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Por O Globo

Team Jorge é uma empresa clandestina israelense que foi usada para influenciar dezenas de eleições em todo o mundo, principalmente na África, mas também em outros países como México e Espanha, como revelou o coletivo de jornalistas Forbidden Stories na última quarta-feira. As informações foram reveladas por um grupo de jornalistas investigativos que acompanharam os serviços da agência por meses, disfarçados de potenciais clientes.

O empreendimento não tinha existência legal, e o nome era como os jornalistas envolvidos na investigação chamavam o negócio. O motivo era o codinome do homem por trás da empresa: Tal Hanan, o Jorge. Na equipe que operava o esquema de fake news estavam ex-membros dos serviços de segurança israelenses.

A estrutura afirma ter "atuado em 33 campanhas eleitorais em nível presidencial", segundo um dos repórteres infiltrados. Das 33 campanhas, relatou outro funcionário ouvido pelos jornalistas, "dois terços ocorreram na África anglófona e francófona, e 27 foram bem-sucedidas".

Para suas atividades, a empresa desenvolveu "durante seis anos uma plataforma digital", a AIMS (sigla em inglês para "Soluções Avançadas de Mídia de Impacto"), que lhe permitia criar inúmeras contas falsas nas redes sociais e, sobretudo, ativá-las e alimentá-las, explica o coletivo. Junto às ações digitais, trabalhos de campo, como a instalação de câmeras escondidas, também fazem parte da operação do Team Jorge.

No início de janeiro de 2023, o sistema tinha 39.213 perfis falsos, "que poderiam ser consultados em uma espécie de catálogo". Nele, há "avatares de todas as etnias, nacionalidades, gêneros, solteiros ou casados. Seus rostos são retratos de pessoas reais tirados da internet, e seus patronímicos, a combinação de milhares de nomes e sobrenomes próprios armazenados em um banco de dados", de acordo com a Rádio France.

Segundo Hanan, a cada perfil falso é criada um "passado digital multifacetado", com contas no Twitter, YouTube, Gmail e Instagram, além de contas em sites como Amazon, cartões de crédito e carteiras de Bitcoin. Ainda de acordo com o líder do esquema, os perfis imitavam o comportamento humano e eram abastecidos por inteligência artificial.

O acesso ao AIMS foi vendido para serviços de inteligência, partidos políticos e empresas. Quando mobilizados, os perfis eram usados para, através de postagens nas redes, espalhar desinformação em alta velocidade e escala.

Esse sistema foi empregado, por exemplo, no México, onde a empresa teria atuado em favor de Tomás Zerón, ex-funcionário do governo investigado pelo desaparecimento de 43 estudantes em 2014, afirma o site Forbidden Stories. Zerón, chefe da Agência de Investigação Criminal de 2013 a 2016, é acusado de sequestro, tortura e manipulação de provas no caso do desaparecimento dos jovens de Ayotzinapa, no estado de Guerrero. Envolvido na aquisição do programa de espionagem Pegasus pelas autoridades mexicanas, Zerón está foragido em Israel, que rejeita sua extradição.

Já na Espanha, a "Team Jorge" teria influenciado um referendo, não reconhecido pelo governo espanhol, organizado pelos separatistas catalães em 2014, segundo o site da Rádio France.

Na Nigéria, em 2015, o Team Jorge contou com um aliado já conhecido do noticiário, a consultoria política britânica Cambridge Analytica. Segundo o jornal The Guardian, as empresas trabalharam lado a lado para orquestrar uma campanha para ajudar a reeleger o então presidente da Nigéria, Goodluck Jonathan, e desacreditar o candidato rival e então líder da oposição, Muhammadu Buhari.

Em 2018, dois anos após a vitória do republicano Donald Trump para a Presidência dos Estados Unidos em 2016, a empresa foi obrigada a anunciar o fim das operações na esteira da revelação do vazamento de dados de mais de 87 milhões de usuários do Facebook para ajudar a direcionar a publicidade política. A empresa também atuou no referendo do Brexit de 2016, no Reino Unido.

Ação na Nigéria

O caso da Nigéria ajuda a ilustrar como a organização atuava. De acordo com a apuração do consórcio, o responsável pela empresa israelense, Tal Hanan visitou a Nigéria semanas antes do pleito. Ele teria trocado e-mails com Brittany Kaiser, uma funcionária da empresa britânica, por meio de mensagens criptografadas e dispositivos especiais. A função da Cambridge Analytica seria assegurar cobertura positiva da mídia internacional para Jonathan e negativa para Buhari. A Team Jorge, por sua vez, seria a responsável por encontrar informações que pudessem prejudicar Buhari.

Segundo a reportagem do The Guardian, a Team Jorge também implantou câmeras escondidas nas reuniões de campanha de Buhari, além de ter roubado documentos confidenciais que, posteriormente, seriam vazados para a imprensa.

A publicação também mostra que o líder do Team Jorge também teria impulsionado a publicação de uma reportagem sobre mulheres em trajes muçulmanos sentadas do lado de fora de um posto de votação nigeriano sendo impedidas de votar. A ação teria causado, nas palavras de Hanan, "um grande escândalo" na Nigéria, culminando no adiamento das eleições, como planejavam inicialmente — a eleição presidencial era prevista para 14 de fevereiro de 2015, mas foi adiada por seis semanas.

Apesar dos esforços das duas empresas, Jonathan acabou perdendo as eleições para Buhari, que foi eleito em 2019 para um segundo mandato.

O 'Jorge'

Tal Hanan é o homem por trás da Team Jorge. O ex-agente das forças especiais de Israel — que atuou por décadas usando o pseudônimo “Jorge” — tem cerca de 50 anos. Em seu perfil profissional do Linkedin, Hanan afirma atuar com Inteligência Financeira e Segurança Patrimonial e diz ser CEO da empresa Demoman International, que oferece serviços de segurança e inteligência, por mais de duas décadas. A empresa tem escritórios em países como Israel, EUA, Suíça, Espanha, México, Colômbia e Ucrânia, dentre outros.

Antes, de 1990 a 1996, Hanan trabalhou nas Forças de Defesa de Israel (IDF), como oficial de descarte de materiais explosivos. Ainda segundo seu perfil, ele estudou na Universidade Hebraica de Jerusalém de 1997 a 2000, onde se formou em Relações Internacionais. "Sou um estudante da vida. Todo dia aprendo pelo menos uma coisa, ou tento fazer isso", escreveu.

Os repórteres infiltrados visitaram a sede onde a empresa funciona e foram recebidos por Hanan. Achando que eram dois possíveis clientes, ele brincou: “Você viu o que está escrito na porta, certo? Não diz nada. Isso é quem nós somos. Não somos nada." Após a reportagem, quando questionado pelo jornal britânico Guardian, Hanan não respondeu a questões detalhadas sobre as atividades e métodos da Team Jorge, mas negou qualquer irregularidade.

Aos jornalistas, o próprio Hanan afirmou que os seus serviços — descritos como "black ops" — estavam disponíveis para agências de informação, campanhas políticas e empresas privadas que quisessem manipular secretamente a opinião pública.

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