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Diplomatas venezuelanos podem ficar no Brasil enquanto estado de calamidade durar, determina STF

Após ouvir governo federal, Barroso rejeita pedido do Executivo alegando motivos sanitários
Embaixada da Venezuela em Brasília Foto: Agência Brasil
Embaixada da Venezuela em Brasília Foto: Agência Brasil

O ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), decidiu neste sábado que a ordem de que os diplomatas venezuelanos deixem o Brasil, dada pelo governo federal, não poderá ser executada enquanto perdurar o estado de calamidade por causa da Covid-19.

No começo do mês, Barroso concedeu uma liminar que suspendeu a expulsão imediata dos diplomatas, oferecendo dez dias para o governo brasileiro apresentar suas justificativas sobre o caso.

Desta vez, ele decidiu que a liminar vale “enquanto durar o estado de calamidade pública e emergência sanitária reconhecido pelo Congresso Nacional”.

"A medida provisória os autoriza a permanecer no Brasil pelo período de calamidade pública e emergência sanitária reconhecida pelo Congresso Nacional", informou o gabinete de Barroso em comunicado neste sábado.

O presidente Jair Bolsonaro não reconhece Nicolás Maduro como o legítimo presidente da Venezuela e, como cerca de 50 países, vê o opositor e líder parlamentar Juan Guaidó como presidente interino.

Em março deste ano, o Brasil fechou sua representação diplomática na Venezuela e ordenou que os diplomatas venezuelanos deixassem Brasília antes de 2 de maio. A ordem é criticada por diplomatas experientes, que entendem que é necessária interlocução com um país fronteiriço e que cidadãos brasileiros em território venezuelano podem ficar expostos sem representação do Itamaraty.

A pedido do deputado Paulo Pimenta (PT-RS), Barroso emitiu uma decisão naquele dia suspendendo por 10 dias a ordem de expulsão dos 34 diplomatas venezuelanos, esperando o Executivo explicar a urgência de executar sua decisão.

Depois de receber informações da Advocacia Geral da União, do Ministério Público e do Ministério das Relações Exteriores, Barroso decidiu se pronunciar em favor da permanência, devido aos "riscos de uma longa viagem por terra atravessando os estados brasileiros onde aumentam os casos e os hospitais estão superlotados".

O Brasil fechou suas fronteiras e os voos internacionais estão suspensos devido à pandemia.

"Não se discute se o Presidente da República pode ou não determinar a expulsão (...) [mas] os efeitos da decisão que ordenou a retirada imediata devem ser suspensos enquanto durar a situação de calamidade pública reconhecida pelo Congresso Nacional", diz a nota.

O decreto de calamidade pública aprovado pelo Congresso em março é válido até 31 de dezembro.

O Brasil está prestes a passar 15 mil mortes pela covid-19 e totaliza mais de 218 mil casos.

Em novembro de 2019, partidários de Guaidó, que nomeou representações diplomáticas paralelas em vários países, invadiram a embaixada da Venezuela em Brasília por 13 horas, mas deixaram as instalações após a mediação do Itamaraty.