Eleições EUA
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Por — São Paulo

RESUMO

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GERADO EM: 03/09/2024 - 04:31

Análise: Kamala Harris pode vencer Trump nas eleições dos EUA

Clifford Young, presidente da Ipsos nos EUA, destaca a eficiência da campanha de Kamala Harris sobre Donald Trump, prevendo sua vitória no Colégio Eleitoral e no voto popular. A comparação com Lula e Bolsonaro é feita, apontando a mobilidade social como diferencial. O debate entre Kamala e Trump é visto como crucial, com foco na economia e empatia com eleitores. A análise destaca a importância dos temas inflação, imigração e aborto. A competição acirrada em estados-pêndulo é ressaltada, com Kamala ganhando terreno em regiões antes favoráveis a Trump. O especialista destaca a incerteza do cenário eleitoral e a necessidade de observar a apuração nos estados-chave. A conclusão ressalta que, apesar da vantagem atual de Kamala, muitos acontecimentos ainda podem influenciar o resultado final.

Presidente da Ipsos nos Estados Unidos, Clifford Young vê a campanha de Kamala Harris mais eficiente do que a de Donald Trump na busca dos eleitores indecisos, cruciais na decisão de quem comandará a maior potência do planeta a partir de janeiro. E que, se o pleito fosse hoje, a democrata venceria no Colégio Eleitoral e no voto popular. “Mas 3/9 não interessa e sim 5/11”, pondera.

Em conversa por chamada de vídeo, o especialista em eleições americanas vê no primeiro debate entre a democrata e o republicano, que acontece em exatos sete dias, a possibilidade de Kamala consolidar seu crescimento nas pesquisas, “com mapa eleitoral mais amplo”, ou o retorno a quadro mais parecido com o duelo de Trump com Biden, com a decisão nos três estados decisivos da Muralha Azul — Pensilvânia, Michigan e Wisconsin.

– No debate, Kamala, para vencer, terá de aguentar firme os ataques e provocações de Trump e deixar claro que tem empatia pelos que vêm sofrendo com a inflação mais alta. E Trump precisa de foco, falar de seus planos para a economia e mostrar que a vice faz parte do mesmo governo Biden. Ele tem sido ineficaz em passar mensagem óbvia — diz Young, que aponta o despreparo no flanco republicano e o efeito emocional do atentado contra a vida do ex-presidente como prováveis razões para a “ineficácia da retórica de Trump” desde a confirmação da mudança na cabeça de chapa democrata.

Clifford Young também faz comparação curiosa da corrida pela Casa Branca com a disputa entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-presidente Jair Bolsonaro:

— Como Lula no segundo turno, Kamala consegue neste momento mostrar para o eleitor como conseguirá aumentar sua mobilidade social. E Trump não tem feito com mesmo êxito a réplica de que ela já estava no governo nos últimos quatro anos.

O executivo está na capital paulista, onde veio apresentar duas palestras, uma no último fim de semana, no festival Expert XP, e outra nesta terça-feira, a partir das 14h, na sede da Ipsos, em Pinheiros. Os principais trechos da conversa com O GLOBO, por chamada de vídeo, seguem abaixo:

O que Kamala precisa fazer para vencer o debate da próxima terça-feira, dia 10?

Ela tem duas tarefas básicas. A primeira, se mostrar presidencial. Que consegue aguentar os ataques e provocações de Trump. O arroz com feijão da líder de fato. Em segundo lugar, precisa enfrentar a questão da inflação de forma direta, pelo menos deixar claro que tem empatia pelo que os eleitores estão sofrendo. Este é hoje o principal problema dos americanos e o tema que deu mais dor de cabeça ao presidente Joe Biden. A inflação era uma das âncoras que mais jogavam os números dele para baixo.

E o senhor avalia que, até o momento, nos comícios, no rascunho de plano batizado de “economia de oportunidade” e na entrevista à CNN, Kamala está se saindo melhor do que Biden em economia?

Ela está na direção certa para conquistar os eleitores indecisos. O que ela apresentou já foi muito mais eficaz do que a retórica e ações de Biden. O desempenho da campanha dela tem sido melhor do que a de Trump em quase tudo. Agora ela precisa enfatizar e detalhar ainda mais seus planos para a economia.

E para Trump, qual a melhor estratégia para o debate?

Ele precisa de foco. Precisa se concentrar nos problemas do país. Tem vantagem, por exemplo, em economia, em todas as pesquisas, os americanos confiam mais nele quando pensam com o bolso, e Trump poderia estar falando de economia, depois de economia, e quando cansasse, mais uma vez de economia. Mas ele não tem feito isso, ao contrário. Penso nas eleições presidenciais do Brasil em 2022, no segundo turno. A campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi muito mais enfática e eficiente do que a do ex-presidente Jair Bolsonaro em mostrar ao eleitor como seu governo afetaria diretamente sua mobilidade social. É o que Kamala está fazendo neste momento.

