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Filho do fundador do Hamas trabalhou como espião do serviço secreto israelense por anos

JERUSALÉM - Mosab Hassan Yousef, filho de um dos fundadores do Hamas, serviu como um informante do Shin Bet, o serviço de segurança interna de Israel, por mais de uma década. Agora, as memórias de Musab, escritas por Ron Brackin e reunidas no livro "Filho do Hamas", serão lançadas nos EUA, como informa a edição desta quarta-feira do jornal israelense Ha'aretz.

Segundo o periódico, as informações secretas fornecidas aos agentes israelenses pelo filho de Sheikh Hassan Yousef, fundador do movimento islâmico palestino e um dos seus líderes na Cisjordânia, ajudou a prender ativistas e a impedir dezenas de atentados. Mas a obra, que estará nas livrarias em uma semana, é vista como uma ameaça ao Shin Bet, pois expõe os métodos que o serviço secreto adotou entre os anos 2000 e 2005 para aniquilar terroristas palestinos.

"Durante a Segunda Intifada (a da Mesquita al-Aqsa, lançada em 28 de setembro de 2000), Musab entregou informações que levaram à detenção de palestinos responsáveis pelo planejamento de atentados suicidas, entre os quais estariam Ibrahim Hamid, Marwan Barghouti e Abdullah Barghouti", diz a publicação.

Na sua página no Facebook, Musab Hassan Yousef define o livro como ''um relato envolvente de terror, traição, intriga política, e escolhas impensáveis".

"A minha história vai surpreender a todos. Vai ser como um tsunami no Oriente Médio", escreveu Musab. "Isso vai se espalhar como fogo selvagem.

O seu primeiro contato com o Shin Bet, conta, se deu em 1996, quando agentes o prenderam. No ano seguinte, ele foi libertado como informante israelense. Considerado a mais confiável fonte do Shin Bet no alto escalão do Hamas, Musab ganhou o apelido de "príncipe verde" - em referência à cor-símbolo do movimento islâmico e ao seu "pedigree".

A revelação é mais um golpe para o Hamas, que sofreu um revés mês passado, quando um de seus comandantes foi assassinado em Dubai. As autoridades do movimento acusaram Israel pelo crime, e houve relatos de que uma informação privilegiada teria ajudado os assassinos.

O Hamas alega que já desconfiava das atividades de Yousef há anos, e o mantinha sob observação para impedi-lo de coletar informações valiosas. Seu pai, o xeque Hassan Yousef, um dos fundadores do grupo militante islâmico em 1980, emitiu um comunicado através de seu advogado dizendo que seu filho tinha sido vítima de ''chantagem' 'pelas autoridades israelenses durante uma temporada na cadeia, em 1996.

Segundo fontes do serviço secreto de Israel, no entanto, Musab não ajudou as forças israelenses em troca de dinheiro, mas porque "queria salvar vidas". Na entrevista ao Ha'aretz, ele teria declarado que "gostaria estar em Gaza no momento, para vestir um uniforme do Exército (israelense) e se unir às forças especiais para libertar Gilad Shalit", o soldado sequestrado pelo Hamas e outras duas facções palestinas há três anos e meio.

Musab disse ao jornal que esperava enviar uma mensagem de paz, mas que permanecia pessimista sobre as perspectivas para acabar com o conflito entre israelenses e palestinos.

- O Hamas não pode fazer a paz com os israelenses. Isso vai contra o que seu Deus lhes diz. É impossível fazer a paz com os infiéis - disse ele ao Ha'aretz.

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