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Coreias do Sul e Norte restauram linhas de comunicação após Kim Jong-un cancelar diálogo

Contato entre os dois países foi suspenso em junho e agosto de 2021
Presidente sul-coreano Moon Jae-in e líder norte-coreano Kim Jong-un se cumprimentam em setembro de 2018 Foto: KCNA / via Reuters
Presidente sul-coreano Moon Jae-in e líder norte-coreano Kim Jong-un se cumprimentam em setembro de 2018 Foto: KCNA / via Reuters

SEUL E PYONGYANG  — Os governos das Coreias do Norte e do Sul restabeleceram canais de comunicação nesta segunda-feira, após um rompimento de meses. A retomada de uma relação entre os dois países, disse Pyongyang, no entanto, depende da "atitude das autoridades sul-coreanas" e da reversão do que considera ser um "tratamento diferenciado" da comunidade internacional sobre sua autodefesa.

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Marcado por idas e vindas, o diálogo entre os dois países foi suspenso duas vezes em 2021. A primeira em junho, quando a Coreia do Norte demonstrou descontentamento com a chegada no país de folhetos com propagandas de grupos ativistas. A comunicação foi brevemente retomada no final de julho e paralisada novamente duas semanas depois, em agosto, em repúdio a exercícios militares conjuntos entre Seul e Washington.

A reabertura segue promessa do líder norte-coreano Kim Jong-un feita na semana passada, quando manifestou interesse em reiniciar a comunicação em um discurso a parlamentares. Na ocasião, disse que "a Coreia do Norte não tem motivos para provocar ou prejudicar o Sul". O presidente sul-coreano Moon Jae-in também sugeriu a reaproximação durante o discurso na Assembleia Geral da ONU no mês passado.

Para o Sul, o contato entre os líderes "ajuda a reduzir as tensões na península", contribuindo para evitar mal entendidos. Para o Norte, que reclama do que considera serem "dois pesos e duas medidas" no desenvolvimento bélico na Península Coreana, a relação está condicionada a mudanças por parte dos líderes vizinhos.

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"A autoridade sul-coreana deve apreciar profundamente o significado da retomada das linhas de comunicação Norte-Sul, reparar essa relação e fazer esforços ativos para resolver questões importantes que são pré-requisitos para abrir um caminho brilhante", disse a mídia estatal da Coreia do Norte.

Seul confirmou a retomada dos canais de comunicação, dizendo que o contato ocorre duas vezes por dia em linhas militares. Há ainda um canal naval para navios comerciais.

Os canais são uma peça importante para aproximar as nações, separadas há quase 70 anos pela Zona Desmilitarizada (DMZ), uma das fronteiras mais fortemente armadas do mundo. Mesmo após o cessar-fogo que pausou a Guerra da Coreia, em 1953, nunca houve um acordo formal para pôr fim ao conflito, que opôs os comunistas do Norte apoiados pela China ao governo pró-Ocidente de Seul.

O diálogo entre os países vizinhos está virtualmente congelado desde o fracasso das negociações lideradas pelo então presidente dos EUA, Donald Trump, em 2019, que chegou a realizar duas cúpulas e se encontrar com Kim na DMZ. E não está claro até que ponto a retomada dos canais de comunicação pode facilitar um avanço nas negociações.

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Na semana passada, no discurso em que sinalizou para a retomada, Kim disse, por exemplo, havia dito que Seul precisava abandonar seu "delírio" sobre as atividades de Defesa norte-coreanas enquanto desenvolve suas próprias armas. Uma escalada militar nos últimos meses, em paralelo, fez Pyongyang alertar para uma possível crise de segurança.

Na semana passada, os norte-coreanos afirmaram ter disparado com sucesso um míssil hipersônico — sinal de que, segundo a imprensa estatal, seu arsenal vem crescendo e lhe garantindo maior habilidade de defesa. Anteriormente, já havia testado um míssil antiaeronave e um míssil "estratégico" de cruzeiro com capacidade potencialmente nuclear.

Para especialistas, os lançamentos reforçam o isolamento do país e tentam aumentar seu poder de barganha no cenário internacional. O objetivo é garantir reconhecimento como uma nação com capacidade nuclear e criar uma fissura entre os Estados Unidos e a Coreia do Sul, tentando forçar Seul a se sentar à mesa.

O disparo da semana passada ocorreu pouco antes de o embaixador da Coreia do Norte pedir aos Estados Unidos na ONU que desistissem de sua política hostil em relação a Pyongyang, argumentando que ninguém poderia negar o direito de seu país à autodefesa e ao teste de armas.

Comentando a retomada das linhas de comunicação entre o Norte e o Sul, um porta-voz do Departamento de Estado americano disse que os EUA apoiam "fortemente" a cooperação intercoreana, classificando o passo como um "componente importante para criar um ambiente mais estável" na região.