Eleições EUA
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Por — Detroit, EUA

Mais de cem mil votos. Esse foi o mantra repetido na manhã de quarta-feira na Grande Detroit pelos líderes do Listen to Michigan (Ouça Michigan), que comandaram a campanha pelo voto "sem compromisso", de protesto, nas primárias governistas no estado. A coalizão de árabe-americanos, judeus, estudantes e trabalhadores, entre outros, celebrava a primeira comprovação da capacidade de mobilização da base democrata este ano, em processo eleitoral marcado até então pela apatia. Infelizmente para Joe Biden, a militância foi às urnas na terça-feira para protestar contra o apoio da Casa Branca ao premier Benjamin Netanyahu, sob o impacto das quase 30 mil mortes na Faixa de Gaza pelas ações israelenses desde o ataque terrorista do Hamas em outubro.

— O recado foi: não venham mais aqui pedir votos enquanto financiam o assassinato de nossas crianças. Ou passem a defender o cessar-fogo imediato na Faixa de Gaza e parem de bancar as Forças Armadas israelenses, ou não votaremos pela reeleição em novembro — afirmou na terça-feira o porta-voz do Listen to Michigan, Abbas Alawieh.

Estrategista político de mão cheia, Alawieh, 32 anos, foi um dos arquitetos da onda de votos da comunidade árabe-americana que levou ao Capitólio a primeira deputada federal de origem palestina nos Estados Unidos, Rashida Tlaib, e ajudou decisivamente Biden em sua vitória sobre o ex-presidente Donald Trump no Michigan em 2020, por 154 mil votos. Na terça-feira, sem candidato real de oposição (a anticanditatura do deputado Dean Phillips não teve nem 3% dos votos), o presidente recebeu 81% dos sufrágios, mais de 600 mil votos, contra 13% dos "sem compromisso". Mas números enganam.

Há quatro anos, os "sem compromisso", sem campanha, foram cinco vezes menores. E Biden sabe que 100 mil votos a menos podem fazer a diferença em um estado que Trump venceu abrindo frente de apenas 11 mil votos, sobre a ex-secretária de Estado Hillary Clinton, em 2016. Sem os 15 votos do estado no colégio eleitoral, o caminho para seguir em Washington, lembrou ontem o ex-deputado democrata Andy Levin, importante líder da comunidade judaica no Michigan, fica impossível.

— O resultado das prévias foi histórico. Não há como Biden se reeleger sem o Michigan. Vamos seguir a mobilização em outros estados. Espero que a campanha de reeleição tenha entendido a mensagem das urnas nesta terça-feira – afirmou, no QG da campanha.

Logo após a confirmação dos resultados, o presidente mandou mensagem de agradecimento aos democratas, sem mencionar Gaza. Ontem, no entanto, a Casa Branca soltou nota afirmando que "o presidente tem a mesmas preocupações dos eleitores 'sem compromisso' do Michigan" e que "quer conquistar o apoio deles".

Coordenadores da campanha à reeleição, como a governadora do Michigan, Gretchen Whitmer, enfatizaram que Biden segue focado em resolver a "crise humanitária" em Gaza e de seguir negociando um cessar-fogo, que pode, segundo a Casa Branca, ser anunciado até segunda-feira. Ela frisou que nada impede os eleitores que votaram "sem compromisso" cravarem Biden em novembro, inclusive para derrotar Trump.

Os caciques democratas lembram que no primeiro mês de seu governo o republicano baixou ordem executiva que suspendeu a entrada de refugiados sírios e impediu a entrada no país de cidadãos de países com população majoritariamente de fé muçulmana, entre eles Irã, Líbia, Somália, Sudão, Síria, Iêmen e Iraque. A ordem, popularizada como "Veto aos muçulmanos", foi revogada por Biden em um de seus primeiros atos de governo, em janeiro de 2021.

Mas não vai ser fácil convencer eleitores que se sentem traídos, dizem os líderes da Listen to Michigan. Em Dearborn, com todos os votos contados, 56% foram "sem compromisso". Em Ann Arbor, centro universitário importante para a coalizão democrata, 25%.

Movimento em expansão

Ontem, em meio à celebração pelos mais de 100 mil votos, anunciou-se a expansão do movimento para outros estados, entre eles Wisconsin e Minnesota, com prévias, respectivamente, semana que vem e em abril, e Pensilvânia, com grande população árabe. E a presença na Convenção Democrata, que acontecerá em julho, em Chicago. Pelas regras do estado, os "sem compromisso" também ganharam delegados. Se não houver uma virada radical de direção da política externa da Casa Branca, garantem, farão barulho no evento.

A convocação para a Convenção Democrata, na mesma Chicago que em 1968 viu os pacifistas contrários à Guerra do Vietnã protestarem por sete dias seguidos durante o evento que homologou o então vice-presidente Huber Humprey para a sucessão de Lyndon Johnson já causa calafrios entre alguns democratas.

Naquele pleito, os republicanos tiveram vitória decisiva nas urnas, com Richard Nixon traduzindo as imagens de Chicago como as do "partido do caos". Mais de meio século depois, soldados americanos não estão na Faixa de Gaza, mas o apoio a Netanyahu sangra Biden à medida em que aumenta o número de mortos no enclave e que os manifestantes do Listen to Michigan denunciam o que acreditam ser sua "cumplicidade com o genocídio de palestinos".

Biden ainda teve outra dor de cabeça na noite de terça-feira: um dos grupos que financia a candidatura de Robert Kennedy Jr., independente, à Presidência, anunciou ter reunido o número necessário de assinaturas para incluí-lo na cédula em dois outros estados decisivos: Geórgia e Arizona. As pesquisas mostram que, no momento, ele tira mais votos de Biden do que de Trump. Em 2020, Biden venceu na Geórgia com uma vantagem de apenas 0,2%. No Arizona, de 0,3%.

Hoje, o presidente e seu provável adversário em novembro, que venceu com folga as primárias republicanas no Michigan, com 68%, estarão em cidades diferentes do Texas, na fronteira com o México. O aumento da entrada no país de estrangeiros não-documentados, com reflexo não só nos estados do sudoeste, mas também nas grandes cidades do país, se tornou um dos temas centrais da corrida eleitoral.

Em Brownsville, perto do Golfo do México, Biden castigará os republicanos por se recusarem a aprovar no Congresso sua proposta de endurecimento das leis de imigração. Quinhentos e vinte quilômetros deserto acima, em Eagle Pass, Trump deve novamente ligar a imigração ilegal ao aumento do caso de overdoses por opióides no país. O ex-presidente afirmou, durante a campanha, que os imigrantes estão "envenenando o sangue" dos americanos. Pesquisas mostram que a imigração é um calcanhar de Aquiles ainda maior do que Gaza para Biden na busca da reeleição.

* Enviado especial

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