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Independentismo catalão moderado ganha força após eleições

Esquerda Republicana se apresentou como alternativa ao estilo combativo de ex-presidente regional Carles Puigdemont
Porta-voz da ERC, Gabriel Rufián, durante conferência em Barcelona Foto: ALBERT GEA / REUTERS
Porta-voz da ERC, Gabriel Rufián, durante conferência em Barcelona Foto: ALBERT GEA / REUTERS

BARCELONA — Com 22 assentos no Congresso espanhol, quatro deles para os líderes presos, o separatismo catalão ganhou terreno nas eleições de domingo, mas com uma vantagem da moderação da Esquerda Republicana da Catalunha (ERC) sobre o frentismo do ex-presidente catalão Carles Puigdemont.

Com a seu líder e ex-vice-presidente Oriol Junqueras como candidato da prisão, a ERC foi o partido mais votado na região, com 15 deputados, mais que o dobro dos sete obtidos pela coalizão Juntos pela Catalunha, de Puigdemont.

Entre eles ficaram os socialistas (com 12) e o Podemos (com 7), os dois partidos nacionais favoráveis a apaziguar um conflito que atingiu seu ápice em outubro de 2017, com a tentativa frustrada de se separar da Espanha.

— O fator comum é a prevalência da moderação — diz o cientista político da Universidade Autónoma de Barcelona Joan Botella. — Há claramente na Catalunha uma vontade de pacificação do debate.

Estes resultados vêm depois de uma campanha amarga focado no conflito catalão e os constantes ataques da direita espanhola ao primeiro-ministro Pedro Sanchez por ter iniciado negociações com os separatistas. E paralelamente ao julgamento de doze líderes separatistas, nove deles em prisão preventiva, que acontece desde fevereiro na Suprema Corte de Madri.

Cinco dos detidos concorreram nas eleições e foram eleitos (quatro deles para o Parlamento e um para o Senado), e cabe aos juízes agora decidir se eles poderão assumir seus trabalhos parlamentares.

Caminhos inversos

Apesar dessas limitações, as urnas reforçaram neste domingo a distensão, tanto na Espanha, com a vitória de Sanchez contra a direita, e na Catalunha com o triunfo da ERC.

Após o fracasso da ruptura unilateral e a prisão de Junqueras enquanto Puigdemont partia para a Bélgica, o partido moderou sua estratégia.

Defendendo o diálogo e uma estratégia sobre a independência a longo prazo, a ERC recebeu mais de um milhão de votos pela primeira vez em sua história após o revés em eleições regionais, em dezembro de 2017, quando foram surpreendidos por Puigdemont.

O caminho do ex-presidente foi o inverso: o habitual negociador habitual de seu partido Convergencia (agora refundado como PDECAT e integrado ao Juntos pela Catalunha) deu lugar a uma estratégia de bloqueio e manutenção do conflito.

— A disputa entre o Juntos pela catalunha e a Esquerda Republicana está sendo resolvida em favor da ERC, que agora é a parte moderada — diz Botella.

“Agora temos que conversar; é diálogo, diálogo e diálogo”, afirmou nesta segunda-feira o porta-voz da ERC, Gabriel Rufián, convocando Sánchez para uma mesa de negociação, mas sem mencionar o referendo do qual os socialistas não querem abrir mão.

Mais deputados, menos decisivos

Além disso, apesar da melhora de resultados em comparação a 2016 (32-39% dos votos e cinco deputados a mais), “eles já não são tão essenciais para o governo de Sanchez”, diz a analista Berta Barbet.

Na legislatura anterior, o socialista necessitava do apoio dos dois partidos independentistas catalães para alcançar a maioria absoluta. Ele a obteve na moção de desconfiança contra o seu predecessor conservador Mariano Rajoy em junho, mas a perdeu na tentativa de aprovação do Orçamento, que precipitaram as eleições antecipadas.

Agora, com 123 deputados de 350, Sánchez pode ficar a apenas uma  única cadeira da maioria absoluta dos assentos só com o apoio do Podemos e outros partidos regionais não-independentistas. Para assumir o poder só exigiria a abstenção de um dos partidos pró-independência da Catalunha.

Mas dificilmente pactos serão fechados antes de 26 de maio, data das eleições municipais, regionais e europeias na Espanha. Nelas, um duelo direto entre Junqueras e Puigdemont, candidatos ao Parlamento Europeu, para seus respectivos partidos era esperado, mas as autoridades eleitorais espanholas na segunda-feira proibiu que o ex-presidente concorresse.

Para Botella, estas eleições são um “segundo round” do confronto entre as duas forças separatistas. E, no caso de uma nova vitória da ERC, “poderia ter movimentos importantes na Catalunha”.

Com seus rivais desgastados e a paralisia do governo atual coalizão liderada por Quim Torra, um nome próximo a Puigdemont, os republicanos poderiam manobrar para “forçar novas eleições” e governar na Catalunha, pela primeira vez desde a Segunda República Espanhola (1931-1939), afirma Botella.