RIO - Os ministros de finanças dos países-membros do G20, grupo que reúne 19 países mais a União Europeia, divulgaram nesta sexta-feira a declaração sobre cooperação tributária internacional. O grande destaque foi o consenso sobre a necessidade de uma tributação progressiva sobre os super-ricos, visto como uma vitória moral e um marco histórico pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Dos 15 tópicos incluídos na declaração, três fazem menção direta aos super-ricos. Os ministros também concordaram que as desigualdades de renda e riqueza estão minando o crescimento econômico e a coesão social.
Com enfoque em um sistema tributário mais “estável” e “justo”, o documento cita como primeiro pilar o imposto progressivo. Ou seja, de modo que as alíquotas ou o valor tributável aumentem de acordo com a renda. Veja alguns dos principais pontos da declaração:
Tributação progressiva
De acordo com o documento, a tributação progressiva foi entendida como uma das principais ferramentas para reduzir as desigualdades dos países, além de fortalecer a sustentabilidade fiscal, promover o crescimento sustentável e facilitar o alcance dos objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU.
Respeito à soberania econômica nacional
A declaração ressalta, contudo, o direito soberano dos países adotarem medidas próprias “que considerem viáveis”. Não houve consenso entre ministros sobre uma taxação global de 2% sobre os super-ricos, como sugeriu economistas da força-tarefa do G20 e o ministro Fernando Haddad.
“As prioridades definidas nacionalmente podem capacitar as jurisdições a exercer seus direitos tributários de forma mais eficaz”, diz o documento.
Compromisso com conclusão dos pilares 1 e 2 da OCDE
Os ministros de finanças do G20 também se mostraram comprometidos a finalizar e “implementar rapidamente” os pilares 1 e 2 da OCDE. O primeiro trata de uma redistribuição de parte dos lucros das empresas multinacionais para onde estão os consumidores. Já o segundo se refere ao estabelecimento de um imposto mínimo global destas empresas sobre seus lucros.
Troca automática de informações para evitar evasão fiscal
A declaração aponta a troca automática de informações (AEOI, na sigla em inglês para Automatic Exchange of Information) em contas financeiras como uma “conquista histórica”. O padrão foi criado pela OCDE em 2017 para combater a evasão fiscal e aumentar a transparência fiscal.
“Ela torna o sigilo financeiro, a evasão fiscal offshore e a elisão mais difíceis e apoia a execução fiscal em mais de 100 jurisdições”.
Apoio à convenção da ONU sobre cooperação tributária
O texto também enaltece a criação de regras básicas para a convenção da ONU sobre cooperação tributária, os chamados Termos de Referência para a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Cooperação Tributária Internacional (UNFCITC, na sigla em inglês). O objetivo do grupo é aproveitar a convenção para melhorar a cooperação tributária entre os países, mas sem repetir trabalhos já feitos.
Super-ricos devem contribuir com parcela justa em impostos
A declaração dos ministros enfatiza que todos os contribuintes, incluindo os super-ricos, devem contribuir com sua parcela justa em impostos.
“A evasão ou sonegação fiscal agressiva de indivíduos com patrimônio líquido ultra-alto pode minar a justiça dos sistemas tributários. (...) Ninguém deve ser capaz de sonegar impostos, inclusive contornando os padrões de transparência”, apontam.
Desigualdades minam crescimento econômico
Os ministros também concordaram que as desigualdades de renda e riqueza estão minando o crescimento econômico e a coesão social. Nesta direção, segundo o documento, a mobilidade internacional dos “super-ricos” acaba criando desafios à criação de tributos para esse grupo específico.
Troca de informações sobre criptoativos
A declaração também enfatiza a necessidade de ampliação de troca de informações sobre criptoativos e imóveis. Segundo ministros do G20, trata-se de uma tarefa desafiadora que requer cooperação tributária internacional aprimorada.
“Estamos ansiosos pelo trabalho contínuo da OCDE sobre o avanço da transparência tributária, inclusive em relação a criptoativos e imóveis, conforme estabelecido no relatório da OCDE para a Presidência Indiana do G20”, disseram.