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Kim faz raro pedido de desculpas por morte de sul-coreano por militares da Coreia do Norte

Militares da Coreia do Norte dispararam mais de dez tiros em funcionário do governo de Seul que estaria tentando desertar do seu país em um barco; corpo teria sido queimado
O ditador norte-coreano Kim Jong-un Foto: KCNA / AFP
O ditador norte-coreano Kim Jong-un Foto: KCNA / AFP

SEUL — O ditador norte-coreano, Kim Jong-un, pediu desculpas nesta sexta-feira pela morte a tiros de um funcionário do governo sul-coreano por militares de seu país. O pedido, anunciado pelo Diretor do Escritório de Segurança Nacional da Coreia do Sul, foi feito em uma carta ao presidente Moon Jae-in.

O raro pedido de desculpas do líder norte-coreano ocorreu um dia depois de militares sul-coreanos anunciarem que um funcionário do Ministério de Assuntos Marítimos e Pesca foi morto e teve seu corpo queimado enquanto tentava desertar para a Coreia do Norte. Ele estaria a cerca de 10km da Linha Limite do Norte, uma demarcação que serve como fronteira marítima entre os dois países.

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Ainda não se sabe, no entanto, por que o homem foi baleado. Mas os soldados norte-coreanos teriam agido supostamente sob "ordens anticoronavírus", segundo militares do Sul, no que seria uma medida para impedir que haja um surto de Covid-19 na Coreia do Norte.

— O presidente Kim Jong-un pediu para transmitir seus sentimentos, lamentando profundamente que um incidente desagradável e inesperado tenha ocorrido em suas águas, o que decepcionou muito o presidente Moon Jae-in e seus compatriotas no Sul — disse Suh Hoon, Diretor do Escritório de Segurança Nacional sul-coreano, a repórteres.

Cartas

Na carta, segundo Suh, foi relatado que os soldados da Coreia do Norte dispararam mais de dez tiros. No entanto, o texto nega que o corpo da vítima tenha sido queimado, alegando que apenas um dispositivo de flutuação havia sido incendiado.

Suh disse que a carta era uma resposta aos pedidos de explicação sobre o ocorrido feitos pela Coreia do Sul e que incluía uma promessa de evitar qualquer outro episódio semelhante. O oficial ainda acrescentou que Moon e Kim já haviam trocado cartas neste mês.

De acordo com o próprio Gabinete de Moon, o presidente da Coreia do Sul elogiou a "forte determinação de Kim em salvar vidas" e suas orientações no combate ao coronavírus e às inundações em uma carta de 8 de setembro.

Em resposta, numa carta de 12 de setembro, Kim disse que Moon venceria a batalha contra o coronavírus e que "coisas boas" aconteceriam em breve.

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Críticas a Moon

A morte do funcionário sul-coreano gerou críticas da oposição e da população na Coreia do Sul, porque, além de Moon não ter conseguido salvar a vida de um cidadão, o presidente reagiu de maneira supostamente leve com a Coreia do Norte.

Os militares sul-coreanos também foram criticados, porque eles teriam avistado o homem seis horas antes de ser morto, mas não conseguiram fazer nada para resgatá-lo.

Segundo nota da agência de notícias Yonhap nesta quinta-feira, Moon havia afirmado que o assassinato de um civil sul-coreano pela Coreia do Norte foi "chocante" e "imperdoável".

Autoridades da Coreia do Sul disseram que a vítima estava endividada, o que seria o motivo para ela tentar desertar para a Coreia do Norte. No entanto, o irmão do funcionário sul-coreano negou a informação, alegando que o homem tinha acabado de comprar o barco e deve ter tido algum tipo de problema.

“Nem todo mundo que tem dívidas quer ir para o Norte”, disse o irmão, Lee Rae-jin, em uma rede social. "O que os militares estavam fazendo quando ele ficou flutuando em torno de nossas águas por quase um dia?"

Para Yang Moo-jin, professor da Universidade de Estudos da Coreia do Norte, em Seul, o pedido de desculpas mostra que Kim não deseja mais tensões por causa do incidente, mas que o assunto continua altamente controverso na Coreia do Sul.

— A carta mostrou a disposição de Kim em resolver rapidamente a situação, mas publicamente é um assunto muito sensível — disse Yang.