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Finlândia oficializa plano de entrar na Otan, e Turquia apresenta demandas para apoiar sua adesão e da Suécia

Partido governista aprova candidatura sueca; chanceler turco pede que Finlândia e Suécia parem de apoiar grupos terroristas, ofereçam garantias de segurança e levantem proibições de exportação
Fronteira entre Finlândia e Rússia, na cidade de Imatra Foto: ALESSANDRO RAMPAZZO / AFP
Fronteira entre Finlândia e Rússia, na cidade de Imatra Foto: ALESSANDRO RAMPAZZO / AFP

HELSINQUE — A Finlândia confirmou neste domingo a decisão de se candidatar à Organização do Tratado do Atlântico do Norte ( Otan , aliança militar liderada pelos EUA), e horas depois o governista Partido Social-Democrata declarou apoio à potencial entrada sueca, configurando uma mudança de posição histórica dos dois países quase três meses após a invasão da Ucrânia pela Rússia .

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— É um dia histórico. Uma nova era está começando  — disse o presidente finlandês, Sauli Niinistö, em entrevista coletiva.

Com o apoio do partido governista e com a Finlândia pronta para apresentar sua candidatura, a primeira-ministra sueca, Magdalena Andersson, deve oficializar a posição do pais nos próximos dias.

Como a Rússia compartilha uma divisa de 1.300 km com a Finlândia, a entrada de Helsinque na organização mais que dobrará a fronteira entre a organização ocidental e o território russo, com os soldados da aliança a algumas horas de carro da periferia norte de São Petersburgo.

O governo da Rússia vem advertindo Helsinque e Estocolmo que sua adesão representa uma ameaça de segurança que demandará respostas.

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O parlamento da Finlândia deve examinar o projeto de lei de adesão na segunda-feira, mas estima-se que uma grande maioria apoie a iniciativa.

Durante um encontro de ministros exteriores da Otan em Berlim, o secretário-geral da aliança, Jens Stoltenberg, afirmou que deseja acelerar o processo de ratificação dos dois países, acrescentando que a aliança avaliará formas de fornecer garantias de segurança durante esse ínterim, inclusive com o aumento de sua presença na região.

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Stoltenberg também está confiante de que todos os países-membros vão chegar a um consenso sobre a adesão — qualquer decisão sobre a ampliação da Otan precisa da aprovação unânime de todos os seus 30 integrantes.

O secretário de Estado americano, Antony Blinken, também expressou confiança na entrada dos dois países, afirmando que ouviu um "apoio quase generalizado e muito forte" às adesões.

— Tenho certeza de que vamos alcançar um consenso — disse durante o encontro em Berlim.

Entretanto, o presidente da Turquia, Tayyip Erdogan, surpreendeu os aliados da Otan e os países nórdicos na sexta-feira, quando disse que a Turquia não poderia apoiar os planos de expansão considerando que as duas nações eram "lar de muitas organizações terroristas".

Durante o encontro em Berlim, o chanceler turco, Mevlut Cavusoglu, reiterou que a Turquia, que entrou na Otan há 70 anos, não se opõe à política de portas abertas da aliança — algo previamente dito pelo porta-voz de Erdogan no sábado —, mas apresentou demandas para o apoio à adesão dos dois países.

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Cavusoglu pediu que a Finlândia e a Suécia parem de apoiar grupos terroristas em seus territórios, ofereçam claras garantias de segurança e levantem as proibições de exportação de alguns produtos do setor de defesa ao país.

Ele acrescentou que a Turquia não estava ameaçando ninguém ou buscando qualquer vantagem, mas apenas apontando especificicamente para o apoio da Suécia ao grupo militante curdo PKK, considerado uma organização terrorista pela Turquia, União Europeia e Estados Unidos.

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— Há necessidades absolutas de garantias de segurança. Eles precisam parar de apoiar organizações terroristas — disse Cavusoglu a repórteres turcos em Berlim, acrescentando que se encontrou com seus homólogos finlandês e sueco, e que todos buscam responder às preocupações de Ancara.

O PKK, o Partido dos Trabalhadores do Curdistão, é um grupo de militantes e um movimento de guerrilha armada curta, e atualmente atua principalmente nas regiões montanhosas de maioria curda do Sudeste da Turquia e Norte do Iraque.

No sábado, o presidente finlandês ligou para seu homólogo russo, Vladimir Putin , para informá-lo de que seu país pediria a adesão ao pacto militar.

De acordo com o porta-voz de Niinisto, o presidente disse a Putin "que as demandas russas contra adesão dos países à Otan e a invasão da Ucrânia alteraram o ambiente de segurança da Finlândia", afirmando, porém, que a Finlândia quer manter relações de "maneira correta e profissional" com Moscou.

Em resposta, Putin “reforçou que abandonar a política tradicional de neutralidade militar seria um erro, uma vez que não há ameaças à segurança da Finlândia. Tal mudança na política externa do país pode ter um impacto negativo nas relações russo-finlandesas”, afirmou o Kremlin.

O governo da Suécia também indicou que uma adesão à Otan seria benéfica para o país. A decisão dos dois países nórdicos de abandonar a neutralidade militar que mantiveram durante a Guerra Fria constitui uma das maiores mudanças na segurança europeia em décadas.