A vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, prometeu nesta segunda-feira fazer da luta pelo direito ao aborto no país uma parte central de sua campanha presidencial contra o republicano e ex-presidente Donald Trump. Pré-candidata do Partido Democrata, Kamala busca a nomeação após a desistência do presidente Joe Biden, no domingo, que sofreu intensa pressão de correligionários para que abrisse caminho para outro candidato.
— O governo não deveria dizer a uma mulher o que fazer com seu corpo. Lutaremos pela liberdade reprodutiva, sabendo que, se Trump tiver a oportunidade, ele assinará uma lei que proíbe o aborto em todos os estados — disse ela em seu primeiro discurso de campanha, em Delaware.
A questão do aborto nos Estados Unidos é um assunto que pode alavancar a campanha de Kamala contra Trump. A questão alimentou uma onda de vitórias democratas nos últimos anos e ajudou a vice-presidente a recuperar sua posição política após um início instável de seu mandato.
Após a decisão de 2022 que anulou o direito constitucional ao aborto, Roe v. Wade, Kamala foi mais ativa que o próprio Biden, viajando pelo país e defendendo energicamente o direito das pessoas que engravidam de decidirem sobre seus próprios corpos. Somente neste ano, ela se tornou a autoridade federal de mais alto escalão a visitar uma clínica de aborto, chamando as restrições em estados republicanos como "proibições de aborto de Trump".
No discurso, Kamala também aproveitou a oportunidade para atacar Trump e prometeu fazer sua campanha sobre "duas visões diferentes para o futuro do nosso país".
— Donald Trump quer levar nosso país para trás — ela disse. — Mas acreditamos em um futuro mais brilhante que abre espaço para todos os americanos.
Ela, que já foi promotora e ex-procuradora-geral, também destacou as pendências de Trump na Justiça, um movimento que deve ser central em sua campanha contra o republicano caso seja a nomeada do partido.
— Enfrentei criminosos de todos os tipos: predadores que abusaram de mulheres, fraudadores que enganaram consumidores, trapaceiros que quebraram as regras para seu próprio benefício. Então, ouçam-me quando digo: eu conheço o tipo de Donald Trump — disse Kamala.
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Biden, parecendo rouco e cansado enquanto se recupera da Covid, ligou para o evento por telefone. Ele disse aos trabalhadores da campanha que costumavam trabalhar para ele que "ainda estamos lutando juntos nessa luta. Não vou a lugar nenhum."
— Todos os dias, nosso presidente, Joe Biden, luta pelo povo americano, e somos profundamente, profundamente gratos por seu serviço à nossa nação — disse Kamala.
Caminho pela frente
A decisão de Biden, que pôs Kamala sob os holofotes, veio uma semana depois de um atentado ser visto como um fator favorável à candidatura do rival Trump, em meio à pressão crescente no Partido Democrata para que abandonasse a campanha após seu desempenho desastroso em um debate com o republicano. Além disso, uma série de gafes que deixaram dúvidas sobre a capacidade física e mental do presidente americano, de 81 anos, de dirigir o país por mais quatro anos.
Biden deixou claro que quer passar o cargo para Kamala. "Minha primeira decisão como candidato do partido em 2020 foi escolher Kamala Harris como minha vice-presidente. E foi a melhor decisão que tomei. Hoje quero oferecer todo o meu apoio e endosso para que Kamala seja a indicada do nosso partido este ano. Democratas — é hora de nos unirmos e derrotar Trump. Vamos fazer isso", escreveu Biden no X, minutos depois de anunciar sua desistência. Kamala, por sua vez, disse estar "honrada" por receber o suporte do mandatário. Ela afirmou que pretende "merecer e conquistar" a indicação do Partido Democrata.
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Mas, apesar das doações milionárias e amplo endosso de democratas, Kamala ainda não é a candidata oficial do partido, que só será sacramentado na convenção da legenda, marcada para em agosto, em Chicago, no estado de Illinois. A vice-presidente é apontada como favorita, mas os delegados que representam filiados nos estados podem escolher outra pessoa.
Há ainda a possibilidade de a ex-senadora pela Califórnia ser desafiada por correligionários uma convenção aberta, caso não consiga os votos necessários para garantir a indicação do partido na primeira rodada de votações. E não faltam nomes, embora nenhum com potencial eleitoral suficientemente claro para derrotar Trump. Entre os mais cotados, estão governadores democratas como Gavin Newsom, da Califórnia; Gretchen Whitmer, de Michigan; J.B. Pritzker, de IIIinois.