G20 no Brasil
PUBLICIDADE
Por — São Paulo

O ministro da Economia e Finanças da França, Bruno Le Maire, afirmou que o sistema internacional não possui nenhuma base legal para que ativos russos congelados por sanções ocidentais sejam retirados e enviados para a Ucrânia — proposta americana defendida pela secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, na terça-feira. Em uma declaração no G20, em São Paulo, Le Maire afirmou que é cada vez mais necessária a construção de uma unidade em torno de Kiev na guerra com a Rússia, mas que é necessário respeitar o direito internacional.

— Não acreditamos que exista uma base jurídica suficiente. Entendemos que tomar uma decisão tão significativa [utilizar ativos bloqueados de outro país], que consiste em utilizar a propriedade estatal, necessita de uma base jurídica muito forte. E essa base jurídica deve ser aceita não só pelos países europeus, não só pelos países do G7, mas por todos os estados membros da comunidade internacional — afirmou Le Maire, em uma declaração à imprensa no Prédio da Bienal, na capital paulista.

O ministro francês afirmou que a crise no Leste Europeu é um dos principais fatores de instabilidade para a economia global, mencionando também a crise de segurança no Oriente Médio e no Mar Vermelho. Le Maire disse que tanto ele quanto o presidente francês, Emmanuel Macron, entendem que a guerra na Ucrânia deve acabar com uma "vitória para o povo ucraniano", mas questionou o método mencionado por Yellen no dia anterior.

A secretária americana afirmou, em um evento na terça-feira, que os líderes globais deveriam apoiar uma medida para que os recursos da Rússia alocados no exterior fossem desbloqueados e usados para financiar a resistência ucraniana e ajudar o país no longo prazo. Segundo Yellen, a medida seria "uma resposta decisiva à ameaça sem precedentes da Rússia à estabilidade global" e ajudaria a forçar Putin a sentar à mesa de negociação. A autoridade americana, contudo, admitiu que haveria "riscos financeiros" intrínsecos à decisão, mas que Washington estudava medidas para mitigá-los.

Encontro virtual de Haddad com Janet Yellen, secretária do Tesouro — Foto: Diogo Zacarias/MF
Encontro virtual de Haddad com Janet Yellen, secretária do Tesouro — Foto: Diogo Zacarias/MF

Apesar do ceticismo quanto ao uso dos ativos, Le Maire defendeu a continuidade do uso dos lucros provenientes dos valores congelados — de acordo com o ministro, há cerca de 300 bilhões de euros (R$ 1,6 trilhão, aproximadamente) bloqueados por países do G7. O representante francês afirmou que a utilização desses recursos foi proposta pelo país em uma reunião do Fundo Monetário Internacional (FMI) no ano passado. Ele estimou que entre 3 bilhões e 5 bilhões de euros (entre cerca de R$ 16 bilhões e R$ 27 bilhões) foram usados desde então.

— Os países do G7, os países europeus, não devem tomar qualquer medida que possa prejudicar o sistema jurídico internacional. O G7 baseia-se no Estado de Direito. O G7 deve agir respeitando o Estado de Direito. O que significa que, se não temos a base legal para apreender os ativos russos, precisamos trabalhar mais — afirmou.

O tema dos ativos russos movimentou os encontros à margem do G20. Em uma reunião entre integrantes do G7, na terça, o tema entrou em pauta, com posicionamentos divergentes entre as principais capitais ocidentais. Em uma declaração à agência francesa AFP, o ministro das Finanças da Alemanha, Christian Lindner, afirmou que o uso de ativos russos congelados foi discutido entre as autoridades, chamando-o de “um passo realista e juridicamente seguro, que pode ser implementado em curto prazo”.

O encontro à margem do G20 entre as principais economias ocidentais (Reino Unido, Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão e Estados Unidos, mais a União Europeia) focou na renovação do apoio ocidental à Ucrânia, em um momento em que Kiev pede por mais apoio internacional. De acordo com fontes do governo francês, o ministro ucraniano das Finanças ucraniano, Serhiy Marchenko, participou virtualmente da discussão. O tema da apropriação dos ativos russos foi debatido.

Após a declaração pública de Yellen, ainda na terça-feira, o ministro das Finanças da Rússia, Anton Siluanov, classificou como "profundamente falaciosa" e "destrutiva" a proposta de confisco dos ativos russos. De acordo com Siluanov, a medida afetaria os pilares do sistema financeiro mundial, tornando as reservas em ouro e moeda estrangeira dos países "vulneráveis e suscetíveis a decisões políticas". O russo prometeu uma resposta à altura caso a medida fosse concretizada.

