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EUA 'agem como um bandido' na questão do 5G, afirma cônsul da China no Rio de Janeiro

Li Yang nega acusações de que Huawei estaria espionando seus clientes, como dizem os EUA, e considera que Lei de Segurança Nacional de Hong Kong tem o respaldo da população
Cônsul-geral da China, Li Yang, em comemoração do Ano Novo Chinês, em 2018 Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo
Cônsul-geral da China, Li Yang, em comemoração do Ano Novo Chinês, em 2018 Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo

RIO — O cônsul-geral da China no Rio de Janeiro, Li Yang, comparou o comportamento do governo dos EUA em relação à empresa chinesa Huawei ao de um “bandido”, ao comentar a polêmica em torno do desenvolvimento do sistema de telefonia 5G no mundo.

Em entrevista coletiva, concedida de forma virtual e com a ajuda de uma intérprete, Li Yang afirmou que a disputa em torno do sistema “ultrapassou a questão comercial”, passando ao campo político.

Ele disse que a tecnologia da Huawei, empresa que se encontra no centro do desenvolvimento do 5G e já é alvo de medidas restritivas em países como os EUA e Reino Unido, é a “mais segura”, refutando as acusações de que ela poderia ser usada por Pequim para ações de espionagem.

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O diplomata afirmou que os EUA atacam a Huawei porque “ficaram para trás”.

— Os EUA perderam o timing, a Huawei tem uma tecnologia de ponta, por isso eles a atacam. Ao perder essa liderança no setor de tecnologia, os EUA não reagiram de forma amigável, estão agindo como se fossem um bandido — afirmou Li Yang, desde 2016 à frente da representação diplomática chinesa no Rio. — A preocupação dos EUA é que, se todos países adotarem a tecnologia da Huawei, perderão a prerrogativa de acesso aos dados de todo o mundo, interrompendo a espionagem que fazem ao longo de vários anos.

Em maio, os EUA restringiram a venda de semicondutores fabricados por empresas americanas à Huawei, acusada de usar seus equipamentos com fins de espionagem. Outras nações, como Reino Unido, Japão e Austrália, vetaram a participação da empresa na implantação de sua rede 5G, e a França caminha no mesmo sentido — Pequim, por sua vez, não descarta adotar medidas de retaliação, mas negou nesta quinta que vá agir contra empresas de telecomunicações europeias, como a sueca Ericsson e a finlandesa Nokia.

Apoio popular

Outro fator a influenciar a ofensiva contra a Huawei é a situação política em Hong Kong: em maio, a China aprovou uma Lei de Segurança Nacional para o território , vista pelos EUA como um ataque à democracia na cidade, que possui sistemas político, legislativo e judiciário distintos de Pequim. Para os críticos, entre eles o Departamento de Estado, a medida abala a crença na liberdade de expressão no território e ameaça a independência da Justiça.

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Ao ser questionado sobre as reações negativas de parte da população após a aprovação da nova lei, Li Yang afirmou que a pergunta “estava incorreta”, e que a promulgação “ganhou o apoio de uma parcela considerável de Hong Kong”.

— Vários setores da sociedade ansiavam por essa lei, em uma tentativa de apaziguar a onda de descontentamento — afirmou, se referindo aos protestos contra o governo na cidade.

O diplomata afirmou que as críticas vêm de “um pequeno grupo de manifestantes”, que teria apoio internacional (EUA e Reino Unido) e teria como objetivo a independência do território. E disse que a instabilidade política “já provoca insegurança nacional para a China”.

— Hong Kong continuará a ser um território da China. Vamos bater de frente com as forças externas — declarou. — Sobre as ameaças de retaliação, não estamos preocupados, eles é que deveriam estar preocupados com o tipo de ameaças que nos fazem.

Ao falar sobre o Brasil, preferiu não entrar em temas polêmicos, como as críticas feitas por integrantes do governo e parlamentares governistas, como o filho do presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) , e consideradas racistas pelo corpo diplomático chinês no Brasil. O próprio cônsul, em carta publicada em abril , questionava se o deputado "era ingênuo ou ignorante".

— Nós trabalhamos olhando para nossas metas, que são retomar a economia e melhorar a vida da população.

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Sem mencionar nomes, Li Yang fez críticas indiretas à estratégia dos EUA no combate ao novo coronavírus. Ao lembrar dos 4 milhões de casos de Covid-19 no país, disse que o maior tema de debate naquela nação, segundo ele, é o uso ou não de máscaras em ambientes públicos — na China, por outro lado, considerou que a população seguiu de forma rígida as recomendações das autoridades.

Sobre as eleições de novembro, foi sucinto:

— Não temos interesse na eleição americana.