ESTOCOLMO — Finlândia e Suécia, dois países nórdicos que historicamente se mantêm neutros militarmente, sem integrar alianças militares, deram fortes pistas nesta quarta-feira de que planejam se unir à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) no futuro próximo, em uma mudança histórica de posicionamento.
Oficialmente, os países, que dividem fronteiras com a Rússia, afirmam ainda estudar a entrada na aliança. Em uma coletiva conjunta nesta quarta-feira em Estocolmo, no entanto, os líderes dos dois países afirmaram que estudam e veem vantagens na possibilidade. Segundo um jornal sueco, a decisão do governo sueco já está tomada.
Tão grave como a Queda do Muro : Sete especialistas apontam efeitos da invasão da Ucrânia no mundo
A primeira-ministra finlandesa, Sanna Marin, disse a repórteres que o país tomará uma decisão sobre se uma candidatura à adesão na aliança de 30 membros "bem rápido, em questão de semanas, não meses". Marin disse que o Parlamento vai debater uma avaliação oficial de como a invasão da Ucrânia pela Rússia levou a uma “mudança em nosso ambiente de segurança” e avaliar uma mudança histórica na postura de defesa da Finlândia.
— Precisamos ser francos sobre consequências e riscos, tanto a longo quanto a curto prazo — disse Marin. — Qual é a melhor maneira de garantir que essa [invasão russa] nunca vai acontecer na Finlândia?
Ela ressaltou que o ingresso na Otan envolve "muitos riscos, e temos que estar preparados para todos os tipos de ações da Rússia". Em vistas disso, um pedido de adesão deve ser “analisado com muito cuidado”.
— Esses riscos existem tanto se aplicarmos quanto se não aplicarmos — afirmou.
Felicidade : Finlândia é o país 'mais feliz do mundo'; Brasil aparece na 38ª posição
Durante a entrevista coletiva, a Finlândia anunciou a publicação de um “Livro Branco” formal sobre as “mudanças fundamentais no ambiente de segurança”, destinado a informar o debate parlamentar sobre o assunto.
Ao lado de Marin, sua homóloga sueca, Magdalena Andersson, disse que “é importante para a Súecia acompanhar a discussão na Finlândia, por isso precisamos ter contatos muito próximos".
— Mas precisamos de um processo na Suécia para pensar nisso — afirmou Andersson. — É claro que há prós e contras em ser membro da Otan, assim como há prós e contras em outras opções de segurança.
A Suécia também está revisando sua política de segurança, e o resultado da revisão deve ser anunciado em maio. Segundo a premier finlandesa, a decisão dos dois países será anunciada separadamente.
Sanções : Finlândia interrompe serviço dos últimos trens entre Rússia e União Europeia
O jornal sueco SvD, citando fontes do governo não identificadas, publicou uma notícia nesta quarta-feira na qual informa que o governo, liderado pelos social-democratas, já decidiu se candidatar à adesão à Otan. Segundo o jornal, o governo deve esperar que a Finlândia decida fazê-lo primeiro, e apresentará o pedido na cúpula de Madri em 29 e 30 de junho.
Na segunda-feira, o governo anunciou um debate interno para estudar a possibilidade.
No começo de março, a premier sueca descartou pedidos da oposição para se unir à Otan. Historicamente, os dois países nórdicos são próximos da aliança.
A liderança da Otan é discreta sobre novas adesões, e costuma afirmar apenas que a organização tem uma política de portas abertas e qualquer país pode pleitear um convite. Após uma reunião de ministros das Relações Exteriores da aliança na semana passada, o secretário-geral, Jens Stoltenberg, disse em referência a Finlândia e Suécia que “não há outros países mais próximos da Otan” e que ambos "podem facilmente se juntar à aliança se decidirem se candidatar".
Vitória interna : Rússia dribla sanções e está abarrotada de exportações de petróleo e gás
Na segunda-feira, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse que a Otan “continua sendo uma ferramenta voltada para o confronto, e sua expansão não trará estabilidade ao continente europeu”.
Peskov também afirmou que, se os ingressos se confirmarem, a Rússia precisará "reequilibrar a situação" com suas próprias medidas.
A entrada dos dois países representaria uma vitória política para os Estados Unidos, ao fortalecer a aliança atlântica e aproximar os países da esfera de influência americana.
Segundo Mike Mazarr, analista de defesa da RAND Corporation, “esses passos (...) ajudam a alcançar um objetivo menos imediato, mas fundamental da estratégia dos EUA: deixar 100% claro que a posição estratégica geral da Rússia é mensuravelmente pior após esta invasão”.