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Governos de México e Uruguai denunciam 'golpe de Estado' na Bolívia

Trump, por outro lado, diz que renúncia é um 'forte sinal para os regimes ilegítimos na Venezuela e na Nicarágua'
Policiais ao lado de bandeira da Bolívia em La Paz Foto: KAI PFAFFENBACH / REUTERS/09-11-2019
Policiais ao lado de bandeira da Bolívia em La Paz Foto: KAI PFAFFENBACH / REUTERS/09-11-2019

CIDADE DO MÉXICO - A renúncia de Evo Morales dividiu os países da região. O governo do México afirmou nesta segunda-feira que reconhece Evo Morales como "presidente legítimo" da Bolívia , afirmando que sua renúncia se devia a um "golpe" dado pelo Exército, o que classificou como um grave retrocesso para a região. O Uruguai , na mesma linha, criticou a quebra do Estado de Direito, enquanto presidente Mauricio Macri, da Argentina , seguindo a reação da véspera do governo Bolsonaro, disse que "por enquanto não se pode falar em golpe" no país andino.

Já o presidente Donald Trump disse, em comunicado, que a renúncia de Morales enviava um "forte sinal para os regimes ilegítimos da Venezuela e da Nicarágua" e elogiou os militares bolivianos, cujo ultimato precipitou a renúncia de Morales no domingo, por "obedecer seu juramento de proteger não apenas uma pessoas, mas Constituição" da Bolívia.

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O chanceler mexicano, Marcelo Ebrard , disse que o governo do presidente Andrés Manuel López Obrador não reconhecerá um governo de caráter militar na Bolívia. O México concedeu asilo a Morales .

— Consideramos um golpe o que ocorreu (na Bolívia) ontem. É um golpe porque o Exército pediu a renúncia do presidente e isso violenta a ordem constitucional do país — afirmou Ebrard em uma entrevista coletiva com López Obrador.

Ebrard afirmou que o governo mexicano solicitará uma “reunião urgente” com a Organização dos Estados Americanos para abordar o “golpe de Estado”, criticando o “silêncio” da organização, que não se manifestava sobre a Bolívia desde antes da renúncia de Morales, no domingo. Em nota no fim da manhã desta segunda, a OEA disse rejeitar “qualquer saída inconstitucional” e pediu que a Assembleia Legislativa Plurinacional da Bolívia se reúna para indicar as novas autoridades eleitorais no país.

“A Secretaria Geral solicita uma encontro urgente com a Assembleia Legislativa Plurinacional da Bolívia para garantir o funcionamento institucional e para nomear novas autoridades eleitorais que garantam um novo processo eleitoral”, diz a OEA em nota.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse que a renúncia de Morales preserva "a democracia e abre caminho para que o povo boliviano seja escutado" após uma "tentativa recente de driblar a Constituição boliviana e a vontade popular". Em declaração, o líder americano disse também que a saída do líder boliviano envia "um forte sinal para os regimes ilegítimos na Venezuela e na Nicarágua que a democracia e a vontade popular prevalecerão", deixando o continente "um passo mais próximo de um hemisfério completamente democrático, próspero e livre".

Em comunicado nesta segunda-feira, o Ministério das Relações Exteriores do Uruguai criticou o rompimento do Estado de Direito . “O Uruguai considera que não existem argumentos que possam justificar esses atos, especialmente depois de o presidente Morales anunciar poucas horas antes sua intenção de convocar novas eleições, a partir do informe produzido pela missão eleitoral da Organização dos Estados Americanos”, disse o comunicado.

Em um tom abaixo, o governo da Rússia também lamentou a situação, afirmando que a situação “lembra um golpe de Estado”.

Fim da violência

Ressaltando que a situação “relembra momentos passados da História latino-americana”, a Espanha criticou em comunicado a intervenção militar e policial na política da Bolívia. Em comunicado, o governo do socialista Pedro Sánchez pediu que “todos os atores” evitem violência para garantir a segurança de todos os cidadãos, incluindo o ex-presidente.

Seguindo a mesma linha, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos destacou a importância de a crise política e social “ser resolvida com apego” à Constituição e por vias democráticas, respeitando o Estado de Direito. A Comissão, órgão autônomo da OEA, disse que “faz um apelo a atores políticos e sociais para cessarem todos os atos de violência de organizações ou movimentos de cidadãos”.

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, por sua vez, disse estar "profundamente preocupado" e pediu "máxima moderação" às partes envolvidas. Em um comunicado, o português acrescentou que todos devem se empenhar para "garantir eleições transparentes".