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Macron se diz aberto a atenuar reforma da Previdência, em tentativa de atrair eleitores de esquerda

Governo diz buscar 'compromisso' entre vários setor, enquanto Le Pen critica 'estratagema'
O presidente da França, Emmanuel Macron, em um evento nesta terça-feira Foto: LUDOVIC MARIN / AFP
O presidente da França, Emmanuel Macron, em um evento nesta terça-feira Foto: LUDOVIC MARIN / AFP

PARIS — Enfrentando uma disputa apertada contra a candidata da extrema direita Marine Le Pen no segundo turno das eleições francesas em 24 de abril, o presidente francês, Emmanuel Macron, mostrou estar disposto a atenuar a sua posição sobre a reforma do sistema previdenciário francês e o aumento da idade de aposentadoria – propostas cruciais que ficaram pendentes de seu primeiro mandato, quando provocaram grandes protestos antes da pandemia da Covid-19, e que ele promete agora concretizar.

Macron tem feito campanha em antigas áreas industriais que se tornaram redutos da extrema direita. Para vencer, ele depende do apoio de eleitores de Jean-Luc Mélenchon, candidato da esquerda radical que ficou em terceiro lugar no primeiro turno, no domingo, e foi seu crítico contumaz durante os cinco anos no poder.

O presidente disse estar disposto a adiar a implementação da reforma previdenciária e a aumentar a idade de aposentadoria de 62 para 64 anos – em vez de 65, sua proposta inicial – de modo a tentar “construir um consenso”.

— Estou pronto para mudar o cronograma e dizer que não precisamos necessariamente implementar a reforma até 2030 se sentir que as pessoas estão muito preocupadas com isso — disse Macron. — Não vou fingir que nada aconteceu. Ouvi a mensagem daqueles que votaram nos extremos, incluindo aqueles que votaram em Le Pen.

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Macron prometeu implementar as reformas previdenciárias durante seus primeiros cinco anos no cargo, mas, além de motivar protestos e greves, o plano acabou adiado com o início da pandemia no início de 2020.  A proposta voltou como um pilar central de sua campanha à reeleição.

Macron argumenta que, com o aumento da expectativa de vida, o sistema previdenciário francês, que depende de pagamentos de quem trabalha pelos aposentados, não pode ser equilibrado financeiramente sem uma reforma.

Sua proposta original previa o aumento da idade de aposentadoria em quatro meses a cada ano para atingir 65 anos até 2032.

Na segunda-feira, Macron disse também que outras opções poderiam ser consideradas e que haveria consideração especial para aqueles em trabalhos difíceis e penosos. Macron também disse que os planos de reforma podem ser submetidos a um referendo nacional.

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Críticas de Le Pen

Le Pen — que faz uma campanha cujo principal assunto é o aumento do custo de vida, e cujo discurso incorpora elementos em geral associados à esquerda, com ênfase em temas sociais — primeiro prometera reduzir a idade de aposentadoria para 60 anos, sem no entanto justificar como pagaria pela medida. Em seguida, ela reviu a proposta e prometeu manter os atuais 62 anos, permitindo a aposentadoria aos 60 para quem começou a trabalhar com menos de 20 anos.

O anúncio de Macron despertou críticas por parte da conservadora:

— Os franceses são muito inteligentes. Todo mundo sabe que isso é um estratagema de Emmanuel Macron para tentar conquistar, ou pelo menos acalmar, eleitores de esquerda — disse Le Pen à rádio France Inter nesta terça-feira. — A realidade é que a aposentadoria aos 65 anos é sua obsessão. Ele só fala sobre isso.

Frente a grandes protestos, em fevereiro de 2020, o governo Macron deu início à aprovação da reforma se valendo de um dispositivo legal francês que permite  ao presidente aprovar uma lei sem uma votação parlamentar.  Em julho de 2020, a pandemia o forçou a engavetar o projeto.

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Alguns de seus ministros defenderam publicamente uma atenuação da reforma. O ministro das Finanças, Bruno Le Maire, disse que era melhor buscar um "compromisso" com os oponentes da reforma previdenciária do que reviver o debate.

— Sabemos que é difícil convencer os franceses — disse Le Maire à televisão CNews, enquanto insistia que Macron buscará uma reforma previdenciária "que seja justa e duradoura".

O ministro do Interior, Gerald Darmanin, disse que Macron estava simplesmente sendo "pragmático".

— Isso se chama ouvir as pessoas — disse ele à rádio FranceInfo.

Macron recebeu um apoio de peso na terça-feira, do ex-presidente conservador Nicolas Sarkozy, que quebrou meses de silêncio da campanha para dizer que votará no atual presidente.