O ministro das Finanças russo, Anton Siluanov, em entrevista no G20 — Foto: Renato Vasconcelos/O GLOBO
O ministro das Finanças russo, Anton Siluanov, em entrevista no G20 — Foto: Renato Vasconcelos/O GLOBO

— Quanto à nossa resposta, temos algo com que responder, porque temos [ativos] congelados do nosso lado. Dado que uma quantidade considerável de ativos estrangeiros e também de muitos investidores estrangeiros estão investidos nos nossos títulos, tanto no setor empresarial quanto no setor público, e ainda estamos efetuando pagamentos aos detentores de tais títulos russos no estrangeiro — afirmou. — Essas decisões não nos levariam ao caminho certo porque, em vez de agravar a situação, precisamos diminuir a escalada, reduzir as tensões. Se as contrapartes decidirem prosseguir por esse caminho, responderemos simetricamente.

Tensões com a Rússia

A posição mais cautelosa com relação ao confisco dos ativos russos ocorre após um pico de tensão entre Paris e Moscou motivada por falas do presidente francês, Emmanuel Macron, consideradas ofensivas pelo Kremlin. Na segunda-feira, Macron afirmou que o envio de tropas ocidentais à Ucrânia não poderia "ser excluído".

— Nós faremos tudo que seja necessário para garantir que a Rússia não vença essa guerra. Todo o possível para alcançar esse objetivo — disse o presidente francês, acrescentando que nem mesmo o envio de tropas terrestres deveria ser descartado, embora pontuando que não há consenso sobre o tema. — Muitas pessoas que dizem "nunca, nunca" hoje foram as mesmas que diziam "nunca [mandaremos] tanques, aviões, mísseis de longo alcance" há dois anos. Tenhamos a humildade de notar que muitas vezes atrasamos de 6 a 12 meses [na tomada de decisões]. Este foi o objetivo da discussão desta noite: tudo é possível se for útil para atingir o nosso objetivo.

A Rússia rebateu as declarações do líder francês um dia depois, na terça-feira, afirmando que o envio de soldados para a Ucrânia "não convém" ao Ocidente. O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, afirmou a jornalistas que o simples fato de Macron ter levantado essa possibilidade supõe "um novo elemento muito importante" na guerra, que completou dois anos no último fim de semana.

A fala causou inquietação na própria França e entre líderes europeus, que, apesar do apoio financeiro e militar a Kiev, rejeitam o envio de forças terrestres. A Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e o governo dos EUA, principal integrante da aliança militar, também afastaram a ideia. (Com AFP)

Mais recente Próxima G20: Brasil quer fundo anual de US$ 79 bilhões contra a fome
Mais do Globo

Trabalhador de 28 anos tentava salvar máquinas da empresa e foi engolido pelo fogo

Brasileiro morre carbonizado em incêndio florestal em Portugal

Marçal prestou depoimento nesta segunda-feira (16) sobre o episódio

Novo vídeo: ângulo aberto divulgado pela TV Cultura mostra que Datena tentou dar segunda cadeirada em Marçal

Polícia Civil deve cumprir mandados de prisão contra os suspeitos ainda esta semana

Incêndios florestais no RJ: 20 pessoas são suspeitas de provocar queimadas no estado

Além de estimativas frustradas, ministro diz que comunicação do BC americano levou analistas a vislumbrar possibilidade de subida na taxa básica americana

Haddad vê descompasso nas expectativas sobre decisões dos BCs globais em torno dos juros

Ministro diz que estes gastos fora do Orçamento não representariam violação às regras

Haddad: Crédito extraordinário para enfrentar eventos climáticos não enfraquece arcabouço fiscal

Presidente irá se reunir com chefes do STF e Congresso Nacional para tratar sobre incêndios

Lula prepara pacote de medidas para responder a queimadas

Birmingham e Wrexham estão empatados na liderança da competição

'Clássico de Hollywood': time de Tom Brady vence clube de Ryan Reynolds pela terceira divisão inglesa

Projeto mantém medida integralmente em 2024 e prevê reoneração a partir de 2025

Lula sanciona projeto de desoneração da folha de pagamento de setores intensivos em mão de obra

Empresas de combustível foram investigadas pelo Ministério Público por esquema de fraudes fiscais

Copape e Aster pedem recuperação judicial para tentar reverter cassação de licenças pela ANP