RIO — O cônsul-geral da China no Rio de Janeiro, Li Yang, comparou o comportamento do governo dos EUA em relação à empresa chinesa Huawei ao de um “bandido”, ao comentar a polêmica em torno do desenvolvimento do sistema de telefonia 5G no mundo.
Em entrevista coletiva, concedida de forma virtual e com a ajuda de uma intérprete, Li Yang afirmou que a disputa em torno do sistema “ultrapassou a questão comercial”, passando ao campo político.
Ele disse que a tecnologia da Huawei, empresa que se encontra no centro do desenvolvimento do 5G e já é alvo de medidas restritivas em países como os EUA e Reino Unido, é a “mais segura”, refutando as acusações de que ela poderia ser usada por Pequim para ações de espionagem.
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O diplomata afirmou que os EUA atacam a Huawei porque “ficaram para trás”.
— Os EUA perderam o timing, a Huawei tem uma tecnologia de ponta, por isso eles a atacam. Ao perder essa liderança no setor de tecnologia, os EUA não reagiram de forma amigável, estão agindo como se fossem um bandido — afirmou Li Yang, desde 2016 à frente da representação diplomática chinesa no Rio. — A preocupação dos EUA é que, se todos países adotarem a tecnologia da Huawei, perderão a prerrogativa de acesso aos dados de todo o mundo, interrompendo a espionagem que fazem ao longo de vários anos.
Em maio, os EUA restringiram a venda de semicondutores fabricados por empresas americanas à Huawei, acusada de usar seus equipamentos com fins de espionagem. Outras nações, como Reino Unido, Japão e Austrália, vetaram a participação da empresa na implantação de sua rede 5G, e a França caminha no mesmo sentido — Pequim, por sua vez, não descarta adotar medidas de retaliação, mas negou nesta quinta que vá agir contra empresas de telecomunicações europeias, como a sueca Ericsson e a finlandesa Nokia.
Apoio popular
Outro fator a influenciar a ofensiva contra a Huawei é a situação política em Hong Kong: em maio, a China aprovou uma Lei de Segurança Nacional para o território , vista pelos EUA como um ataque à democracia na cidade, que possui sistemas político, legislativo e judiciário distintos de Pequim. Para os críticos, entre eles o Departamento de Estado, a medida abala a crença na liberdade de expressão no território e ameaça a independência da Justiça.
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Ao ser questionado sobre as reações negativas de parte da população após a aprovação da nova lei, Li Yang afirmou que a pergunta “estava incorreta”, e que a promulgação “ganhou o apoio de uma parcela considerável de Hong Kong”.
— Vários setores da sociedade ansiavam por essa lei, em uma tentativa de apaziguar a onda de descontentamento — afirmou, se referindo aos protestos contra o governo na cidade.
O diplomata afirmou que as críticas vêm de “um pequeno grupo de manifestantes”, que teria apoio internacional (EUA e Reino Unido) e teria como objetivo a independência do território. E disse que a instabilidade política “já provoca insegurança nacional para a China”.
— Hong Kong continuará a ser um território da China. Vamos bater de frente com as forças externas — declarou. — Sobre as ameaças de retaliação, não estamos preocupados, eles é que deveriam estar preocupados com o tipo de ameaças que nos fazem.
Ao falar sobre o Brasil, preferiu não entrar em temas polêmicos, como as críticas feitas por integrantes do governo e parlamentares governistas, como o filho do presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) , e consideradas racistas pelo corpo diplomático chinês no Brasil. O próprio cônsul, em carta publicada em abril , questionava se o deputado "era ingênuo ou ignorante".
— Nós trabalhamos olhando para nossas metas, que são retomar a economia e melhorar a vida da população.
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Sem mencionar nomes, Li Yang fez críticas indiretas à estratégia dos EUA no combate ao novo coronavírus. Ao lembrar dos 4 milhões de casos de Covid-19 no país, disse que o maior tema de debate naquela nação, segundo ele, é o uso ou não de máscaras em ambientes públicos — na China, por outro lado, considerou que a população seguiu de forma rígida as recomendações das autoridades.
Sobre as eleições de novembro, foi sucinto:
— Não temos interesse na eleição americana.