Forças russas atacam alvos em toda a Ucrânia após Putin ordenar invasão

Centros de comando militares da Ucrânia na capital, Kiev, e em Kharkiv são alvo de ataque de mísseis; tropas russas chegam a Mariupol e Odessa
Fumaça preta sobe de um aeroporto militar em Chuguyev, perto de Kharkiv, na Ucrânia Foto: ARIS MESSINIS / AFP

MOSCOU — Forças russas atacaram alvos em toda a Ucrânia, após o presidente Vladimir Putin prometer “desmilitarizar” o país e substituir seus líderes na manhã de quinta-feira, desencadeando uma " invasão em grande escala " contra o país e a pior crise de segurança na Europa desde a Segunda Guerra Mundial, enquanto o Ocidente ameaça punir com mais sanções em resposta.

Tempo Real : Forças russas invadem toda a Ucrânia

A Rússia lançou uma barragem de mísseis, artilharia e ataques aéreos na quinta-feira. Explosões foram ouvidas em Kiev, a capital; em Kharkiv, a segunda maior cidade; e em Kramatorsk, na região de Donetsk, um dos dois territórios do Leste da Ucrânia reivindicados por separatistas apoiados pela Rússia desde 2014. Fumaça preta pôde ser vista no Ministério da Defesa da Ucrânia, no centro de Kiev.

 

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A guarda de fronteira da Ucrânia disse que ser alvo de bombardeios a partir de cinco regiões, incluindo da Crimeia, no Sul, e da Bielorrússia, ao Norte, enquanto colunas de tanques russos se moviam para o país. O Ministério do Interior da Ucrânia disse que Kiev está sob ataque e instou os cidadãos a se protegerem em abrigos.

Segundo a agência russa Interfax, tropas russas entraram nas cidades portuárias de Odessa e Mariupol, o principal município sob controle de Kiev na linha de frente com os separatistas pró-Moscou no Leste do país.

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Em um discurso televisionado nacionalmente antes da ofensiva, Putin disse que a Rússia não planeja “ocupar” seu vizinho, mas que a ação era necessária depois que os EUA e seus aliados cruzaram as “linhas vermelhas” da Rússia ao expandir a aliança da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). O presidente dos EUA, Joe Biden, chamou a ação de Putin de “um ataque não provocado e injustificado” e disse que “o mundo responsabilizará a Rússia”.

— Tomei a decisão por uma operação miitar — anunciou Putin em uma mensagem inesperada pela TV, denunciando um suposto genocício orquestrado pela Ucrânia contra a população de origem russa no Leste do país.

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Trânsito foi intenso nas primeiras horas do dia. Metrô é rota de fuga

Putin ainda advertiu contra qualquer interferência externa:

— Quem tentar interferir, ou ainda mais, criar ameaças para o nosso país e nosso povo, deve saber que a resposta da Rússia será imediata e levará a consequências como nunca antes experimentado na história — disse.

Pouco depois do anúncio, surgiram relatos de ataques a várias cidades ucranianas, incluindo a capital, Kiev, que amanheceram ao som de sirenes de alerta. Uma autoridade do governo ucraniano informou que ao menos 40 soldados ucranianos morreram nos ataques russos e há dezenas de feridos. Militares ucranianos também divulgaram terem matado 50 soldados russos na fronteira oriental e abatido cinco aviões e um helicóptero russos na região de Luhansk, o que não foi confirmado pela Rússia.

