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Ex-ministro venezuelano morreu sem tratamento médico ou direito à defesa, diz viúva

Nelson Martínez estava preso havia um ano; audiências foram repetidamente adiadas
Foto: LEONHARD FOEGER / REUTERS
Foto: LEONHARD FOEGER / REUTERS

CARACAS - Morto no último dia 12, Nelson Martínez, ex-ministro do Petróleo da Venezuela, passou mais de um ano preso na sede da Direção Nacional de Contrainteligência Militar (Dgcim), em Caracas. Sua família, no entanto, afirmou em uma carta que ele nunca pôde se defender nos tribunais, tampouco recebeu o tratamento médico adequado.

Funcionário de carreira da estatal petrolífera PDVSA e chavista de primeira hora, Martínez foi preso em 30 de novembro de 2017, menos de um ano depois de ser nomeado ministro por Nicolás Maduro e quatro dias após ter sido destituído do ministério. Antes de dirigir a pasta, dirigiu por quatro anos a Citgo, filial da PDVSA nos Estados Unidos. Foi no período em que morou em Houston, no Texas, onde fica a sede da Citgo, que começou a ter problemas renais.

Ele foi preso no mesmo dia em que Eulogio Del Pino, também ex-ministro do Petróleo e ex-presidente da PDVSA, foi detido. Ambos foram acusados pela Promotoria de ser parte de uma rede de corrupção no setor petrolífero venezuelano. As prisões dos ex-ministros expuseram rachas no chavismo, e a morte recente de Martínez voltou a destacar o tema.

Agora, a família do ex-ministro denuncia que ele não teve direito à defesa, porque suas audiências foram repetidamente adiadas.

"Nelson passou um ano detido, tempo durante o qual se realizou a audiência de apresentação e a de formulação das acusações. Daí em diante, a audiência preliminar foi marcada em numerosas ocasiões e logo diferida", afirmou a viúva Beatriz Arias de Martínez, em uma carta divulgada em 18 de dezembro.

Beatriz afirmou ainda que as autoridades conheciam o estado de saúde de Martínez, mas se negaram a prestar assistência e ignoraram os pedidos para que ele fosse transferido à prisão domiciliar.

"Consideramos que as pessoas que podiam ajudá-lo e não o fizeram foram (o presidente) Nicolás Maduro; (a primeira-dama) Cilia Flores; (o procurador-geral) Tarek William Saab; (o vice-presidente) Tareck El Aissami, ele saberá o porquê; (o presidente do Tribunal Supremo de Justiça) Maikel Moreno; Rosbelin Gil; e (a presidente da Assembleia Nacional Constituinte) Delcy Rodriguez", diz o texto.

O Ministério Público venezuelano, no entanto, afirma que Martínez recebeu tratamento médico. De acordo com a agência de notícias Reuters, o ex-ministro chegou a ser transferido da prisão para um hospital militar devido a problemas renais. Ele teria sofrido um ataque cardíaco enquanto fazia hemodiálise.

Martínez se somou a outros dirigentes políticos mortos sob custódia na Venezuela. Em agosto, o vereador de oposição Fernando Albán morreu ao cair do 10º andar da sede do Serviço Bolivariano de Informação (Sebin), em Caracas. O governo diz que ele se suicidou. Albán estaria sendo pressionado a denunciar Julio Borges, político exilado que dirigiu seu partido Primeiro Justiça, por participação no atentado fracassado com drones contra Maduro, ocorrido no início de agosto.

O dirigente opositor Carlos Andrés García morreu em setembro de 2017 de acidente vascular cerebral enquanto estava preso no Sebin. A ONG Foro Penal calcula que haja 288 presos políticos na Venezuela.