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Por O Globo — Rio de Janeiro

"Gostaria de saber o motivo pelo qual não recebi resposta para as 13 cartas que enviei a você", escreveu Francisca Muñoz, na Espanha, para seu marido, Miguel Atocha, no México, em 22 de janeiro de 1747. Ele a teria abandonado para viajar às Américas, há cerca de 300 anos. A carta nunca foi aberta e está entre milhares de outros documentos, encontrados em navios espanhóis do século XVIII capturados pelos britânicos. Agora, as cartas estão disponíveis online.

"Meu querido e amado marido, celebrarei que esta carta tenha chegado às suas mãos e o encontre com a saúde perfeita que desejo para mim mesma", escreve Francisca. "Gostaria de saber o motivo pelo qual não recebi resposta para as 13 cartas que enviei a você; gostaria de saber se talvez aí não há papel, caneta ou tinta para nem mesmo escrever uma carta", repreende a esposa apreensiva.

A mulher de Sevilha conta que está "miserável e cercada por mais misérias do que qualquer outra pessoa no mundo", com dores, doenças e cercada pelos dois filhos, pelos quais o amor do marido teria "se apagado".

O filho Miguel tinha crescido e "também está nu, porque aqui não há trabalho ou possibilidades de ganhar algo". Francisca e a filha Maria foram forçadas a trabalhar como criadas, apesar de suas doenças. "Há dias em que nem mesmo experimento a água porque não tenho lugar para pegá-la daqui, e estou tão doente que nem posso sair para pedir de porta em porta", detalha.

Francisca Muñoz ainda conta que a filha teve que se casar sem permissão do pai e deu à luz "a um bebê que foi a maravilha de toda Triana e Sevilha", mas que viveu apenas 14 meses. Ela assina com: "sua esposa que quer vê-lo, Francisca Muñoz".

A carta de Francisca estava entre outras 100 de mulheres espanholas, que detalharam para os maridos os desafios emocionais e econômicos enfrentados em suas ausências. O documento foi encontrado na embarcação La Ninfa, que foi capturado pelo esquadrão de corsários britânicos conhecido como "Royal Family".

Durante a Guerra do Ouvido de Jenkins (1739-1748) e a Guerra da Sucessão Austríaca (1740-1748), cerca de 130 navios espanhóis foram capturados pelos britânicos. Entre 1652 e 1815, corsários apreenderam centenas de milhares de documentos, que incluíam160 mil cartas não entregues em 20 idiomas.

As cartas que sobrevivem até hoje estão em processo de digitalização e a primeira parte está disponível. O projeto é uma parceria de 20 anos entre os Arquivos Nacionais do Reino Unido e a Universidade de Oldenburg na Alemanha. Os documentos espanhóis lançados incluem dois volumes ilustrados do navio Nuestra Señora de Covadonga, cuja carga incluía uma fortuna em prata cunhada.

O embaixador espanhol no Reino Unido, José Pascual Marco, disse ao The Guardian que os documentos tinham um valor imensurável.

— Inestimáveis para entender o mundo, em sua fineza, em sua carne e sangue, em sua complexidade: é isso que temos nesses documentos, que fornecem a história humana das Américas — reforça Marco.

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