Escola destruída como resultado de uma luta não muito longe do centro da cidade ucraniana de Kharkiv, uma das maiores do país Foto: SERGEY BOBOK / AFP - 28/02/2022
Uma visão mostra um veículo de mobilidade de infantaria todo-o-terreno do Exército russo destruído Tigr-M (Tiger) em uma estrada em Kharkiv, Ucrânia, em 28 de fevereiro de 2022. REUTERS/Vitaliy Gnidyi Foto: VITALIY GNIDYI / REUTERS - 28/02/2022
Corpos de soldados russos estavam do lado de fora de uma escola destruída em Kharkiv Foto: SERGEY BOBOK / AFP
Bombeiros controlam incêndio em um prédio após bombardeios na cidade de Chuguiv, no leste da Ucrânia Foto: ARIS MESSINIS / AFP
Militares ucranianos assumem posições na base aérea militar Vasylkiv, na região de Kiev, Ucrânia Foto: MAKSIM LEVIN / REUTERS - 27/02/2022
Membros do serviço ucraniano procuram e coletam projéteis não detonados após um ataque a Kiev neste sábado pela manhã Foto: SERGEI SUPINSKY / AFP
Míssel russo atingiu prédio residencial da capital Kiev Foto: GLEB GARANICH / REUTERS
Pessoa fica em frente a um prédio residencial danificado, depois que a Rússia lançou uma operação militar maciça contra a Ucrânia, em Kiev, Ucrânia Foto: UMIT BEKTAS / REUTERS
Apartamento destruído durante o bombardeio pesado pelas forças russas em Severodonetsk, região de Donetsk, em 28 de fevereiro de 2022. (Foto de Anatolii Stepanov / AFP) Foto: ANATOLII STEPANOV / AFP - 28/02/2022
Homem lamenta diante do prédio destruído por bombardeios na cidade de Chuguiv, no leste da Ucrânia Foto: ARIS MESSINIS / AFP
Grupo de pessoas de regiões controladas por separatistas no leste da Ucrânia cruza a fronteira com a Rússia no posto de controle em Avilo-Uspenka Foto: OLGA MALTSEVA / AFP
Homem chora ao telefone ao lado de um corpo após bombardeios na cidade de Chuguiv, no leste do país Foto: ARIS MESSINIS / AFP
Restos de um projétil em uma rua em Kiev, alvo de ataque russo Foto: SERGEI SUPINSKY / AFP
Militares ucranianos ao lado de um veículo blindado destruído, que eles dizem pertencer ao exército russo, nos arredores de Kharkiv Foto: MAKSIM LEVIN / REUTERS
Militar ucraniano segura um lançador de granadas em posições de combate fora de Kharkiv Foto: MAKSIM LEVIN / REUTERS
Polícia inspeciona restos de um projétil lançado em uma rua em Kiev Foto: SERGEI SUPINSKY / AFP
Civis ficam do lado de fora de um prédio destruído após bombardeios na cidade de Chuguiv. Foto: ARIS MESSINIS / AFP
Mulher ferida durante bombardeio da cidade de Chuguiv, no leste da Ucrânia Foto: ARIS MESSINIS / AFP
Militares ucranianos se preparam para repelir um ataque na região de Lugansk, na Ucrânia Foto: ANATOLII STEPANOV / AFP
Corpo de um soldado, que militares ucranianos afirmam ser da Rússia, é visto em uma estrada nos arredores de Kharkiv Foto: MAKSIM LEVIN / REUTERS
Homens mobilizados para o serviço militar embarcam em ônibus em Donetsk Foto: ALEXANDER ERMOCHENKO / REUTERS
Tanques ucranianos entram na cidade após o presidente russo Vladimir Putin autorizar uma operação militar no leste da Ucrânia, em Mariupol Foto: CARLOS BARRIA / REUTERS
Fuga em massa. Carros dirigem-se para a saída de Kiev após Rússia iniciar bombardeios à capital Foto: VALENTYN OGIRENKO / REUTERS
Mulheres se abrigam em uma estação de metrô em Kiev. Sirenes de ataque aéreo soaram no centro da capital hoje, quando cidades da Ucrânia foram atingidas por ataques de mísseis e artilharia russos Foto: DANIEL LEAL / AFP
Nuvem de fumaça preta sobe de um aeroporto militar em Chuguyev, perto de Kharkiv Foto: ARIS MESSINIS / AFP
Casal americano se abraça após cruzar a fronteira e fugir da violência na Ucrânia, em Medyka, Polônia Foto: BRYAN WOOLSTON / REUTERS

Os centros de comando militares da Ucrânia na capital e em Kharkiv foram alvo de ataque de mísseis, informou o site de notícias Ukrainska Pravda, citando uma fonte do Ministério do Interior ucraniano. Segundo a Interfax, tropas russas entraram nas cidades portuárias de Odessa e Mariupol, o principal município sob controle de Kiev na linha de frente com os separatistas pró-Moscou no Leste do país.

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenskiy, pediu nesta quinta-feira que todos os cidadãos que estavam prontos para defender o país das forças russas se apresentassem, dizendo que Kiev entregaria armas a todos que as quisessem. Zelenskiy também pediu aos russos que saíssem e protestassem contra a guerra. Separadamente, o Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia disse que “a situação está sob controle” e que as tropas russas estão sofrendo perdas.

Zelensky “deu ordens para infligir perdas máximas contra o agressor”, disse o comandante-em-chefe das Forças Armadas da Ucrânia, major-general Valeriy Zaluzhny. O conselheiro presidencial Mykhailo Podoliak disse que as forças da Ucrânia estão “travando um combate pesado” e repelindo os avanços russos em algumas partes. Autoridades ucranianas disseram que a Rússia estava mirando principalmente em infraestrutura e silos militares, atingindo uma série de campos aéreos.

