G20 no Brasil
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Da mobilidade à gestão de recursos naturais, do saneamento à prevenção de desastres. A construção das chamadas cidades inteligentes implica superar uma série de desafios locais para que o espaço urbano seja mais sustentável e resiliente às mudanças climáticas. Para além da ideia futurista que há em torno do tema, as estratégias, segundo especialistas, passam por considerar a realidade de cada município, investir em capacitação da mão de obra e em infraestrutura. Essa foi a visão trazida pelos integrantes do painel “Cidades inteligentes e desenvolvimento: como entregar o futuro aos cidadãos”.

— Existe essa ideia de cidade inteligente como algo futurístico, como a família dos Jetsons. Não é por aí, é inteligência aplicada a espaços urbanos, olhando quais informações produzimos e o que elas dizem sobre como usamos a cidade. (…) Precisamos parar de fazer esse copia e cola de soluções do exterior. E, com isso, trabalhar em projetos que dialoguem com os nossos desafios climáticos — afirma Stella Hiroki, especialista em inovação urbana e cidades inteligentes da PUC-SP.

Ela citou a experiência da prefeitura de Houston, no Texas (EUA), que mapeou as informações que a própria população postava nas redes sociais para criar um plano de emergência na cidade, que, apesar de árida, enfrenta grandes enchentes.

— Com os dados, eles conseguiram ver quais eram os primeiros locais de alagamentos e criaram planos para lidar com enchentes, liberar vias e garantir mobilidade para que as regiões não ficassem isoladas — diz Stella.

A cidade de Joinville, em Santa Catarina, usou dados do aplicativo Waze para reduzir o engarrafamento. Por meio das informações geradas pela plataforma Waze for Cities Data, foi criada uma metodologia para solucionar o problema de tráfego. Com ajustes em apenas uma via pública, a prefeitura conseguiu que a população deixasse de gastar 72 horas paradas no trânsito por ano, conta a especialista.

’Mudança de mentalidade’

Num contexto em que os eventos extremos têm se tornado cada vez mais frequentes por conta das mudanças climáticas, o desenvolvimento de cidades inteligentes precisa considerar também essa nova realidade, avaliaram os especialistas. Para Suzana Kahn, diretora da Coppe/UFRJ, é preciso que as cidades tenham um sistema integrado voltado ao cidadão:

— Um terremoto no Japão em uma região mais pobre vai ter impacto muito menor porque as edificações estão preparadas, os sistemas de alerta já estão funcionando. Aqui no Brasil, temos o Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais), com sistemas de alerta. Mas o que fazer ao receber um alerta? É preciso ter tudo estruturado para agir.

Marcus Quintella, diretor da FGV Transportes: 'Ninguém quer fazer obras que transcendam mandatos políticos' — Foto: Fabio Rossi
Marcus Quintella, diretor da FGV Transportes: 'Ninguém quer fazer obras que transcendam mandatos políticos' — Foto: Fabio Rossi

O diretor da FGV Transportes, Marcus Quintella, defendeu a ampliação de investimentos em infraestrutura das cidades que, em sua avaliação, não estão preparadas para os eventos extremos. Ele explica que há soluções viáveis para melhorar o escoamento das águas, por exemplo, mas a falta de recursos é um gargalo.

— Falar de cidade inteligente na Europa é uma coisa, mas num país emergente como o Brasil é outra história. Todo mundo fala em smartphone, satélite. Mas o que adianta ter essas tecnologias se, quando vejo a estrutura das cidades brasileiras, você está devendo desde a calçada em que pisa? Muitas soluções ficam de fora porque custam caro. Ninguém quer fazer obras que transcendam mandatos políticos. Falta uma mudança de mentalidade — aponta Quintella.

Em um país como o Brasil, com 5.570 municípios, desenvolver cidades inteligentes esbarra nas inúmeras desigualdades sociais, segundo avalia Sabine Zink, cofundadora da SAS Brasil, startup de telemedicina popular.

— Os problemas ambientais geram problemas de saúde. A gente está vendo isso no Rio Grande do Sul, com surtos de leptospirose. Temos que ter inovação que seja social — pondera Sabine.

Conectividade

Cerca de 3,7 bilhões de pessoas não têm acesso à internet no mundo, especialmente nos países menos desenvolvidos, onde apenas 19% da população são conectadas à rede, em média, segundo paper de 2023 do Urban 20, rede de cidades do G20. A ONU estabeleceu a meta de universalizar o acesso em 2030.

'Se nada for feito para capacitar para essa revolução 4.0, mais desigual vai ser a sociedade', diz Suzana Kahn, diretora da Coppe-UFRJ  — Foto: Fabio Rossi
'Se nada for feito para capacitar para essa revolução 4.0, mais desigual vai ser a sociedade', diz Suzana Kahn, diretora da Coppe-UFRJ — Foto: Fabio Rossi

No Brasil, 87% das pessoas com 10 anos ou mais tinham acesso à web em 2022, segundo últimos dados disponíveis do IBGE. No ano anterior, eram 84,7%. Apesar do avanço, Suzana Kahn ressalta a importância de capacitação da população para lidar com as novas tecnologias.

— Quanto mais se exige de conhecimento e tecnologia, mais se abre a “boca do jacaré”. E se nada for feito para capacitar para essa revolução 4.0, mais desigual vai ser a sociedade e as cidades vão perdendo protagonismo na economia regional e mundial.

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