O Business20 (B20), fórum de empresários do G20, entregará suas propostas ao presidente Lula nesta quarta-feira. Esta é a primeira vez que o setor privado apresenta suas recomendações antes da reunião de cúpula dos líderes do G20 (grupo que reúne as 20 maiores economias do mundo), que acontecerá em novembro, no Rio. A ideia é que os chefes de estado tenham tempo para analisar as sugestões do grupo até o encontro.
O Communiqué, documento preparado pelo B20, inclui 24 recomendações. Finanças, transição energética, diversidade, emprego e transformação digital são alguns dos eixos temáticos que permeiam as propostas do grupo. Acelerar investimentos para transição para uma economia de baixo carbono é um dos anseios.
O material será entregue pelo chefe do B20 Brasil, Dan Ioschpe, e pelo presidente do Conselho Consultivo do fórum e presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Ricardo Alban. A CNI é a entidade responsável por coordenar o fórum do setor privado este ano, período em que o Brasil ocupa a presidência do grupo econômico.
Entre os executivos que participaram das discussões e assinaram o Communiqué estão nomes como Paula Bellizia, vice-presidente da Amazon Web Services (AWS) na América Latina; Gilberto Tomazoni, CEO da JBS; Ricardo Mussa, CEO da Raízen; e Walter Schalka, ex-CEO da Suzano. Veja abaixo as principais propostas dos empresários:
Facilitar a transição para economia de baixo carbono
- Mobilização de capital privado: No eixo 'Finanças e infraestrutura', empresários pedem a revisão do papel do financiamento público para melhorar a alocação de capital. O objetivo é facilitar a mobilização de capital privado para destravar investimentos em escala.
- Revisão de políticas regulatórias: Debater as políticas de capital regulatório e das agências classificadoras de risco é outro pedido dos empresários. A ideia é criar condições mais favoráveis ao aumento de investimentos privados em projetos climáticos.
Dados da COP28 e do Climate Policy Initiative apontam que será necessário um investimento anual de 5 a 8,5 bilhões de dólares, até 2030, para que os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU) sejam atingidos em relação a metas climáticas.
Facilitar a transição energética
- Descabornização: No eixo 'Transição Energética e Clima', os empresários destacam a necessidade de acelerar o desenvolvimento e o uso de soluções de energia renovável e sustentável para impulsionar a descarbonização - medida tanto no curto prazo (até 2030) quanto no longo prazo (até 2050) a fim de garantir a segurança energética.
- Políticas e incentivos: Entre as prioridades está a elaboração de políticas, regulações e incentivos para triplicar a capacidade energética renovável até 2030, expandir a infraestrutura das redes e acelerar a ampla eletrificação.
- Exploração de soluções sustentáveis: Executivos também defendem mecanismos para explorar bioenergia e biocombustíveis, visando alcançar o net zero (neutralidade do carbono) e garantir a segurança alimentar. Soluções de captura, uso e armazenamento de carbono (CCUS), hidrogênio limpo e energia nuclear estariam na esteira.
Impulsionar a sustentabilidade alimentar
- Modelos inovadores de financiamento agrícola: Em 'Sistemas Alimentares Sustentáveis e Agricultura', empresários pedem que os países do G20 usem mecanismos de financiamento combinados, melhorem as capacidades financeiras e redirecionem o apoio agrícola para acelerar a transição dos agricultores para sistemas alimentares resilientes e sustentáveis.
- Estrutura regulatória: Outro pedido feito é a criação de uma estrutura regulatória para acelerar créditos de carbono, além da redução do uso de água doce. Eles destacam que a transformação necessária nos sistemas alimentares exige de US$ 300 a 350 bilhões anuais até 2030.
Promover comércios sustentáveis
- Promoção de comércio e investimentos sustentáveis: Na categoria 'Comércio e investimentos', empresários pedem a promoção de metodologias aceitas internacionalmente para calcular e relatar a pegada de carbono de produtos, além de boas práticas regulatórias e taxonomias para instituições que queiram promover a sustentabilidade ambiental.
- Revisão de políticas comerciais: Líderes também befendem o início da revisão de políticas comerciais restritivas unilaterais dos países do G20 nos últimos três anos. Eles destacam que essas restrições criam distorções no comércio e comprometem a resiliência das cadeias de valor globais.
Criar um ambiente inclusivo para o mercado de trabalho
- Educação e requalificação inclusiva: No eixo 'Mulheres, Diversidade e Inclusão', os líderes empresariais pedem para que seja garantido orçamento público para dar suporte à educação e capacitação para estudantes de baixa renda, com deficiência e outros grupos sociais desde a primeira infância até a requalificação profissional.
- IA inclusiva: Outro pedido é assegurar a implementação de IA sem vieses, com formação de comitês e alianças entre setor público e privado, além de promover a diversidade e inclusão no desenvolvimento desses profissionais.
Preparar a mão de obra para o futuro
- Requalificação e competências digitais: Na categoria 'Emprego e educação', empresários frisam a necessidade de requalificar a força de trabalho em proficiência digital e sustentabilidade, com incentivos financeiros para soluções de aprendizagem integradas no trabalho e reconhecimento de competências.
- Educação básica e profissional: Outro pedido é melhorar a qualidade da educação básica e da educação profissional e tecnológica (EPT) para desenvolver habilidades essenciais para o futuro do trabalho.
- Preparação para o futuro do trabalho: O desafio da escassez de talentos foi citado no documento, e os líderes defendem o aumento da relevância da formação educacional para atender às demandas emergentes do mercado de trabalho.
Atingir a conectividade universal
- Conexão universal e segura: No eixo 'Transformação digital', empresários pedem que seja atinigida a conectividade universal de indivíduos e empresas com confiança digital e cibersegurança. O cenário estabeleceria as bases para uma abordagem responsável e pró-inovação para novas tecnologias, como a inteligência artificial.
- Expansão da infraestrutura de TI: Entre as medidas prioritárias está acelerar a expansão e o uso da infraestrutura de tecnologia da informação e comunicação por meio de modernização regulatória e parcerias público-privadas (PPPs) que incentivem investimento
- colaboração e competição justa.
- Governança da IA: Outro pedido foi o fortalecimento da cooperação internacional para o desenvolvimento e governança responsáveis da IA.
As 24 recomendações do B20 Brasil estarão disponíveis no site oficial do fórum. As propostas serão debatidas durante o B20 Summit Brasil, previsto para os dias 24 e 25 de outubro, em São Paulo. O encontro deverá reunir mais de mil pessoas, entre convidados brasileiros e de países-membros do G20.