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Justiça chilena aumenta pena de ex-militares condenados por sequestro e assassinato de Víctor Jara

Cantor e compositor e o ex-diretor penitenciário Littré Quiroga foram mortos dias após o golpe militar comandado por Augusto Pinochet, em setembro de 1973

O cantor chileno Víctor Jara, torturado e morto em Santiago do Chile durante a ditadura de Augusto Pinochet
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O cantor chileno Víctor Jara, torturado e morto em Santiago do Chile durante a ditadura de Augusto Pinochet Foto: / AP

SANTIAGO — A justiça chilena aumentou as penas aplicadas a sete ex-militares condenados em 2018 pelo sequestro e assassinato do famoso cantor e compositor Víctor Jara e do ex-diretor penitenciário Littré Quiroga, dias após o golpe militar comandado por Augusto Pinochet, em 11 de setembro de 1973.

— O tribunal decidiu por unanimidade requalificar a sentença imposta por crime simples de sequestro para sequestro duplamente qualificado — informou Alejandro Rivera, juiz do Tribunal de Justiça de Santiago, nesta terça-feira.

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Com isso, as penas para o crime de sequestro aumentaram de três para dez anos para seis ex-oficiais — Raúl Jofré, Edwin Dimter, Nelson Haase, Ernesto Bethke, Juan Jara e Hernán Chacón. Foi mantida a pena de 15 anos e um dia pelo assassinato das vítimas. A pena do ex-policial Rolando Melo também passou de 61 dias de prisão para 5 anos de prisão, por encobrir os sequestros.

Detido em 12 de setembro de 1973, após o  golpe de militar que derrubou o presidente Salvador Allende, Jara foi um dos muitos presos políticos levados ao Estádio Nacional de Santiago, onde alguns foram torturados, espancados e executados.

Mesmo com as mãos quebradas pelos torturadores, Jara continuou a cantar uma música em apoio ao governo deposto. Depois de receber golpes brutais, ele só parou de cantar após um tiro na cabeça, seguido de uma rajada de metralhadora (ao ser encontrado, três dias depois da morte, seu corpo apresentava perfurações de 44 tiros). Quiroga, por sua vez, foi diretor nacional de prisões e também membro do Partido Comunista. Seu corpo, também com sinais de tortura, foi encontrado ao lado do de Jara.

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Em 2014, o Chile pediu oficialmente aos Estados Unidos a extradição do ex-tenente do Exército Pedro Pablo Barrientos Nuñez, acusado de ser o autor material do crime, mas o pedido até agora permanece sem resposta. Em junho de 2016, Barrientos foi sentenciado a pagar indenização de US$ 28 milhões à viúva do músico, Joan.

Durante a ditadura de Pinochet (1973-1990), cerca de 3 mil pessoas morreram ou desapareceram, enquanto outras 28 mil foram torturadas.