Eleições EUA
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As prévias eleitorais do Partido Democrata para definir seu candidato à Presidência para as eleições gerais, em 5 de novembro, serão um processo esvaziado se comparado ao realizado antes do pleito de 2020, quando dez pré-candidatos apresentaram intenção de disputar a Casa Branca pelo partido e tentar desbancar o então presidente Donald Trump. Embora o vencedor daquela disputa, o atual presidente, Joe Biden, seja o favorito a receber a indicação do partido mais uma vez, haverá disputa interna, com outros dois postulantes tentando superar um candidato a reeleição nas prévias — um feito que seria inédito.

Para conquistar o direito de se apresentar mais uma vez como candidato ao eleitorado americano, Biden — que se vencer as eleições gerais, assumirá a Presidência aos 82 anos — terá que superar o deputado Dean Phillips, de Minnesota, e a outsider Marianne Williamson. Além do histórico das eleições passadas e da preferência do staff do partido, Biden tem indícios importantes sobre sua chance de sucesso: de acordo com o rastreador de pesquisas eleitorais do site FiveThirtyEight, que considera a média de consultas recentes e com metodologia revisada, Biden lidera absoluto, com mais de 70% das intenções de voto

Conheça os candidatos Democratas

 — Foto: Arte O GLOBO
— Foto: Arte O GLOBO

JOE BIDEN

O presidente dos EUA, Joe Biden, está diante de uma encruzilhada histórica às vésperas do início das eleições primárias do Partido Democrata. Candidato à reeleição aos 81 anos, o democrata da Pensilvânia pode quebrar o próprio recorde, batido em 2021, e se tornar o presidente mais velho a assumir o cargo, se vencer as eleições gerais em novembro — Biden terá 82 anos em 1º de janeiro de 2025. Por outro lado, o presidente pode ser o primeiro pré-candidato da História a, ocupando o cargo, não conquistar a indicação do partido durante as prévias.

Biden tem, de longe, a carreira política mais extensa entre os candidatos democratas. Ocupou seu primeiro cargo, como conselheiro no condado de New Castle, em Delaware, em 1969, dando início a uma trajetória ascendente. Em 1972, Biden seria eleito senador. Ele permaneceu na Câmara Alta do Legislativo até 2009, tendo ocupado posições de destaque, como as presidências dos comitês Jurídico e de Relações Exteriores da Casa. Quando já era um dos políticos democratas mais conhecidos do país, tendo tentado concorrer à Casa Branca, sem sucesso, foi apontado como vice na chapa de Barack Obama, em 2008. Ao lado do ex-presidente, Biden cumpriria dois mandatos no governo.

O democrata estava afastado dos cargos públicos em 2020, quando retornou à rotina partidária para se lançar como alternativo do partido para enfrentar Donald Trump nas eleições gerais daquele ano. Diante de uma prévia com adversários de peso, como os senadores Bernie Sanders e Elizabeth Warren, Biden superou as desconfianças sobre a sua idade e vitalidade e provou ser capaz de unir diferentes setores do partido e do eleitorado, descontente com os anos turbulentos de Trump, em torno de sua candidatura. A vitória nas eleições gerais veio por uma margem justa, mas suficiente para devolver o poder ao partido.

Com um mandato marcado pela crise institucional mesmo antes de sua nomeação, impulsionada pela negativa do adversário republicano em admitir a derrota e alegar fraude no processo, Biden enfrentou anos difíceis na Presidência, sobretudo para controlar o endividamento do governo, a inflação e o desemprego, no cenário interno (sem contar a oposição trumpista no Legislativo), e grandes crises internacionais, como a Guerra na Ucrânia, a competição crescente com a China e a crise migratória. O presidente chega às vésperas das prévias sem os melhores índices de aprovação e com algumas pesquisas dando a liderança para Trump em caso de reedição da disputa de 2020.

 — Foto: Arte O GLOBO
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DEAN PHILLIPS

Dean Phillips não é nenhum desconhecido nas fileiras do Partido Democrata. Eleito deputado em 2018 pelo Estado de Minnesota, revertendo para os democratas um distrito dominado pelos republicanos desde 1958, o bem-sucedido empresário é avaliado por seus pares como um moderado no Congresso, onde teve poucos desentendimentos com Joe Biden. Apesar disso, resolveu enfrentar o presidente na disputa interna pela indicação do partido.

Phillips já elogiou Biden publicamente, referindo-se a ele como um presidente “de grande competência e sucesso”. No entanto, o deputado argumenta que os eleitores democratas precisam ter uma prévia de verdade, com a oportunidade de escolher entre mais de uma opção (certa vez, disse que o processo não poderia ser “uma coroação”) e questionou a capacidade de Biden de vencer novamente Donald Trump em uma eleição geral. Um dos fatores apontados por Phillips é a idade — ele terá 56 anos em 1º de janeiro de 2024, 26 a menos que Biden.

Antes de virar deputado, Phillips construiu uma reputação como empresário em Minnesota. Após perder o pai biológico na guerra do Vietnã, ele foi acolhido pelo segundo marido de sua mãe, Eddie Phillips. Após se formar na prestigiada Universidade Brown e se envolver com algumas start-ups, o democrata herdou o negócio da família, a Phillips Distilling Company, uma das mais tradicionais produtoras de bebidas dos EUA, e foi CEO da Talenti Gelato, outra grande empresa, vendida a Unilever em 2014.

O multimilionário perdeu espaço no Congresso após apresentar sua candidatura contra a vontade do partido, no ano passado. Anteriormente, ele já havia declarado que não voltaria a disputar o cargo de deputado. Phillips terá sua habilidade política testada durante as prévias. Resta saber se será suficiente para transformar o processo em uma disputa real para Biden.

Marianne Williamson desistiu da candidatura no começo do mês de fevereiro — Foto: Arte/O Globo
Marianne Williamson desistiu da candidatura no começo do mês de fevereiro — Foto: Arte/O Globo

MARIANNE WILLIAMSON

Embora não seja uma desconhecida do Partido Democrata, Marianne Williamson era uma outsider entre duas figuras com representatividade dentro da legenda. Escritora de autoajuda e conhecida por ser uma espécie de conselheira espiritual da apresentadora de televisão Oprah Winfrey, Marianne entrou em sua segunda tentativa de disputar as primárias como “azarão”. Ela desistiu da candidatura após três rodadas das primárias.

A primeira pré-candidatura de Marianne, em 2020, não resistiu sequer ao período entre a apresentação da intenção de concorrer e o começo das prévias. Na oportunidade, a escritora defendia propostas estranhas ao universo político tradicional, como a criação de um Departamento Federal da Paz. Ela também defendeu que o governo oferecesse formas de reparação histórica pela escravidão e classificou o trumpismo como um sintoma de uma doença na “psique” americana, que não poderia ser curada por meio de políticas públicas.

Assim como o adversário Dean Phillips, Marianne fez campanha e compareceu a eventos organizados pelos democratas — embora o processo como um todo esteja sendo esvaziado pelo próprio Joe Biden, que não compareceu à maioria dos eventos anteriores ao início das primárias. Até às vésperas do primeiro caucus, de acordo com o FiveThirtyEight, ela era a segunda colocada na disputa, com pouco mais de 6% das intenções de voto. (Com The New York Times, AFP e Bloomberg)

APURAÇÃO E TEXTOS: Renato Vasconcelos | DESENVOLVIMENTO: Mario Monteiro Martinho | COORDENAÇÃO: Vinicius Machado | EDIÇÃO: Leda Balbino

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