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Corpo do poeta Pablo Neruda é exumado no Chile

Equipe de investigadores tenta descobrir como poeta morreu

Neruda: versão oficial é de que ele morreu de câncer logo depois do golpe militar promovido por Augusto Pinhocet em 1973
Foto: Mario Torrisi/AP
Neruda: versão oficial é de que ele morreu de câncer logo depois do golpe militar promovido por Augusto Pinhocet em 1973 Foto: Mario Torrisi/AP

SANTIAGO. O corpo do Prêmio Nobel Pablo Neruda está sendo exumado este fim de semana, em um esforço para esclarecer quatro décadas de suspeitas sobre como ele morreu nos dias após o golpe militar no Chile. Uma equipe de investigadores vai começar a escavar no domingo, em Isla Negra, uma vila rochosa na costa do Pacífico, onde Neruda viveu. Mas especialistas dizem que há pouca esperança de que a exumação responda às dúvidas em torno da morte de um dos maiores poetas do século XX: se teria sido mesmo de causas naturais, como conta a versão oficial, ou se ele foi envenenado pela ditadura militar, como seu motorista e alguns outros acreditam.

O juiz Mario Carroza aprovou o pedido do Partido Comunista do Chile para realizar a exumação, mas não permitiu o uso de peritos independentes, sugeridos pela família do escritor.

Neruda, que ganhou o Nobel de literatura em 1971, era mais conhecido por seus versos de erotismo romântico, pincipalmente a coleção “Vinte poemas de amor e uma canção desesperada”. Ele foi também um político de esquerda, diplomata e amigo próximo do presidente Salvador Allende, que se suicidou em 11 de setembro de 1973, dia do golpe de Estado liderado pelo general Augusto Pinochet.

Nos dias seguintes ao golpe, a casa de Neruda, em Isla Negra, foi invadida por autoridades. Um navio de guerra chileno ficou estacionado na costa com os canhões apontados diretamente para a casa do escritor. O motorista Manuel Araya, que tinha 26 anos na época, contou que Neruda disse: “Eles vão nos explodir”.

Pablo Neruda, com então 69 anos e sofrendo de um câncer de próstata, dizia estar traumatizado com o golpe, e a perseguição e morte de amigos. Na última página de sua autobriografia, redigiu: “Eu escrevo estas linhas rápidas paraas minhas memórias apenas três dias após os atos indescritíveis que levaram à morte de meu grande amigo, o presidente Allende. Confesso que vivi”.

Neruda havia planejado ir para o exílio, onde teria uma voz influente contra a ditadura. Um dia antes, ele foi levado de amulância para a Clínica de Santa Maria, onde estava sendo tratado do câncer e de outras doenças. Oficialmente, Neruda morreu em 23 de setembro de causas naturais, relacionadas ao seu estado emocional por causa do golpe militar. Mas as suspeitas de que teria a mão da ditadura em sua morte vieram à tona muito tempo depois do Chile ter voltado a uma democracia, em 1990.

O ex-presidente Eduardo Frei Montalva morreu na mesma clínica, nove anos depois, em 1982. Embora os médicos tenham divulgado como causa de morte um choque séptico durante uma cirurgia no estômago, uma investigação mostrou, quase três décadas depois, que o oponente do regime de Pinochet havia sido envenenado.

Para o motorista Araya, agentes da ditadura teriam injetado veneno no estômago de Neruda, na clínica: “Nosso erro foi ter deixado ele sozinho no dia 23 de setembro. Se ele não tivesse ficado sozinho, eles não teriam matado Neruda”.

A Fundação Pablo Neruda, que administra o espólio do poeta, por muito tempo rejeitou a alegação de Araya e do Partido Comunista, ao qual ele pertencia. Araya disse que os funcionários do partido finalmente prestaram atençãoquando ele deu uma entrevista a uma revista mexicana, em maio de 2011, que criou um alvoroço internacional.