G20 no Brasil
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Por — São Paulo

Será difícil avançar nos temas propostos pelo Brasil como prioritários para as discussões do G20, o grupo que reúne as vinte maiores economias do planeta, afirma o economista Otaviano Canuto, ex-vice-presidente do Banco Mundial e pesquisador do Policy Center for the New South, um centro de estudos sediado no Marrocos que reúne especialistas de vários países.

Para ele, a volta do protecionismo e a fragmentação das cadeias de valor construídas no auge do processo de integração da economia global tendem a dificultar a busca dos compromissos necessários para acelerar o desenvolvimento dos países mais pobres e o uso de fontes de energia mais limpas, dois objetivos sugeridos pelo Brasil como presidente do grupo neste ano.

— A tendência atual de fragmentação da economia global parece difícil de reverter — diz Canuto, que acompanha as discussões do G20 desde 2003, quando chefiou a Secretaria de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda, no primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. — O Brasil deveria realçar o custo econômico que essa fragmentação impõe a todos os países.

O que se pode esperar das discussões do G20 sob a liderança do Brasil?

Quando o grupo surgiu, no fim dos anos 1990, somente ministros de Finanças e presidentes dos bancos centrais participavam das reuniões. Na visão dos países avançados, era um fórum para promoção de políticas econômicas e regulatórias que evitassem crises financeiras como as que tinham atingido a Ásia e a Rússia, com efeitos no mundo todo.

Fazer parte do grupo era sinal de prestígio para os países emergentes, como o Brasil, e também uma oportunidade para que eles expressassem seus pontos de vista. Depois da crise financeira global de 2008, o Brasil soube usar bem as reuniões para alertar para os efeitos nocivos que a política monetária frouxa dos países ricos tinha então para os fluxos de capital.

Com a crise global, chefes de Estado passaram a participar das reuniões. O G20 não é um fórum para tomada de decisões, mas é um bom lugar para discutir iniciativas comuns. Criaram-se grupos de empresários e especialistas também, e agora será inaugurado outro, congregando a sociedade civil. O grupo abre caminho para cooperação, e isso é importante.

As duas guerras em curso, na Ucrânia e em Gaza, e o avanço de políticas protecionistas no mundo inteiro podem acabar limitando essa cooperação?

Qualquer tentativa de inserir a questão das guerras nas discussões inviabilizaria o comunicado final que os chefes de Estado deverão apresentar em novembro. Não há consenso para tratar desses conflitos. A não ser que seja uma referência inodora, que não terá impacto.

É muito difícil obter o consenso necessário para decisões na Organização das Nações Unidas, ou na Organização Mundial do Comércio. Daí o fracasso da Rodada de Doha de negociações comerciais e de outras iniciativas. Como o G20 não toma decisões, a formação de consensos é mais simples, a princípio. Mas há outros limites que impedem uma cooperação maior no grupo.

O senhor poderia citar um exemplo?

A discussão sobre o perdão de dívidas dos países mais pobres. Em 2020, no auge da pandemia de covid-19, os países do G20 concordaram com a suspensão temporária do serviço dessas dívidas. Mas muitos continuam com dificuldade para administrar essas dívidas, e não há critérios definidos para renegociação. E parte importante do problema está na China.

A China se tornou o maior credor desses países e não aceita a imposição de regras para a renegociação. Ela prefere uma abordagem individual, caso a caso, porque acha que assim conseguirá defender melhor seus interesses e minimizar perdas. Ao renegociar a dívida do Sri Lanka, a China se apropriou do porto que foi construído com o dinheiro que havia emprestado.

Isso pode atrapalhar a discussão das prioridades estabelecidas pelo grupo, como o enfrentamento das mudanças climáticas?

Na questão da transição energética, a China vai vir com tudo. Eles certamente vão insistir na crítica às políticas industriais e comerciais dos Estados Unidos e da União Europeia, que vêm impondo barreiras a fim de desenvolver em casa tecnologias em que a China tem grande vantagem hoje, da produção de equipamentos para geração de energia solar a carros elétricos.

Essas políticas não apenas afetam os interesses chineses, mas também tornarão a transição energética mais lenta no mundo inteiro. Há um contraste entre a liderança dos Estados Unidos na indústria de semicondutores e sua distância da fronteira tecnológica na questão energética.

A nova política industrial dos Estados Unidos é discriminatória com estrangeiros e também impõe custos à China, que vem rearranjando suas cadeias de suprimento com fornecedores no México e na Ásia para tentar contornar as barreiras. Não tenho dúvida de que a Europa fará algo para barrar os carros elétricos chineses, a fim de dar algum alívio às montadoras alemãs.

As indefinições sobre o preço dos créditos de carbono e a constituição de um mercado global para eles atrasam o desenvolvimento de projetos no Brasil. O senhor espera algum avanço no G20?

As instituições multilaterais, especialmente o Fundo Monetário Internacional, insistem há muito tempo que seria importante ter um preço global para estimular a transição. Se você só tiver preço de carbono num lugar, como na Europa, será inevitável adotar barreiras como a tarifa compensatória que eles criaram para barrar a entrada de produtos de países poluidores.

Se só a Europa tiver um preço definido, as empresas irão embora para não pagar esse preço, e a tentativa de redução do consumo de carbono fracassará. É por isso que criaram essa tarifa. Só que ela cria margem enorme para protecionismo, porque você tem que provar que seu produto não emite carbono para entrar lá. E ainda há a ideia de taxar produtos da Amazônia.

A falta de compromisso entre os países limita as opções de venda de carbono. Então, a definição de um mercado global é uma boa bandeira para o Brasil defender, como o atual governo já vem fazendo. Mas, concretamente, seria necessário obter a adesão de outros membros do G20 para avançar. E nos Estados Unidos um preço de carbono é impensável.

Significa que será difícil avançar nessa área?

A tendência atual de fragmentação da economia global parece difícil de reverter. A globalização não vai acabar, mas há um recuo. Os Estados Unidos já deixaram claro que sua prioridade hoje é a segurança nacional e que buscam liderança em semicondutores, energia limpa e biotecnologia para alcançar esse objetivo, mesmo que a um custo econômico elevado. Pode até piorar, se os europeus criarem barreiras contra os subsídios da China aos carros elétricos, ou se os Estados Unidos exigirem contrapartidas do México para evitar que a China use o México para contornar as restrições impostas à sua tecnologia na área de energia limpa. O Brasil deveria realçar o custo econômico que essa fragmentação impõe a todos os países.

*Especial para O GLOBO

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