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EUA e Talibã concordam com teste para reduzir violência no Afeganistão por uma semana

Diferentemente de um cessar-fogo, medida é primeiro passo para acordo de paz, que poderá ser assinado já no dia 29 de fevereiro
Presidente dos EUA, durante visita surpresa a uma base aérea dos EUA no Afeganistão no dia de Ação de Graças Foto: OLIVIER DOULIERY / AFP / 28-11-2019
Presidente dos EUA, durante visita surpresa a uma base aérea dos EUA no Afeganistão no dia de Ação de Graças Foto: OLIVIER DOULIERY / AFP / 28-11-2019

CABUL — Uma das principais condições para que os Estados Unidos assinem formalmente um acordo de paz com o o grupo fundamentalista afegão Talibã começará à zero hora deste sábado (16h30 de sexta-feira, horário de Brasília). Ambos os lados se comprometeram a reduzir a violência no país da Ásia Central na próxima semana, antecipando a formalização do pacto definitivo, prevista para o dia 29 de fevereiro, segundo o secretário de Estado, Mike Pompeo.

O acordo, se concretizado, poderá pôr fim à mais longa guerra contínua travada pelos Estados Unidos atualmente. Forças americanas invadiram o Afeganistão em 2001 para derrubar um governo do Talibã, acusado de dar abrigo a Osama bin Laden, que planejou os ataques terroristas de 11 de setembro daquele ano.

Diferentemente de um cessar-fogo total, o pacto de redução da violência estabelece que os dois lados deverão sustar a maior parte dos ataques. Os detalhes da redução não são conhecidos, mas fontes ouvidas pelo New York Times apontam que o Talibã concordou em cessar os ataques a cidades, rodovias e postos de segurança nos próximos sete dias. As forças afegãs e os EUA, por sua vez, se comprometeram a parar com os ataques aéreos e operações ofensivas. Também há conversas para que prisioneiros de ambos os lados sejam libertados.

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— O presidente disse que há cerca de 80 ataques diários do Talibã, em média. Se esse número for reduzido para 10, será um sinal de que a redução da violência foi implementada. Poderá haver disparos ocasionais em lugares distantes ou contra alguns comboios, mas isso é outro assunto — disse Babur Ishchi, chefe do conselho provincial de Jowjan, que participou de uma reunião com o presidente afegão, Ashraf Ghani, nesta sexta.

A redução da violência seria o primeiro passo de um cronograma que culminaria com a saída das forças americanas do Afeganistão. Mais de 775 mil soldados dos EUA foram enviados para o país desde 2001, muitos deles várias vezes. Segundo o Departamento de Estado, 2.300 militares americanos morreram e outros 20.589 ficaram feridos nos quase 19 anos de guerra. Hoje, 13 mil soldados americanos continuam por lá.

Washington espera que o processo aproxime o Talibã do atual governo afegão, aliado dos EUA, e incentive a negociação de um acordo para pôr fim às disputas locais. O governo, no entanto, está paralisado por uma crise eleitoral que põe em xeque não só um futuro pacto como Talibã, mas também o que deverá ser assinado com os EUA no dia 29.

Na terça-feira, Ghani foi anunciado o vencedor das eleições presidenciais que ocorreram há cinco meses — vitória contestada por seu principal oponente, Abdullah Abdullah, que acusa o órgão eleitoral de favorecer Ghani. Abdullah declarou sua vitória e fez um apelo para que seus apoiadores formem seu próprio governo, algo que promete complicar as tentativas de contato direito entre Cabul e o Talibã mesmo que a redução da violência seja bem-sucedida.

Três dias após o resultado ser divulgado, o governo americano ainda não publicou um comunicado reconhecendo a vitória de Ghani. O único comentário oficial foi feito pela vice-negociadora-chefe dos EUA, Molly Phee, que demonstrou preocupação sobre como o impasse eleitoral poderá afetar o acordo de paz — a “prioridade” de Washington. Segundo Phee, o acordo de paz é uma oportunidade “que não pode ser desperdiçada”.

O governo afegão, por sua vez, foi um pouco mais vago, afirmando apenas que o período de “cessar-fogo” é uma “grande oportunidade” que começa nesta sexta e deverá durar sete dias, se tudo ocorrer como o planejado. O porta-voz do Conselho de Segurança do país, Javid Faisal, disse esperar que o teste leve a um cessar-fogo abrangente.