Durante 27 minutos a vice-presidente Kamala Harris finalmente deu sua primeira entrevista, pouco mais de um mês após ser lançada, pelo presidente Joe Biden, candidata democrata à Presidência dos Estados Unidos. Não escorregou em cascas de banana — o tom da conversa foi amigável —, mas também não conseguiu avançar no que mais importa a dois meses e meio das eleições: atrair indecisos e moderados para sua coalizão. Foi pouco além de afirmar que considera indicar um republicano para seu eventual Ministério.
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Kamala defendeu o governo Biden, que classificou como "transformador", e não tentou se distanciar do presidente impopular que teve de abortar sua reeleição após desempenho desastroso no debate com Donald Trump na mesma CNN, com a mesma Dana Bash, que entrevistou nesta quinta-feira a vice-presidente.
Os republicanos vinham batendo na tecla de que a vice desrespeitava os cidadãos americanos ao não enfrentar os questionamentos da imprensa profissional após se tornar candidata. Chamaram-na de "medrosa" quando ela anunciou que falaria na CNN, mas ao lado de Tim Walz, o vice da vice. O desempenho do governador de Minnesota não foi dos melhores, mais atrapalhando do que ajudando Kamala.
Perguntado sobre as informações incorretas que deu sobre seu período militar e os métodos usados por ele e sua mulher para conseguirem ter sua filha, Hope ('"Esperança"), tergiversou. Suas evasivas foram "não me desculpo por tratar apaixonadamente de violência e posse de armas" e "mais importante do que o método exato que usamos no processo é o fato de o outro lado estar numa cruzada contra os direitos das mulheres". O professor também culpou a língua inglesa: "Minha gramática não é sempre perfeita."
De volta a Kamala, a maneira como a vice-presidente encarou as duas maiores pedras no sapato da campanha dá uma pista de como ela as enfrentará no debate com Trump, em 10 de setembro. Sobre imigração, afirmou que o ex-presidente foi quem impediu o avanço da legislação bipartidária sobre o tema, para uso político durante a campanha. E que ela é quem tem experiência real, como promotora e procuradora-geral por dois mandatos na Califórnia, no combate a crimes nas fronteiras. Sobre o aumento do custo de vida, voltou a defender sua "economia de oportunidade" e o foco na classe média, mas sem mais detalhes.
Marcou um tento ao seguir a estratégia oposta à da campanha de Biden em 2020 em relação ao adversário. Se o atual presidente aumentou na época a dimensão (e o perigo para a democracia) daquele que apresentava como vilão para convencer os eleitores a tirar Trump da Casa Branca, Kamala, nos poucos momentos da entrevista que o mencionou, fez questão de diminuir o caráter e as motivações do republicano. Ao ser perguntada pela entrevistadora sobre como reagiu aos ataques racistas de Trump, ela deu de ombros ("É a velha tática, o velho jogo, ultrapassado"). Não causou espanto a reação irritada do ex-presidente, em sua rede social, sobre a primeira entrevista da chapa democrata: "BORING (CHATA)", em letras garrafais.