O ataque começou enquanto o Conselho de Segurança da ONU se reunia pela segunda vez nesta semana, com apelos dos países-membros para que Moscou não lançasse a ação. Vários países se apressaram em condenar a ação militar russa na Ucrânia, entre eles França, Portugal, Japão, Itália e Suécia. A China afirmou que está acompanhando de perto a crise e aconselhou seus cidadãos na Ucrânia a permanecerem em casa.

Escola destruída como resultado de uma luta não muito longe do centro da cidade ucraniana de Kharkiv, uma das maiores do país Foto: SERGEY BOBOK / AFP - 28/02/2022
Uma visão mostra um veículo de mobilidade de infantaria todo-o-terreno do Exército russo destruído Tigr-M (Tiger) em uma estrada em Kharkiv, Ucrânia, em 28 de fevereiro de 2022. REUTERS/Vitaliy Gnidyi Foto: VITALIY GNIDYI / REUTERS - 28/02/2022
Corpos de soldados russos estavam do lado de fora de uma escola destruída em Kharkiv Foto: SERGEY BOBOK / AFP
Bombeiros controlam incêndio em um prédio após bombardeios na cidade de Chuguiv, no leste da Ucrânia Foto: ARIS MESSINIS / AFP
Militares ucranianos assumem posições na base aérea militar Vasylkiv, na região de Kiev, Ucrânia Foto: MAKSIM LEVIN / REUTERS - 27/02/2022
Membros do serviço ucraniano procuram e coletam projéteis não detonados após um ataque a Kiev neste sábado pela manhã Foto: SERGEI SUPINSKY / AFP
Míssel russo atingiu prédio residencial da capital Kiev Foto: GLEB GARANICH / REUTERS
Pessoa fica em frente a um prédio residencial danificado, depois que a Rússia lançou uma operação militar maciça contra a Ucrânia, em Kiev, Ucrânia Foto: UMIT BEKTAS / REUTERS
Apartamento destruído durante o bombardeio pesado pelas forças russas em Severodonetsk, região de Donetsk, em 28 de fevereiro de 2022. (Foto de Anatolii Stepanov / AFP) Foto: ANATOLII STEPANOV / AFP - 28/02/2022
Homem lamenta diante do prédio destruído por bombardeios na cidade de Chuguiv, no leste da Ucrânia Foto: ARIS MESSINIS / AFP
Grupo de pessoas de regiões controladas por separatistas no leste da Ucrânia cruza a fronteira com a Rússia no posto de controle em Avilo-Uspenka Foto: OLGA MALTSEVA / AFP
Homem chora ao telefone ao lado de um corpo após bombardeios na cidade de Chuguiv, no leste do país Foto: ARIS MESSINIS / AFP
Restos de um projétil em uma rua em Kiev, alvo de ataque russo Foto: SERGEI SUPINSKY / AFP
Militares ucranianos ao lado de um veículo blindado destruído, que eles dizem pertencer ao exército russo, nos arredores de Kharkiv Foto: MAKSIM LEVIN / REUTERS
Militar ucraniano segura um lançador de granadas em posições de combate fora de Kharkiv Foto: MAKSIM LEVIN / REUTERS
Polícia inspeciona restos de um projétil lançado em uma rua em Kiev Foto: SERGEI SUPINSKY / AFP
Civis ficam do lado de fora de um prédio destruído após bombardeios na cidade de Chuguiv. Foto: ARIS MESSINIS / AFP
Mulher ferida durante bombardeio da cidade de Chuguiv, no leste da Ucrânia Foto: ARIS MESSINIS / AFP
Militares ucranianos se preparam para repelir um ataque na região de Lugansk, na Ucrânia Foto: ANATOLII STEPANOV / AFP
Corpo de um soldado, que militares ucranianos afirmam ser da Rússia, é visto em uma estrada nos arredores de Kharkiv Foto: MAKSIM LEVIN / REUTERS
Homens mobilizados para o serviço militar embarcam em ônibus em Donetsk Foto: ALEXANDER ERMOCHENKO / REUTERS
Tanques ucranianos entram na cidade após o presidente russo Vladimir Putin autorizar uma operação militar no leste da Ucrânia, em Mariupol Foto: CARLOS BARRIA / REUTERS
Fuga em massa. Carros dirigem-se para a saída de Kiev após Rússia iniciar bombardeios à capital Foto: VALENTYN OGIRENKO / REUTERS
Mulheres se abrigam em uma estação de metrô em Kiev. Sirenes de ataque aéreo soaram no centro da capital hoje, quando cidades da Ucrânia foram atingidas por ataques de mísseis e artilharia russos Foto: DANIEL LEAL / AFP
Nuvem de fumaça preta sobe de um aeroporto militar em Chuguyev, perto de Kharkiv Foto: ARIS MESSINIS / AFP
Casal americano se abraça após cruzar a fronteira e fugir da violência na Ucrânia, em Medyka, Polônia Foto: BRYAN WOOLSTON / REUTERS

