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Laboratório de Wuhan nega especulação de que novo coronavírus tenha escapado de lá

Suspeita tem sido alimentada por autoridades dos Estados Unidos; França, que ajudou a criar laboratório, diz que não há nenhuma prova de 'fuga' do Sars-CoV-2
Foto mostra o interior do laboratório do Instituto de Virologia de Wuhan, em fevereiro de 2017 Foto: JOHANNES EISELE / AFP
Foto mostra o interior do laboratório do Instituto de Virologia de Wuhan, em fevereiro de 2017 Foto: JOHANNES EISELE / AFP

RIO — O diretor do Instituto de Virologia de Wuhan , Yuan Zhiming, negou neste domingo as especulações, que têm sido alimentadas por autoridades dos Estados Unidos, de que o novo coronavírus teria escapado do local durante pesquisas sobre vírus originários de animais como morcegos.

Em entrevista a um canal da TV estatal chinesa, Yuan disse que, como o laboratório de segurança máxima fica na cidade em que foram registrados os primeiros casos da Covid-19, “as pessoas não conseguem evitar associações”, mas lamentou que alguns meios de comunicação divulguem “deliberadamente” informações “baseadas em especulações e sem provas”.

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Ele afirmou que nenhum funcionário do instituto foi contaminado com o novo vírus, o Sars-CoV-2 .

— É impossível que o vírus tenha vindo de nós. Sabemos que tipo de pesquisa acontece no instituto e como gerenciam vírus e amostras — afirmou o diretor.

Na sexta-feira, o governo francês, que em 2004 ajudou a China a criar o instituto em Wuhan, já havia divulgado uma nota afirmando que não há nenhuma prova de que o novo coronavírus tenha ligação com as pesquisas feitas no lugar, que tem certificação internacional.

"Gostaríamos de deixar claro que não há até o momento nenhuma evidência que corrobore a informação que começou a circular na imprensa dos EUA que estabelece uma relação entre as origens da Covid-19 e o trabalho no laboratorio de Wuhan, China", disse em comunicado um porta-voz do presidente francês, Emmanuel Macron.

As especulações surgiram na semana passada, quando o jornal Washington Post publicou um artigo do analista político Josh Rogin em que ele relatava que diplomatas americanos visitaram o laboratório em 2018 e relataram preocupações com a segurança do lugar em dois telegramas ao Departamento de Estado. Em seguida, a Fox News atribuiu a fontes do governo americano a suspeita de que o novo coronavírus teria escapado do instituto.

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Depois disso, o presidente americano, Donald Trump, e o secretário de Estado, Mike Pompeo, deram entrevistas em que voltaram a lançar suspeitas sobre a origem do vírus, dizendo que o governo americano estava fazendo uma “investigação completa" do caso.

Trump, que está sendo criticado pela reação tardia à Covid-19 nos Estados Unidos, disse no sábado que a China  “enfrentará consequências” caso tenham falhado na tentativa de evitar a disseminação da doença.

— Se erraram, um erro é um erro. Mas se eles foram conscientemente responsáveis, certamente haverá consequências — disse o presidente americano a jornalistas, na tradicional entrevista coletiva  sobre o estado da pandemia nos EUA.

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Apesar de sua  interdependência econômica, os Estados Unidos, a primeira economia do mundo, e a China, a segunda, travam atualmente uma disputa comercial e tecnológica, que diz respeito também à influência global de cada uma duas potências.