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Em entrevista, papa Francisco recorda infância na Argentina e pede que crianças e pobres sejam lembrados neste Natal

Pontífice disse que 'chora e sente raiva' ao ouvir histórias de menores e adultos explorados
Papa Francisco relembra infância na Argentina e pede que crianças e pobres sejam lembrados neste Natal Foto: FILIPPO MONTEFORTE / AFP
Papa Francisco relembra infância na Argentina e pede que crianças e pobres sejam lembrados neste Natal Foto: FILIPPO MONTEFORTE / AFP

VATICANO —  O capeletti da avó na mesa e a casa cheia, era assim o Natal do papa Francisco na Argentina. Em entrevista publicada nesta sexta-feira no jornal italiano "la Repubblica" o pontífice relembrou alguns momentos da infância e pediu que crianças e pobres sejam lembrados na data festiva deste ano. Francisco, que acaba de completar 85 anos, também comentou sobre sua saúde, meses após passar por cirurgia no intestino.

— Em Buenos Aires e em nossa família não havia o costume naquela época de festejar a véspera de Natal como hoje. Comemorávamos 25 da manhã, sempre com os avós. Lembro-me de uma coisa curiosa: minha avó fazia capeletti à mão. Uma vez, vimos que ela tinha feito 400! Ficamos maravilhados! A família toda estava lá: tios e primos também — lembrou.

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O argentino lembrou ainda que, quando criança, brincava muito em uma praça próxima de casa. No futebol, não era bom de bola, mas se virava como goleiro. Também recordou das leituras de livros que o pai fazia para ele e os quatro irmãos.

— Ainda não tínhamos televisão em casa. Várias vezes , depois do jantar, papai lia volumes para nós em voz alta. Lembro-me muito bem que ele leu para nós todo o "Coração", de Edmondo De Amicis, e ainda hoje me lembro da história, que tanto me impressionou na época.

Francisco disse que neste Natal, como sempre faz, pensará nos pobres. Ele contou que chora ao ouvir histórias e crianças e adultos explorados.

— Penso em todos os esquecidos, os abandonados, os últimos, e em particular as crianças abusadas e escravizadas. Fico chorando e sinto com raiva ao ouvir histórias de crianças e adultos vulneráveis sendo explorados. E então, penso nas crianças doentes que vão passar o Natal no hospital, não há palavras, só podemos nos apegar à fé, a Deus — ressaltou.

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'Não sou mais criança, mas estou bem'

Cinco meses após ser hospitalizado para realizar uma cirurgia de retirada de parte do cólon, Francisco contou que se sente recuperado e planeja viagens em 2022.

— Graças a Deus estou bem. Ainda estou mancando um pouco porque a cicatriz da operação está sarando. Não sou mais criança, mas estou bem. Depois da cirurgia de julho já fiz duas viagens apostólicas internacionais e farei outras viagens, se o Senhor quiser , em 2022 — disse, acrescentando: — Nada mudou no meu dia: sempre me levanto às 4 da manhã e começo logo a rezar. E depois prossigo com os vários compromissos. Só me permito uma breve sesta depois do almoço.

Questionado sobre a pandemia de Covid-19, o argentino disse que espera que os países mais ricos não deixem de apoiar as nações mais pobres para combater a doença.

— Só a fraternidade universal verdadeira e concreta nos salvará e nos permitirá viver melhor. Isto significa, porém, que a comunidade internacional, a Igreja, as instituições, os responsáveis políticos e sociais e também todos os cidadãos, especialmente nos países mais ricos, não podem nem devem esquecer as regiões e os povos mais frágeis. Espero que o Natal aqueça o coração de quem sofre e abra e fortaleça o nosso para o desejo de ajudar mais quem precisa — destacou.