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Macron diz que entende 'coletes amarelos', mas não voltará atrás no preço dos combustíveis

Presidente afirma que protestos sociais não pode anular responsabilidade ambiental
O presidente francês Emmanuel Macron discursa no Palácio do Eliseu em sua apresentação "Estratégia para a Transição Ecológica" Foto: IAN LANGSDON / AFP
O presidente francês Emmanuel Macron discursa no Palácio do Eliseu em sua apresentação "Estratégia para a Transição Ecológica" Foto: IAN LANGSDON / AFP

PARIS - O presidente francês, Emmanuel Macron, disse nesta terça-feira que entende a reivindicação dos "coletes amarelos" que protestam contra o aumento dos impostos sobre os combustíveis, mas garantiu que não renunciará à medida por motivos ambientais:

— Devemos escutar os protestos de alarme social, mas não devemos fazer isso renunciando a nossas responsabilidades para hoje e amanhã, porque existe também um alarme ambiental —  disse o presidente francês em um discurso no Palácio do Eliseu, transmitido ao vivo pela televisão.

Parte do aumento de que os manifestantes se queixam se deve ao chamado "imposto carbono", que incide sobre o diesel. A ideia é tornar o combustível mais caro do que a gasolina, por poluir mais. Essa política deveria ser reforçada em 2019 e depois novamente em 2022.

Tentando acalmar os manifestantes, Macron anunciou que os impostos sobre os combustíveis serão adaptados em função das flutuações do preço do barril do petróleo, para proteger o bolso dos mais pobres.

— Nego-me a aceitar que a transição ecológica acentue as desigualdades entre territórios e dificulte ainda mais a vida de nossos cidadãos que vivem nas zonas rurais ou nas periferias das cidades — disse o chefe de Estado em um discurso de quase uma hora no qual abordou temas vinculados a energia e transporte. — Como muitos franceses, eu vejo as dificuldades para as pessoas que têm que dirigir e têm problemas para fechar as contas no fim do mês.

Segundo a Presidência, em caso de aumento dos preços do petróleo nos mercados mundiais, o aumento de impostos previsto seria parcialmente ou totalmente suspenso. O governo cogita avaliar a taxa sobre o diesel a cada três meses, mas não explicou como isso funcionará.

Governo receberá manifestantes

O movimento dos chamados "coletes amarelos" nasceu há algumas semanas na França contra um aumento dos impostos sobre os combustíveis, mas se tornou um protesto geral contra a perda do poder aquisitivo e os impostos considerados excessivos.

Desde o dia 17 de novembro, centenas de milhares de pessoas, sobretudo da classe média baixa que vive no campo ou nas periferias de grandes cidades, protestam em avenidas e estradas. Os manifestantes têm por símbolo os “coletes amarelos” ( gilet jaunes , acessório de segurança usado em emergências de trânsito) e empregam métodos que remetem aos de outros levantes globais recentes, como a ausência de líderes, apartidarismo, reivindicações difusas e convocações pela internet.

No sábado passado, cerca de 100 mil franceses protestaram, entre eles 8 mil em Paris, onde aconteceram violentos confrontos entre os manifestantes e a polícia, na famosa avenida Champs Elysées.

— Este movimento deu lugar a manifestações importantes, mas também a violências inaceitáveis — disse Macron, que diferenciu os "encrenqueiros" dos "cidadãos que querem transmitir uma mensagem".

Neste sentido, ele pediu ao ministro da Transição Ecológica, François de Rugy, que receba os membros dos "coletes amarelos" na tarde desta terça-feira no Eliseu.

O presidente anunciou também uma "grande consulta" sobre "a transição ecológica e social", que será feita em todo o país com associações, políticos e representantes do movimento.

Sobre o tema nuclear, Macron anunciou o fechamento de 14 dos 58 reatores nucleares franceses em funcionamento até 2035, incluindo entre quatro e seis antes do final de 2030, menos do que esperavam os ecologistas.

O número total inclui o fechamento, anunciado previamente, dos dois reatores mais antigos da França na central de Fessenheim, no Leste do país, que Macron anunciou que estava previsto para o verão de 2020.

Ele disse também que a França fechará antes do final de 2022 as quatro centrais de carvão que restam em meio aos esforços para lutar contra a poluição.

Mas o presidente ressaltou em seu discurso que "reduzir o papel da energia nuclear não significa renunciar a ela".

A França depende da energia nuclear para quase 72% de sua eletricidade, e o governo quer reduzir esta dependência a 50% antes de 2030 ou 2035, desenvolvendo as energias renováveis para cumprir com seus compromissos internacionais em matéria ambiental.