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Na Casa Branca, o presidente dos EUA, Joe Biden, classificou o ataque russo de "injustificado".

"O presidente (Vladimir) escolheu uma guerra premeditada que vai causar uma catastrófica perda de vida e sofrimento humano", disse Biden em uma declaração. "A Rússia sozinha é responsável pela morte e a destruição que esse ataque vai causar. O mundo cobrará contas da Rússia", acrescentou Biden, afirmando que anunciará ainda nesta quinta, junto com os aliados americanos, mais punições à Rússia.

A União Europeia também considerou o ataque "injustificado", afirmando que responsabilizará Moscou pela invasão, segundo anunciou a chefe da Comissão Executiva do bloco, Ursula von der Leyen.

"Nestas horas sombrias, nossos pensamentos estão com a Ucrânia e as mulheres, homens e crianças inocentes que enfrentam esse ataque não provocado e temem por suas vidas", disse ela no Twitter. "Vamos responsabilizar o Kremlin", acrescentou von der Leyen.

Os líderes da UE devem realizar uma cúpula de emergência em Bruxelas, ainda nesta quinta-feira, depois que uma primeira rodada de sanções da UE à Rússia entrou em vigor no dia anterior. Espera-se que as sanções a seguir sejam muito mais agressivas do que as anteriores, e que a UE vá congelar ativos russos e interrompa o acesso de seus bancos ao mercado financeiro europeu, segundo altos funcionários europeus. Também deve ocorrer uma reunião de emergência da Otan e uma reunião do G7 por videoconferência nesta quinta-feira.

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O chanceler alemão Olaf Scholz disse na quinta-feira que as sanções ocidentais garantirão que a Rússia pague um "preço amargo" por seu ataque.

— Putin está trazendo sofrimento e destruição para seus vizinhos diretos, ele está violando a soberania e as fronteiras da Ucrânia — disse Scholz a repórteres em Berlim. — Ele está colocando em risco a vida de inúmeras pessoas inocentes na Ucrânia, nação irmã da Rússia. Por último, ele está colocando em risco a ordem da paz em nosso continente. Não há justificativa para tudo isso. Esta é a guerra de Putin.

O ataque foi iniciado um dia após Moscou declarar que as autoproclamadas repúblicas separatistas de Donetsk e Luhansk haviam pedido ajuda para repelir "agressões" de Kiev, em meio a crescentes alertas dos EUA de que um grande ataque era iminente.

O presidente russo, que justificou a ação citando o pedido de ajuda dos separatistas e o que chamou de política agressiva da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) contra Moscou, pediu aos militares ucranianos que "deponham as armas".

Puin ainda advertiu que aqueles que "tentarem interfir conosco (...) devem saber que a resposta da Rússia será imediata e conduzirá a consequências que jamais conheceram".

— Estou seguro de que os soldados e oficiais russos cumpriram seu dever com coragem. A segurança do país está garantida — afirmou.

A operação foi lançada depois de Moscou vetar voos sobre parte da região de Rostov, a Leste de sua fronteira com a Ucrânia, que, por sua vez, anunciou o "perigo potencial" para a aviação civil ao restringir o tráfego em seu espaço aéreo. Posteriormente, todos os voos foram cancelados em Rostov.

Na noite de quarta-feira, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, havia feito um pronunciamento dramático de nove minutos na TV. Falando a maior parte do tempo em russo — e se dirigindo à população russa —, pediu que a Rússia não invadisse o país.

— O povo ucraniano quer a paz — disse, citando a história comum das duas nações. — O governo ucraniano quer a paz e está fazendo tudo para construí-la.

Horas antes, o Parlamento ucraniano havia aprovado um estado de emergência após o governo adotar uma série de medidas de preparação para uma guerra, desde convocar reservistas a pedir para seus cidadãos deixarem a Rússia imediatamente.

A Rússia também havia esvaziado sua embaixada em Kiev, e muitos países, incluindo o Brasil, pediram para seus cidadãos deixarem o país.