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Embaixador dos EUA diz que desvio de equipamentos médicos pelos EUA é notícia 'completamente falsa'

Todd Chapman confirmou que governo americano estuda suspensão de voos do Brasil para seu país e afirma que não será apenas um embaixador de elite e recepções
Apresentação da carta credencial do novo embaixador dos EUA, Todd Chapman ao presidente Jair Bolsonaro. Foto: Alan Santos / Agência O Globo / 6-4-2020
Apresentação da carta credencial do novo embaixador dos EUA, Todd Chapman ao presidente Jair Bolsonaro. Foto: Alan Santos / Agência O Globo / 6-4-2020

BRASÍLIA — Em sua primeira entrevista desde que chegou ao Brasil há pouco mais de uma semana , o embaixador dos Estados Unidos, Todd Chapman , negou veementemente que tenha ocorrido retenção ou desvio , pelos EUA, de materiais encomendados da China para a prevenção e o combate à pandemia de coronavírus . Ele deu a entender que o que tem ocorrido pode ser especulação entre empresas no mercado internacional.

— Quero deixar claro que o governo dos EUA não comprou ou bloqueou nenhum material destinado ao Brasil. São informações completamente falsas. O que está passando é que muitos fornecedores querem vender para lá e depois para cá. Isso pode estar ocorrendo em todo o mundo — disse o diplomata americano.

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Ele acrescentou que a legislação de seu país proíbe aumentos abusivos: por exemplo, comprar uma máscara a US$ 5 e depois cobrar US$ 15 pelo mesmo produto durante uma emergência de saúde. Porém, essa fiscalização só se aplica ao mercado interno dos EUA.

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Na semana passada, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, disse que uma enorme compra realizada pelos EUA na China derrubou encomendas feitas pelo Brasil ao país asiático. Além disso, um grupo de governadores do Nordeste afirmou que havia comprado 600 aparelhos respiradores chineses , que seriam distribuídos na região, mas a carga foi retida no aeroporto de Miami.

— Não estamos bloqueando esses materiais, e não vou criar um debate virtual com os governadores. A informação que temos é que isso não está se passando — afirmou o embaixador.

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Chapman  confirmou que o governo de seu país está analisando a suspensão de voos do Brasil para os EUA, reforçando o que disse o presidente Donald Trump recentemente. Ele ponderou que ainda não existe uma decisão a respeito e lembrou que vivem no Brasil cerca de 260 mil americanos.

— Há 16 voos semanais entre EUA e Brasil, com muitos brasileiros e americanos que precisam viajar.  Mas é importante proteger os EUA, assim como é importante para o governo brasileiro proteger seu país — afirmou.

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Chapman apresentou, na segunda-feira, as credenciais ao presidente Jair Bolsonaro. Na semana passada, reuniu-se, em encontros separados, com Mandetta e o chanceler Ernesto Araújo. Disse ter reforçado a disposição dos EUA em cooperar com o Brasil na execução de ações que reduzam a propagação do coronavírus.

De acordo com o embaixador, o Brasil tem um canal aberto com os EUA com informações sobre tudo o que tem sido feito em termos de estudos e descobertas de tecnologias. Destacou que as empresas americanas instaladas em território brasileiro de diversos setores, como o automotivo e o farmacêutico, também estão ajudando na fabricação de equipamentos de proteção individual e de respiradores.

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Ele acrescentou que o Federal Reserve (Banco Central americano) anunciou, recentemente, uma linha de swap (em que são aceitas outras moedas como garantia em troca de dólares)  de US$ 60 bilhões para o Brasil. O objetivo foi tranquilizar os mercados financeiros.

— Estou aqui para trabalhar. Não serei embaixador de elite e recepções. Quero realmente arregaçar as mangas, estar com o povo e com os ministros, trabalhando para o bem do Brasil e dos EUA. Quando nossos amigos são mais fortes, prósperos e seguros, os EUA também são — ressaltou.

Perguntado sobre o que pensa de a China estar desenvolvendo uma espécie de "diplomacia de máscaras", fornecendo materiais para combater a Covid-19 para ganhar influência política no mundo, Todd Chapman afirmou:

— Não vejo assim. Este é o momento de todos nós trabalharmos em conjunto. O importante, agora, é controlar e extinguir o fogo.

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Outra pergunta delicada envolvendo a China foi o fornecimento da tecnologia da Huawei, após o leilão de 5G que acontecerá no Brasil. Os EUA nunca esconderam que preferem que o governo brasileiro não abra o mercado para a companhia chinesa.

— Respeitamos a liberdade de expressão, religião, economia aberta e setor privado, enquanto muitos países autoritários, comunistas, de ditaduras, não praticam esses mesmos princípios. Não significa que não podemos ter uma relação construtiva, mas é preciso reciprocidade nas relações comerciais.

Ele comparou essa questão a um jogo de futebol. Se as regras usadas forem do futebol americano, em que se pode agarrar a bola com as mãos, por exemplo, o time que estiver jogando o futebol brasileiro vai perder.

— Não é justo, porque estaremos jogando com regras diferentes.

Todd Chapman mencionou as prioridades dos EUA para o Brasil: economia (comércio e investimentos), segurança e temas globais, como democracia e liberdade de expressão e religiosa.