Para quem estava procurando provas da transformação do Partido Republicano desde a eleição de Donald Trump em 2016, vale a pena olhar os nomes de quem não está participando da Convenção Nacional Republicana em Milwaukee. Os homens e mulheres que já foram as faces do comando da sigla — incluindo um ex-presidente, dois ex-vices e o mais recente candidato à Presidência que não se chamava Trump — não foram ao Wisconsin, uma prova das mudanças em relação ao tempo em que era chamada de “O Partido de Ronald Reagan (1981-1989)”.
As ausências não surpreendem, mas ressaltam uma metamorfose que está evidente há pelo menos cinco anos, se não há mais tempo. Mas por conta da natureza restrita da convenção de 2020, realizada em meio à pandemia da Covid-19, essa reunião será a primeira a tornar visíveis os sinais de que esse é agora, de fato, o Partido de Trump.
— É um divisor de águas, que mostra a extensão do domínio de Trump, que culminou com a plataforma, que é completamente feita de acordo com o que quer Trump — disse Newt Gingrich, ex-presidente da Câmara e apoiador do ex-presidente.
George W. Bush (2001-2009), ex-presidente, não planeja ir.
— Ele está fora desse jogo há muito tempo — disse Freddy Ford, porta-voz de Bush, hoje com 78 anos, a mesma idade de Trump. — Ele não participa de nenhuma convenção desde que era candidato.
Tampouco estará no Wisconsin Dan Quayle, vice-presidente do pai de Bush, George H.W. Bush (1989-1993), que morreu em 2018. Dick Cheney, vice do “Bush filho”, tampouco estará na plateia, assim como sua filha, Liz Cheney, ex-deputada e uma das maiores críticas de Trump entre os republicanos.
Nem o vice de Trump, Mike Pence, ex-governador de Indiana que sinalizou desafiar o presidente no ano passado, irá ao evento, após perder espaço no partido diante de suas críticas a Trump, e diante dos ataques sofridos por se recusar a cumprir as ordens do republicano para reverter sua derrota para Biden em 2020.
Mitt Romney, candidato da sigla em 2012 e hoje senador por Utah (e que votou a favor do impeachment de Trump nos dois processos no Senado), não planeja ir. John McCain, candidato em 2008, morreu em 2018.
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Paul Ryan, vice na chapa de Romney e ex-presidente da Câmara, será outra ausência, apesar da convenção ocorrer em seu estado. Kevin McCarthy, que assim como Ryan foi derrubado pela ala mais conservadora do partido no Congresso, disse que irá a Milwaukee, assim como Gingrich. John Boehner, que comandou a Câmara entre 2011 e 2015, não respondeu sobre seus planos.
A antiga cúpula do Partido Republicano foi um alvo recorrente de Trump ao longo dos últimos anos ano, e parece coerente que muitos não estejam ansiosos para comparecer à convenção:
— Eles se sentiriam desconfortáveis — disse Gingrich. — Eles não querem vir aqui e fingir que estão torcendo por alguém que desprezam.
Na segunda-feira, uma imagem do líder republicano no Senado e crítico recorrente de Trump, Mitch McConnell, foi vaiada pelos delegados ao ser projetada em um telão quando ele chegava ao local.
— Diz muito sobre o quanto o mundo mudou — disse Gingrich, que fará um discurso na convenção. — Mas não importa: eles não têm mais poder neste partido.