WASHINGTON — Treze pessoas ligadas a uma milícia de extrema direita foram presas e acusadas de planejar o sequestro da governadora Gretchen Whitmer, de Michigan . A milícia, denominada Wolverine Watchmen, vinha planejando a ação contra a governadora do Partido Democrata pelo menos desde agosto. Sua casa de férias estava sendo vigiada e a ideia era sequestrá-la antes das eleições presidenciais de 3 de novembro.
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O presidente Donald Trump se manifestou sobre o caso na noite desta quinta-feira, dizendo que não tolera "nenhuma violência extrema", mesmo contra aqueles se opõem a ele e o criticam, mas atacou o "trabalho terrível" de Whitmer durante a pandemia e insinuou que ela seria mal-agradecida.
"A governadora Whitmer, de Michigan, fez um trabalho terrível. Ela bloqueou seu estado para todos, exceto para as atividades náuticas do marido. O Governo Federal forneceu uma ajuda tremenda ao Grande Povo de Michigan. Meu Departamento de Justiça e a Polícia Federal anunciaram hoje que frustraram uma conspiração perigosa contra a governador. Em vez de agradecer, ela me chama de supremacista branco", escreveu em seu Twitter. "Eu não tolero nenhuma violência extrema. Defender todos os americanos, mesmo aqueles que se opõem e me atacam, é o que sempre farei como seu presidente!"
No início deste ano, o FBI descobriu através das redes sociais que um grupo de pessoas estava planejando promover “golpes” em governos regionais. Em junho, o FBI conseguiu pôr um infiltrado em uma reunião dos envolvidos, de acordo com o documento publicado nesta quinta-feira.
— Nossos esforços revelaram planos elaborados para pôr em risco a vida de policiais, funcionários do governo e do público em geral — disse a secretária de Justiça de Michigan, Dana Nessel.
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Seis dos presos — Adam Fox, Barry Croft, Ty Garbin, Kaleb Franks, Daniel Harris e Brandon Caserta — foram acusados de conspiração para sequestro, crime que pode levar à prisão perpétua. Os demais sete foram acusados de providenciar material de apoio para atividades terroristas, associação criminosa e o uso de armas de fogo para cometer crimes.
Memorandos internos de segurança dos Estado Unidos alertaram que extremistas domésticos violentos poderiam representar uma ameaça a alvos relacionados à eleição, uma preocupação exacerbada pela pandemia de coronavírus, tensões políticas, tumultos civis e campanhas de desinformação do exterior. Donald Trump sugeriu repetidamente que seus oponentes podem estar tentando fraudar o pleito . Nesta quinta-feira, Whitmer e Nessel ligaram o complô a comentários do presidente e sua recusa por diversas vezes, a última delas no debate com o democrata Joe Biden em 29 de setembro, em condenar os supremacistas brancos e grupos violentos de extrema direita.
— Na semana passada, o presidente dos Estados Unidos se recusou a condenar os supremacistas brancos e grupos de ódio como esses dois grupos da milícia de Michigan — disse Whitmer. — Eles ouviram as palavras do presidente, não como uma repreensão, mas como um grito de guerra: como um chamado à ação.
Líderes republicanos do estado condenaram o complô nesta quinta-feira, mas um assessor sênior da campanha de Trump, Jason Miller, criticou a governadora por, segundo ele, “usar um momento de unidade para atacar o presidente”.
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O grupo se reuniu durante o verão no hemisfério norte para treinamento de uso de armas de fogo e táticas de combate. Eles também tentaram fabricar explosivos e tiveram vários encontros para discutir o sequestro, incluindo no porão de uma loja em Michigan que só era acessível por uma entrada secreta.
“O grupo falou sobre a criação de uma sociedade que seguisse a Declaração de Direitos dos EUA e onde eles pudessem ser autossuficientes”, de acordo com o relatório do FBI. “Eles discutiram diferentes maneiras de atingir esse objetivo, indo de esforços pacíficos a ações violentas. A certa altura, vários membros falaram sobre governos estaduais que acreditavam estar violando a Constituição, incluindo o governo de Michigan e a governadora Gretchen Whitmer. Vários membros falaram sobre assassinar ‘tiranos’ ou ‘derrubar’ um governador em exercício.”
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Whitmer — que antes da escolha de Kamala Harris , era cotada para ser vice na chapa de Joe Biden — se tornou um alvo de extremistas de direita, inclusive de grupos armados, que defendem que sua resposta à pandemia de coronavírus violou as liberdades individuais, depois que ela implantou restrições como uso obrigatório de máscaras e duras medidas de distanciamento social.
Ela ainda foi atacada por defender a ampliação do voto pelo correio, medida para evitar aglomerações, mas que rendeu uma ameaça de corte de verbas do estado por parte de Trump , ameaça que acabou deixada de lado pouco depois.
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Crescimento das milícias armadas
Nos últimos anos, várias instituições de inteligência e segurança vêm monitorando o aumento de milícias armadas de extrema direita. E as manifestações contra o racismo de 2020 deram um novo ímpeto para que os grupos saíssem do mundo virtual e ganhassem as ruas.
Em abril, centenas de manifestantes, alguns portando armas semiautomáticas, ocuparam a Assembleia estadual de Michigan para protestar contra as ordens restritivas. Trump incentivou abertamente esses protestos, tuitando, em letras garrafais: “LIBERTEM O MICHIGAN!”.
Os manifestantes incluíam pessoas com suásticas, bandeiras dos Estados Confederados — que lutaram contra o fim da escravidão na Guerra Civil Americana — e um deles levava uma boneca representando Whitmer pendurada em uma forca.
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O estado tem um longo histórico de atividades antigovernamentais, que datam do início dos anos 1990, com a criação de um grupo conhecido como Milícia de Michigan — que ganhou força novamente com a eleição de Barack Obama, em 2008.
A presença dispersa inicial de grupos armados aumentou com a onda de protestos em todo o país , iniciada após a morte de George Floyd, negro, por um policial branco em Minneapolis, no dia 25 de maio. Quando algumas das marchas começaram a registrar incêndios criminosos e pilhagens, milicianos apareceram nas ruas, dizendo que estavam ali para proteger casas e lojas.