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Entenda como a Rússia estreitou os laços com as regiões pró-Moscou no Leste da Ucrânia

Distribuição de vacinas, aceleração na emissão passaportes russos a cidadãos e campanha eleitoral fazem parte da estratégia de Moscou
Soldados da Ucrânia patrulham cidade de Novoluhanske, no Leste do país Foto: ARIS MESSINIS / AFP
Soldados da Ucrânia patrulham cidade de Novoluhanske, no Leste do país Foto: ARIS MESSINIS / AFP

A Rússia cultivou laços estreitos com separatistas que controlam partes da região de Donbass, no leste da Ucrânia, mas nega fazer parte do conflito que, desde 2014, envolve as forças do governo ucraniano. Nos últimos anos, no entanto, as duas áreas controladas pelos rebeldes , a autoproclamada República Popular de Donetsk e a República Popular de Luhansk, aproximaram-se da Rússia.

Entenda como isso aconteceu:

Passaportes russos

A Rússia emitiu mais de 600 mil passaportes russos para residentes de Donbass desde que o presidente Vladimir Putin assinou uma ordem, em abril de 2019, permitindo que solicitassem a cidadania em um processo que foi acelerado. À época, a União Europeia disse que a medida era um ataque à soberania ucraniana. O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky , pediu mais sanções contra Moscou e descreveu a iniciativa como um primeiro passo para a anexação da região.

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Vacinas

Autoridades locais em Donetsk revelaram, no começo deste ano, que a Rússia começou a distribuir sua vacina, a Sputnik, apesar da proibição de Kiev. A Ucrânia, que proíbe o uso do imunizante russo, disse à época que aguardava um carregamento de vacinas fabricadas no Ocidente.

O Fundo Russo de Investimento Direto (RDIF), que comercializa a vacina no exterior, nega a distribuição a regiões separatistas.

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Ajuda financeira

Em 2016, um ex-alto funcionário da República Popular de Donetsk revelou à Reuters que a Rússia financiava diretamente pensões e salários do setor público nas duas regiões separatistas do Leste da Ucrânia — após o início da guerra, Kiev parou de pagar os salários a pessoas registradas em áreas controladas pelos separatistas. Moscou nega.

Moeda e ensino

Ambas as regiões separatistas abandonaram a moeda ucraniana, a hryvnia, e adotaram o rublo russo como moeda oficial. As escolas também seguem o currículo nacional russo.

No ano passado, a República Popular de Donetsk comemorou o Dia da Rússia, celebrado em 12 de junho.

Campanha

O Rússia Unida, partido no poder, fez campanha nos territórios controlado por separatistas apoiados por Moscou antes das eleições parlamentares de setembro. Kiev considera a iniciativa uma forma de "russificação", mas Moscou defende que pessoas com dupla nacionalidade podem participar da eleição russa. O eleitorado russo em Donbass apoia esmagadoramente o partido no poder.

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Decretos comerciais

Putin ordenou, no ano passado, que o governo suspendesse as restrições às exportações e importações de mercadorias entre a Rússia e partes das regiões de Donetsk e Luhansk. Segundo as autoridades russas, a medida foi projetada para compensar o bloqueio econômico entre as regiões e o resto da Ucrânia.

O Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia condenou o decreto, que representaria "uma interferência grosseira nos assuntos internos da Ucrânia".

As autoproclamadas repúblicas Donetsk e Luhansk são dois enclaves separatistas que ficam no Leste da Ucrânia. Na sexta-feira, as duas províncias anunciaram planos de retirar 700 mil pessoas em direção à Rússia – com prioridade para mulheres, crianças e idosos –, após acusarem o governo da Ucrânia de preparar uma invasão, algo que Kiev nega.

Denis Pushilin, chefe da autoproclamada República Popular de Donetsk, disse que assinou o decreto da mobilização, convocando homens "capazes de empunhar uma arma" a se dirigir a quartéis militares. Leonid Pasechnik, chefe da República Popular de Luhansk, assinou um decreto similar posteriormente.

Conflitos entre separatistas pró-Moscou e o Exército ucraniano se agravaram no sábado pelo quarto dia consecutivo, com os Estados Unidos e a Rússia se acusando mutuamente de estimular violações do cessar-fogo no Leste da Ucrânia como pretexto para um conflito aberto.

O aumento da tensão no Leste da Ucrânia ocorreu enquanto o presidente da Rússia, Vladimir Putin, supervisionou neste sábado exercícios militares de mísseis estratégicos com capacidade nuclear, em meio a alertas dos EUA de que os soldados russos concentrados na fronteira com a Ucrânia estão "prontos para atacar".