BRASÍLIA — O ministro das Relações Exteriores, Carlos França, afirmou nesta quarta-feira, em audiência pública na Câmara, que os Estados Unidos cumpriram o que disseram e só deverão repassar recursos ao Brasil se houver redução do desmatamento na Amazônia. Ainda na campanha presidencial, em setembro do ano passado, Biden anunciou que os EUA poderiam enviar US$ 20 bilhões à região ameaçou deixar o Brasil de fora, se o quadro de devastação da floresta continuasse.
— O que temos escutado é que não haverá nenhum dinheiro à frente. A ideia é que haja primeiro ações e depois a remuneração — disse França.
Segundo o chanceler, Brasil e Estados Unidos discutirão, nos próximos dias, um plano de ação para reduzir os efeitos do aquecimento global no planeta. Ele destacou que o encontro foi pedido pelos EUA, "o que demonstra que os americanos reconhecem a centralidade do Brasil nesse debate".
O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, vai participar da conversa com autoridades americanas. Representará os EUA o emissário especial para o clima, John Kerry.
Às vésperas de uma reunião de chefes de Estado para discutir o aquecimento global, convocada por Biden há uma semana, Salles chegou a defender que o Brasil recebesse US$ 1 bilhão para ajudar o governo brasileiro a reduzir o desmatamento ainda este ano.
França admitiu que há pressões de países desenvolvidos, especialmente os europeus, sobre o Brasil, motivadas por questões ambientais. Citou como exemplo o acordo entre União Europeia e Mercosul que, a seu ver, não pode ser renegociado por isso.
— É importante não confundir a qualidade dos compromissos negociados com o desejo de alguns parceiros em tratar de outros temas, como as queimadas na Amazônia e nossas metas em mudança do clima. Tratamos sem dificuldade desses temas, mas isso não significa, nem poderia significar, a renegociação de acordos já concluídos.
Ele destacou que o tema da sustentabilidade ganhou o centro do debate público em países de diferentes perfis. Em muitas sociedades, a preocupação do consumidor com aspectos ambientais e sociais da cadeia de produção dos bens consumidos é uma realidade incontornável, o que leva grandes investidores a serem pressionados a montarem carteiras “verdes”.
— Não que devamos promover a sustentabilidade da nossa economia por motivos meramente mercantis. É claro que não. Somos movidos, antes de tudo, pela compreensão de que o planeta é um só, e que urge preservá-lo para as gerações futuras. Mas seria um erro desconsiderar que, no século XXI, a sustentabilidade adquiriu, também, uma marcada dimensão econômico-comercial.
De acordo com o chanceler, o Brasil não tem motivo para adotar, em matéria de desenvolvimento sustentável, uma atitude defensiva. Ao contrário.
— Estamos entre os países que podem apontar para soluções. Nossa histórica atuação nos debates internacionais e nossa trajetória interna em sustentabilidade nos dão autoridade para isso.
Ele afirmou que o governo continuará valorizando o que chamou de ativos ambientais brasileiros. Destacou a composição da matriz energética; ao caráter intensivo em tecnologia da agropecuária; e à legislação de proteção ambiental.
Carlos França elogiou o ministro do Meio Ambiente. Disse que foi graças a Ricardo Salles que o Brasil anunciou que anteciparia em dez anos, de 2060 para 2050, o alcance da neutralidade das emissões de gases de efeito estufa.
Perguntado sobre o Fundo Amazônia, cujo uso de quase R$ 3 bilhões está suspenso, devido a divergências entre o governo Bolsonaro e os países doadores (Alemanha e Noruega), o chanceler disse que o mais importante para o Brasil, hoje, é a regularização do mercado de carbono, previsto no Acordo de Paris.
— Mais importante para nós é regulamentar os artigos 5º e 6º do Acordo de Paris, que vão permitir que nós possamos regulamentar e implementar o mercado global de crédito de carbono, onde o Brasil tem muito a ganhar — disse.