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Ex-presidente da Bolívia Jeanine Áñez é tratada de urgência por autolesões na prisão

Governo do presidente Luis Arce fala em "pequenos arranhões", mas chefe policial confirma tentativa de suicídio; advogada da ex-chefe de Estado diz que episódio foi "um pedido de socorro"
Ex-presidente interina da Bolívia Jeanine Áñez, presa em La Paz, conversa com aliados políticos Foto: DAVID MERCADO / Reuters
Ex-presidente interina da Bolívia Jeanine Áñez, presa em La Paz, conversa com aliados políticos Foto: DAVID MERCADO / Reuters

LA PAZ — A ex-presidente interina da Bolívia Jeanine Áñez se autolesionou, neste sábado, na prisão onde está encarcerada e já está sendo atendida por médicos, informou o ministro de Governo, Eduardo del Castillo. Já o diretor da Força Especial de Luta contra o Crime (Felcc), Douglas Uzquiano, afirmou a emissoras de rádio locais que a polícia confirmou "uma tentativa de suicídio".

O chefe policial comunicou, ainda, que Áñez, de 54 anos, tem cortes em um de seus braços e também no pulso. Por sua parte, Castillo mencionou "pequenos arranhões" e assegurou que "não há motivo para se preocupar".

Neste sábado, os ex-presidentes Carlos Mesa, Jorge Quiroga e Jaime Paz Zamora divulgaram uma carta na qual pedem às autoridades judiciais do país que adotem as medidas necessárias para garantir "a integridade física e psicológica da ex-presidente". Em mensagens nas redes sociais, Mesa enfatizou que "as explicações do governo não são sérias".

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Meios de comunicação bolivianos informaram que Áñez fez cortes no próprio antebraço. A advogada da defesa, Norka Cuellar, assegurou que a ex-presidente fez "um pedido de socorro".

— Senhor Evo Morales, por razões humanitárias, a oposição permitiu seu traslado ao México (em novembro de 2019), para que sua vida não corresse perigo. Suplicamos, como advogados da defesa, que a mesma coisa seja feita com ela (Áñez) — declarou.

Outro advogado de Áñez, Luis Guillén, afirmou que a tentativa de suicídio é consequência dos “abusos” que ela estaria sujeita na prisão. Segundo ele, nos últimos cinco meses foram administrados indevidamente medicamentos e drogas contraproducentes à sua saúde, o que pode ter causado um “quadro de depressão e paranoia”. que a teria levado a tomar a decisão de tirar a própria vida.

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A ex-presidente havia sido levada, na quarta-feira, ao hospital, a terceira vez em duas semanas que precisou de cuidados médicos. Lá, profissionais da saúde que a atenderam disseram ter realizado exames e constatado que Áñez sofria de hipertensão. Logo após a consulta, a ex-chefe de Estado voltou à prisão.

Ela está presa preventivamente desde março deste ano, acusada de participar de um golpe de estado para derrubar o então presidente Evo Morales, em novembro de 2019. Áñez nega as acusações e diz ser vítima de perseguição política.

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Na sexta-feira, a Procuradoria-Geral da Bolívia anunciou que apresentou uma acusação de genocídio e outros crimes contra a ex-presidente pela morte de dezenas de manifestantes da oposição há dois anos. A decisão se haverá julgamento ou não será tomada pelo Congresso, controlado pelo Movimento ao Socialismo (MAS), do presidente Luis Arce. Apesar de ter maioria no Parlamento, o partido governista precisa de votos opositor para avançar com o processo.

A decisão repercutiu e neste sábado, por volta das 12h, o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, postou em seu perfil oficial no Twitter uma imagem em que aparece uma reportagem referente às acusações contra Áñez. Após a renúncia de Morales, sob for pressão das Forças Armadas e policiais, o governo brasileiro foi um dos primeiros em reconhecer a Presidência interina de  Áñez. Ao contrário de vizinhos com a Argentina, o governo brasileiro não denunciou um golpe na Bolívia e, em todo momento, respaldou e colaborou com o governo de Áñez.