional. — Seria o primeiro míssil de cruzeiro da Coreia do Norte especificamente designado para um papel estratégico.

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Os mísseis de cruzeiro, como os testados no final de semana, não estão sujeitos às sanções das Nações Unidas, ao contrário dos mais conhecidos mísseis balísticos. Os dois diferem na forma de propulsão e também na trajetória: enquanto o balístico chega ao alvo após um caminho em arco, o de cruzeiro se assemelha mais a uma linha reta. Contudo, analistas ressaltam que este armamento é igualmente eficaz, uma vez que pode evitar a maior parte dos sistemas de radares e possui autonomia para atingir boa parte do território de nações vizinhas, como a Coreia do Sul. Não foram divulgados detalhes técnicos sobre o míssil.

Diplomacia congelada

O teste ocorre em um momento tenso na região: o diálogo com Pyongyang está virtualmente congelado desde o fracasso das negociações lideradas pelo então presidente dos EUA, Donald Trump, em 2019.

Desde o início da pandemia, o regime de Pyongyang interrompeu contatos, fechou as fronteiras e não dá sinais de que pretenda retomar negociações.Em julho, o Norte reativou uma linha de contato militar com o Sul, criando alguma expectativa de avanços diplomáticos, mas pouco depois o canal voltou a ser suspenso. Ao mesmo tempo, o país enfrenta uma das mais graves crises econômicas, algo que vem sendo ressaltado pelo próprio líder norte-coreano, Kim Jong-un.

Em nota divulgada no domingo, o Comando do Pacífico dos EUA declarou que monitorava a situação. Também afirmou que as atividades da Coreia do Norte ressaltam sua intenção de continuar desenvolvendo o programa militar, e que a nação mostra representar uma ameaça aos vizinhos e à comunidade internacional. Por fim, o comando ressalta o compromisso dos EUA com a defesa do Japão e da Coreia do Sul, dois países que também vêm reforçando seus arsenais nos últimos anos.

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No caso de Seul, o país testou, na semana passada, seu primeiro míssil balístico lançado a partir de um submarino — apenas países com armas nucleares possuem esse tipo de armamento.

— A Coreia do Norte parece ser o principal fator por trás da expansão de mísseis da Coreia do Sul, com Seul buscando sistemas com alcance superior ao necessário apenas para conter Pyongyang — declarou à Reuters Kelsey Davenport, diretor de políticas de não proliferação da Associação de Controle de Armas, em Washington.

Nesta terça-feira, negociadores dos EUA, Coreia do Sul e Japão se encontram, em Tóquio, para discutir maneiras de quebrar o impasse com Pyongyang — no mesmo dia, o chanceler chinês, Wang Yi, vai a Seul para um encontro com o ministro das Relações Exteriores sul-coreano, Chung Eui-yong. Mas, até o momento, não há sinais de que os norte-coreanos estejam dispostos a se sentar à mesa com representantes de nações da região ou dos EUA, que já sinalizaram vontade de retomar a diplomacia, mas sem eliminar sanções.