O holandês Jonathan Meijer afirmou não ter feito "absolutamente nada de errado" ao doar sêmen para dezenas de famílias e em onze clínicas de fertilidade pelo mundo. As autoridades do seu país natal proibiram o homem de entregar material genético a partir de 2017, quando Meijer foi identificado como genitor de 102 filhos no território. Em depoimento, ele reconheceu ter entre 550 e 600 filhos, mas a Justiça apontou acreditar que o número de crianças geradas pode chegar a 1.000.
"Banido" na Holanda, Jonathan Meijer continuou a engravidar mulheres solteiras por meio de "doação natural" (relação sexual) e a doar sêmen em outros países, como Austrália, Alemanha, México e Estados Unidos, até 2023. Foi quando virou alvo de uma mulher e de uma fundação que apontaram o risco de incesto entre tantos filhos.
Recentemente, a Netflix lançou um documentário — "O Homem com Mil Filhos" — com relatos e acusações de mães que se sentiram "traídas" pelo holandês. Elas afirmam não ter sido informadas (ou ter sido enganadas) sobre o número de doações anteriores. Meijer foi descrito como "narcisista" e um "risco à saúde pública", já que meio-irmãos poderiam engatar romances sem saber do parentesco.
Em entrevista Woman's Hour da BBC Radio 4, o holandês disse ser vítima da situação.
— Eu dou [sêmen] de graça, elas não precisam me pagar. Elas podem ter contato comigo. Elas podem me perguntar o que quiserem. Como isso é enganoso? Como isso é falso? — questionou.
Meijer afirmou ter ficado numa posição "vulnerável" como doador e decidido dar um "número aproximado" às famílias para quem forneceu sêmen.
— Quando comecei como doador privado, fui franco sobre o número de pessoas que ajudei. Mas você tem tantos problemas com isso que optei por seguir as orientações da clínica [de não informar]. Mesmo assim, decidi dar a elas um número aproximado para que tivessem uma ideia. Se eu dissesse 'ah, já ajudei 50 vezes', pelo menos estava dando um número aproximado, para que pudessem ver que é um doador em massa. Eu dei a elas mais do que uma clínica ofereceria.
O holandês disse ao programa da BBC que, em 2019, parou de aceitar novos "beneficiários" e passou a doar apenas para irmãos das crianças geradas. Ele defendeu a atividade de "ajudar" famílias que, sozinhas, não poderiam gerar bebês.
— Todas essas visões ultrapassadas como 'o medo da endogamia', a 'crise de identidade' [potencial entre crianças que descobrem ter vários irmãos]. Estamos agora em 2024. Vemos casais de lésbicas em todos os lugares. Vemos mães solteiras em todos os lugares. Sabemos que os doadores estão ajudando as famílias. Estas opiniões ultrapassadas, deveríamos parar de projetá-las nestas crianças — rebateu.
Os limites para doação de sêmen variam de país para país. Na Holanda, por exemplo, Jonathan Meijer poderia doar e ser pai de até 25 filhos de 12 genitoras diferentes. No Reino Unido, um doador pode criar até dez famílias. No entanto, não há regras para a quantidade de filhos que esses mesmos doadores podem gerar no exterior.