A comparação é muito interessante, só que quem tinha a caneta do governo na mão no Brasil era Bolsonaro. Nos EUA, a chapa governista é a democrata. Kamala se apresenta como a novidade, ajudada pelo fato de seu adversário ter passado quatro anos na Casa Branca, mas não seria fácil para Trump defini-la como apenas uma outra face do mesmo governo Biden?

Esse é o ponto crucial desta disputa até o momento. Kamala está na frente das pesquisas por conta da energia do novo, suas vibrações são as melhores possíveis. Mas Trump segue à frente nos fundamentos da eleição, especialmente na confiança sobre a gestão da economia, com a inflação mais baixa durante seus anos na Casa Branca. A aprovação do governo Biden-Kamala é baixa, em torno de 40%. Ou seja: Trump deveria estar sensivelmente à frente nas pesquisas. Deveria falar sem parar o tempo todo, repito, da inflação Biden-Kamala. E mostrar que o governo é ela. Mas não tem feito isso.

E por que a campanha republicana não consegue apresentar uma retórica eficaz contra Kamala?

É uma resposta difícil, mas não se pode subestimar o efeito emocional do atentado contra a vida do ex-presidente no comício na Pensilvânia pouco antes da Convenção Nacional Republicana. Ele parece ter ficado mais ensimesmado desde então. E foi complexo para ele essa mudança radical do roteiro. Ele e a campanha não acreditavam de fato na mudança de candidatos e se prepararam para enfrentar Biden. Tiveram uma enorme dificuldade para se adaptar à nova realidade. Faltou agilidade.

Além da inflação, os dois outros temas centrais para os eleitores nos sete estados-pêndulo, que aparecem em pesquisas como a da Universidade Siena, para o New York Times, são imigração e direito ao aborto. É o que os seus números mostram também?

Os nossos mostram inflação à frente e em seguida a proteção à democracia e depois, perto, a imigração. Aborto aparece com muito mais destaque em estados que irão votar sobre o tema, como é o caso de dois decisivos este ano, Nevada e Arizona. Quando está na cédula tem um peso diferente, mobiliza o voto. De qualquer modo, a discussão em torno do direito ao aborto tal qual está sendo feita vem reforçando a credibilidade, a seriedade de Kamala Harris. E o vaivém de Trump, suas falas truncadas sobre o tema, o tem prejudicado muito, criado ruídos. Nas margens, tirando os dois estados mencionados, o direito ao aborto pode ter um efeito nacional, e, como a disputa é muito apertada, ajudar a definir o vitorioso.

Nevada e Arizona são estados do Cinturão do Sol que, pelas pesquisas, quando Trump enfrentava Biden, sequer estavam em jogo, com vantagem clara para o republicano. Mas Kamala agora é competitiva em Geórgia, Carolina do Norte, Arizona e Nevada. Há mesmo um outro caminho para os democratas além da Muralha Azul de Wisconsin, Michigan e Pensilvânia?

As pesquisas, hoje, mostram que Kamala abriu mesmo o mapa. O que não sabemos ainda, precisamos esperar até o fim desta semana, ou melhor, até o pós-debate, se esta foi uma empolgação momentânea ou se é algo real. É o dilema entre vibração e solidificação da intenção de voto. Se essa fosse uma eleição normal, arriscaria a dizer que os números da democrata iriam murchar e que os democratas deveriam centrar-se na Muralha Azul. Mas essa não é, em quase nada, uma eleição ordinária.

E em quais destes sete estados decisivos devemos prestar mais atenção quando o voto começar a ser apurado?

Na Pensilvânia, especialmente nos votos ao norte da Filadélfia, e na Geórgia, nos entornos das maiores áreas urbanas. Serão os dois primeiros indicativos de para onde a noite vai. É o voto do subúrbio. Mas também a Flórida, especificamente a área da Baía de Tampa e de São Petersburgo. Trump é favorito no estado, mas a questão é que margem conseguirá abrir lá. Se os democratas tiveram nessa área da Flórida mais votos do que o esperado, é senha para uma ótima noite deles quando as urnas se fecharem nos outros estados do Cinturão do Sol. Já se não conseguirem levar gente para os locais de votação, será o oposto. E o resultado, lá, sairá cedo.

Se as eleições fossem hoje, quem venceria no Colégio Eleitoral e no voto popular?

Kamala e Kamala. Mas 3/9 não interessa, e sim 5/11. Até lá, muita coisa ainda pode acontecer.

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