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Joe Biden anuncia senadora negra Kamala Harris como candidata a vice

Decisão, que vinha sendo prometida desde o final de julho, vem uma semana antes do início da Convenção Nacional Democrata
Joe Biden e Kamala Harris: segundo CNN, senadora será companheira de chapa do candidato democrata Foto: AFP
Joe Biden e Kamala Harris: segundo CNN, senadora será companheira de chapa do candidato democrata Foto: AFP

Depois de semanas de suspense, o candidato democrata à Presidência dos EUA, Joe Biden, confirmou o nome da senadora negra Kamala Harris como sua companheira de chapa na disputa com Donald Trump pelo controle da Casa Branca pelos próximos quatro anos. Em postagem no Twitter, Biden afirmou ter a "grande honra de ter escolhido Kamala Harris, uma lutadora destemida pelos humildes e uma das melhores servidoras públicas do país".

Com a escolha de Harris, Biden busca atrair os votos dos negros, das mulheres e dos eleitores mais progressistas do partido, sem o risco de antagonizar os centristas, já que a senadora de 55 anos fez carreira como promotora de Justiça, quando criou a reputação de ser dura contra a criminalidade.

Na postagem, Biden lembrou que Harris — que chegou a fazer campanha como pré-candidata à Presidência — trabalhou com seu filho, Beau, na Procuradoria Geral da Califórnia, e que acompanhou de perto seu trabalho. Beau Biden morreu em 2015, aos 45 anos, vítima de um tumor no cérebro, um evento que marcou a trajetória do então vice-presidente de Barack Obama e provocou comoção nacional.

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Em sua primeira reação, também no Twitter, Harris afirmou que Biden "poderá unir os americanos porque passou sua vida lutando por eles. Como presidente, construirá um país à altura de seus ideais". Ela disse ainda estar honrada por se juntar à campanha como indicada a vice, e que fará o possível para elegê-lo presidente.

Senadora pela Califórnia e uma das principais políticas negras no Congresso, Kamala Harris, descendente de imigrantes da Jamaica e da Índia, chegou a demonstrar força nos momentos iniciais da disputa democrata pela indicação à Presidência, com ataques contundentes contra Biden, a quem criticou por ter trabalhado bem com senadores que defendiam a segregação racial.

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Sua campanha, porém, chegou ao fim mesmo antes das primeiras primárias, e apenas em março, depois da desistência da senadora Elizabeth Warren, da ala esquerda do partido, ela endossou a candidatura de Joe Biden como o nome democrata.

Como congressista, Harris defendeu reformas no sistema policial dos EUA, com foco no racismo sistêmico nas forças de segurança. Por outro lado, suas ações vistas como lenientes em casos de violência policial, quando atuou como promotora, são levantadas com certa frequência por ativistas do movimento negro.

— É uma escolha inteligente do ponto de vista eleitoral — afirmou Carlos Gustavo Poggio, professor de Relações Internacionais da FAAP (Fundação Armando Álvares Penteado). — Biden não tem muita proximidade com ela, o que foge um pouco das escolhas recentes de candidatos a vice. Foi uma escolha focada no impacto eleitoral.

Além do lado político,  Poggio ressalta as origens da senadora como um ponto favorável:

— É a primeira mulher negra a concorrer à Vice-Presidência, também a primeira pessoa de origem indo-americana. Essa comunidade é bem organizada e tem bastante força, e isso pode ser um elemento importante —  disse.

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Convenção à vista

O anúncio do nome da senadora foi feito seis dias antes do início da Convenção Nacional Democrata, na segunda-feira. Nesta quarta, os dois aparecerão pela primeira vez juntos como a chapa presidencial do partido em um evento em Delaware, estado onde Biden mora.

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A escolha da vice é vista como importante no caso de Biden, que não é dotado de especial carisma. Com posições palatáveis a moderados e setores mais à esquerda, além de uma rejeição relativamente baixa, de acordo com os números das primárias, Harris pode dar alguma musculatura à chapa. Além disso, Biden terá 78 anos em janeiro, em caso de assumir a Casa Branca.

Atualmente, o democrata lidera as pesquisas nacionais por uma diferença média de  sete pontos sobre Trump. Resta saber se a escolha da vice pode ter um impacto duradouro nesses números.

— Esse tipo de ação tem, historicamente, um efeito de curto prazo, algum efeito imediato nas pesquisas, mas depois volta-se a falar dos temas de campanha — afirmou Poggio.

A convenção democrata será minimalista por causa da pandemia do novo coronavírus, com a maioria das sessões realizadas de forma virtual, mas buscará funcionar como um ponto de união dentro do Partido Democrata: poucos querem repetir a divisão extrema da campanha de 2016, quando a disputa entre Hillary Clinton e o senador Bernie Sanders se arrastou até a convenção, algo que é visto como um dos vários fatores determinantes para a derrota da democrata para Trump.

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Sanders fará um dos discursos no primeiro dia da convenção, que também terá as palavras da presidente da Câmara, Nancy Pelosi, do líder da minoria no Senado, Chuck Schumer, além dos ex-presidentes Bill Clinton e Barack Obama.

Obama afirmou que a escolha de Harris marcou um "dia lindo" para os EUA e disse que Harris está "mais do que preparada para o cargo". "Joe tem uma parceira ideal para ajuda-lo a enfrentar os verdadeiros desafios da América. Agora, à vitória", disse Obama, no Twitter.

Uma presença interessante na convenção será a do ex-governador de Ohio, o republicano John Kasich, que travou uma violenta disputa com Donald Trump nas primárias de 2016. Hoje, ele representa uma parcela do partido que apoia abertamente Joe Biden.

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