BRUXELAS — Os Estados Unidos e a União Europeia (UE) anunciaram nesta sexta-feira um acordo sobre fornecimento de gás natural liquefeito (GNL), em uma tentativa de reduzir a dependência da Europa da energia russa em meio à
guerra na Ucrânia
.
A decisão prevê que os EUA forneçam à UE pelo menos 15 bilhões de metros cúbicos adicionais do combustível até o fim do ano.
Não está claro se o volume viria diretamente de produção extra americana ou se seria redirecionado de outros países, o que poderia afetar as exportações para outras regiões do planeta, incluindo o Brasil, onde o
GNL representa 27% do consumo nacional
.
Após a reunião de cúpula da UE, o presidente francês, Emmanuel Macron, informou que a Comissão Europeia, o órgão executivo da União Europeia, também recebeu a autorização dos 27 países do bloco para realizar compras de gás em conjunto, para conter o aumento de preços provocado pela guerra na Ucrânia
"A compra conjunta, a capacidade de definirmos juntos os contratos a longo prazo, é a melhor ferramenta para reduzir o preço do gás, por isso autorizamos a Comissão a fazê-lo", disse Macron.
A Rússia é um importante fornecedor de energia da Europa, respondendo por cerca de 40% das importaões de gás da UE. A
invasão da Ucrânia
fez com que os preços do produto alcançassem níveis recordes.
Os 15 bilhões de metros cúbicos que serão enviados ainda neste ano à UE representam apenas 3% da demanda do bloco, segundo a consultoria Inspired Energy.
O acordo prevê um volume de importação maior dos EUA para os países europeus, chegando a 50 bilhões de metros cúbicos de GNL até 2030. Ainda assim, é um volume modesto comparado ao consumo europeu
São cerca de 150 bilhões de metros cúbicos enviados por ano para a UE, dos quais 14 bilhões de metros cúbicos a 18 milhões de metros cúbicos em forma de GNL, um tipo de gás que pode ser transportado por navio, por exemplo.
"O volume adicional vindo dos EUA ainda está bem longe do que será necessário para acabar com a dependência da Rússia", escreveu a Inspired Energy em relatório.
O pacto anunciado nesta sexta-feira ocorre durante uma
visita de três dias do presidente dos EUA, Joe Biden, a Bruxelas.
Biden e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, discutiram a invasão da Ucrânia pela Rússia e concordaram em oferecer mais apoio a Kiev.
— Nos unimos para reduzir a dependência da Europa em relação à energia russa — disse o presidente americano a jornalistas.
Os detalhes comerciais que viabilizarão o acordo serão discutidos em reunião na semana que vem, em Berlim, entre fornecedores americanos de GNL e compradores alemães.
Em janeiro, os EUA exportaram 4,4 bilhões de metros cúbicos de GNL para a Europa. No mês seguinte, o volume de exportação foi similar.
Em janeiro de 2008, o preço do barril superou a marca de US$ 100 pela primeira vez na história, devido às tensões geopolíticas no Irã, na Nigéria e no Paquistão. Tanto o Brent, referência no mercado europeu e no Brasil, como o WTI, referência nos EUA atingiram seu máximo histórico em 11 de julho: US$ 147,50 o barril do Brent e US$ 147,27 o do WTI.
2008: com falência do Lehman Brothers, preço despenca
Após a falência do banco americano Lehman Brothers, em setembro, e do início da crise financeira internacional, o preço começa a cair, já que os investidores precisam urgentemente de liquidez. Assim, em dezembro de 2008, o Brent já estava sendo negociado a US$ 36,20, e o WTI, a US$ 32,40.
2011 e a revolta no Egito
A barreira dos US$ 100 é novamente rompida em janeiro de 2011, pelo risco de os protestos da revolta no Egito e da Primavera Árabe se espalharem pelos países produtores de petróleo do Oriente Médio. O Egito não é um produtor essencial, mas integra importantes rotas de escoamento, tanto via Canal de Suez como via oleoduto Suez-Mediterrâneo.
2012, embargo do petróleo iraniano
Ano inicia com o barril acima de US$ 100, com as sanções impostas ao Irã, suspeito de usar seu programa nuclear para desenvolver armas nucleares. Em represália, o Irã ameaça interromper suas entregas para a Europa. Grande parte do petróleo dos países do Golfo transita pelo Estreito de Ormuz, passagem que o Irã ameaçava fechar.
De 2012 a 2014, tensões no Oriente Médio
O preço do petróleo bruto passa perto dos US$ 90, o barri,l em junho de 2012, em meio à crise econômica na zona do euro. Até 2014, os preços evoluíram quase continuamente próximo dos US$ 100, sustentados pelo endurecimento das sanções contra o Irã e pelas tensões geopolíticas no Oriente Médio, em particular, pelo conflito na Síria.
Segundo empresários do setor, não está claro se a quantidade acordada hoje viria de um adicional de produção nos EUA — novos projetos só devem entrar em operação em 2025 — ou se seria redirecionado de outros produtores, na Ásia, por exemplo.
Independentemente de onde virá o GNL, esse movimento tende a afetar o mercado global do insumo, possivelmente elevando os preços devido ao aumento da demanda. No Brasil, as
importações de GNL já subiram 187%
antes mesmos da guerra.
O objetivo era alimentar as térmicas devido à crise hídrica.
Alemanha: sem dependência da Rússia em 2024
O bloco europeu já deixou claro que pretende abolir o uso de gás russo, mas, além de aumentar as importações, precisa gerar mais energia a partir de fontes renováveis. Um plano com esse objetivo foi anunciado neste mês. A ideia é
reduzir o uso de gás pelo bloco em 30% até 2030.
Hoje, a Alemanha também anunciou um plano para se tornar independente do gás russo até 2024. O país já havia anunciado a
suspensão da certificação do gasoduto Nord Stream 2,
que liga o país ao mar báltico antes mesmo de a guerra começar, em represália à movimentação de tropas russas.
Paralelamente às iniciativas de EUA e UE, o presidente russo, Vladimir Putin, anunciou na quarta-feira que exigirá que "países hostis", incluindo os da UE,
paguem pelo gás russo em rublos
.
Putin pediu ao Banco Central e ao governo que adotem no prazo de uma semana o novo sistema, que deve ser "claro, transparente" e implica "a aquisição de rublos no mercado cambial russo".
O anúncio teve um efeito imediato na moeda russa, que registrou valorização diante do euro e do dólar, depois da forte queda desde 24 de fevereiro, quando as forças russas invadiram a Ucrânia.
No início de março, o Kremlin anunciou uma lista de 48 Estados considerados hostis, incluindo os EUA, Japão, todos os membros da UE, Suíça e Noruega. O Brasil não faz parte da lista.