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Macron vence primeiro turno na França e decidirá eleição contra a ultraconservadora Le Pen

Eleitores da esquerda radical, que ficou em terceiro lugar, serão cruciais na decisão
O presidente da França, Emmanuel Macronn, sobe ao palco após o resultado das eleições neste domingo Foto: BENOIT TESSIER / REUTERS
O presidente da França, Emmanuel Macronn, sobe ao palco após o resultado das eleições neste domingo Foto: BENOIT TESSIER / REUTERS

Candidato à reeleição, o presidente francês Emmanuel Macron venceu o primeiro turno das eleições presidenciais deste domingo e disputará o segundo turno em 24 de abril com Marine Le Pen , presidenciável da direita radical, o que repetirá os protagonistas do embate final do pleito anterior, em 2017. A votação, que teve uma abstenção alta, de 25,16%, também foi marcada pela derrota dos partidos tradicionais de esquerda e direita e pelo crescimento de Jean-Luc Mélenchon, candidato da esquerda radical.

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Segundo os números oficiais com 97% dos votos apurados, Macron teve 27,6% contra 23,41% de Le Pen, que cresceu na reta final da disputa, mas não o suficiente para alcançar o presidente. Macron esteve ausente da campanha durante boa parte do tempo, concentrando-se na frente diplomática do conflito na Ucrânia, e só nos últimos dez dias fez comícios. As pesquisas pré-eleitorais mais recentes indicavam um empate técnico entre os dois.

Ambos os candidatos têm o desafio de atrair eleitores de todas as partes do espectro político. Em seu discurso após o resultado, Macron fez um chamado a todos os franceses, dizendo que "nada está resolvido".

— Quero entrar em contato com qualquer pessoa que queira trabalhar para a França. Estou pronto para inventar algo novo para reunir convicções e sensibilidades — disse o presidente francês, antes de se dirigir a eleitores ultraconservadores. —  Quero convencê-los nos próximos dias de que nosso projeto responde muito mais solidamente do que os da extrema direita aos seus medos e aos desafios dos tempos.

Macron também rebateu o principal ponto da campanha de Le Pen,  que prometeu aumentar o poder aquisitivo dos franceses, e disse que "o único projeto de poder de compra" é o de sua candidatura.

Já a ultraconservadora, do partido Reunião Nacional, fez um convite "a todos aqueles que não votaram em Macron" em seu discurso, e afirmou que no segundo turno estará em jogo "uma escolha de sociedade e até de civilização":

— No dia 24 de abril, será uma escolha fundamental entre duas visões opostas do país: ou divisão e desordem ou a mobilização do povo francês em torno da justiça social garantida por um quadro fraterno — afirmou Le Pen. — Do seu voto dependem as decisões políticas do próximo quinquênio, mas que comprometerão a França pelos próximos 50 anos anos.

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As eleições consolidaram o esvaziamento dos partidos tradicionais que controlaram a Presidência e dominaram a política francesa em toda a segunda metade do século XX até o crescimento da extrema direita neste século e a ascensão de Macron, que em 2017 deixou o Partido Socialista (PS) para criar sua própria legenda de centro, a República em Marcha. Herdeiro do gaullismo, o partido Os Republicanos teve menos de 5% dos votos com a candidata Valérie Pécresse. Já o PS, representado pela prefeita de Paris Anne Hidalgo, teve menos de 2%.

Além disso, chama a atenção o bom desempenho do candidato da esquerda radical Jean-Luc Mélenchon, que ficou com 21,95% dos votos já apurados e ficará em terceiro, subindo também mais de quatro pontos pontos em relação à média das pesquisas de intenção de voto, que lhe davam 17%.

A man leaves a voting booth, in the colours of the French flag, to vote in the first round of the 2022 French presidential election at a polling station in Le Touquet-Paris-Plage, France, April 10, 2022. REUTERS/Christian Hartmann Foto: CHRISTIAN HARTMANN / REUTERS
A man leaves a voting booth, in the colours of the French flag, to vote in the first round of the 2022 French presidential election at a polling station in Le Touquet-Paris-Plage, France, April 10, 2022. REUTERS/Christian Hartmann Foto: CHRISTIAN HARTMANN / REUTERS

A votação de Mélenchon indica que houve um voto útil dos eleitores à esquerda, sugerindo que uma candidatura única do setor poderia ter superado a votação de Le Pen. Além dele e de Hidalgo, disputaram nesse campo Yannick Jadot, dos Verdes, que teve 4,58% dos votos, e Fabian Roussel, do Partido Comunista Francês, que ficou com 2,31%. Os partidos que conquistam menos de 5% dos votos não têm os custos de campanha reembolsados na França.

Os apoiadores de Mélenchon, do partido França Insubmissa, serão decisivos no segundo turno de 24 de abril, e é incerto se ele irá apoiar Macron. Frente à mesma escolha em 2017, ele declarou-se neutro. Antes das eleições, Mélenchon afirmou que esta seria sua última candidatura em uma eleição presidencial. Em seu discurso, ele não chegou a declarar apoio explícito a Macron, mas enfatizou que seus apoiadores "não devem apoiar Le Pen".

— Sabemos em quem nunca vamos votar. Vocês não devem apoiar Le Pen. Não devemos dar um só voto à senhora Le Pen — disse.

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Éric Zemmour, o ex-comentarista televisivo de extrema direita que fez uma campanha inspirada em Donald Trump — e com isso contribuiu para dar uma imagem de maior moderação a Le Pen — ficou em quarto lugar, com cerca de 7% dos votos.

Pécresse, Jadot, Roussel e Hidalgo já manifestaram apoio a Macron contra Le Pen. Destes, o mais importante é o apoio de Pécresse, que afirmou que a vitória de Le Pen levaria a França "à discórdia, à impotência e à fratura".

Já Zemmour declarou voto em Le Pen, e disse que "continuará a lutar". A ultraconservadora, que fez uma eficaz campanha concentrada no aumento do custo de vida e na qual se apresentava como uma mulher comum, terá por desafio moderar a sua imagem, com o propósito de vencer a resistência à extrema direita. Em seu discurso após os resultados, ela afirmou que, se eleita, "irá governar para todos os franceses".

A abstenção deve ficar por volta de 25%, o segundo mais alto índice histórico. A eleição de 2017 já havia sido marcada por um forte índice de abstenção (22,2%) e o pleito deste domingo corria o risco de bater o recorde histórico de 2002 (28,4%).

Os resultados destas eleições guardam semelhanças com o primeiro turno de 2017. Então, Macron teve 24%; Le Pen, 21,3%; François Fillon, dos Republicanos, 20%; Mélenchon, 19,6%; e Benoît Hamon, do Partido Socialista, 6,3%. Quando concorreu pela primeira vez, em 2012, Le Pen teve 17,9%.

As últimas pesquisam apontavam Macron e Le Pen em empate técnico também no segundo turno. O presidente liderava de forma relativamente confortável o embate eleitoral em todos os cenários projetados pelas pesquisas, mas sua vantagem se reduziu às vésperas do primeiro turno com o avanço de Le Pen.

Há cinco anos, Macron saiu vencedor no segundo turno com 66% dos votos, contra 34% de Le Pen. A primeira pesquisas para o segundo turno deste ano, divulgada pelo Instituto Ifop, aponta uma vantagem mínima para Macron: 51% a 49%. Já o Instituto Ipsos aponta 54% para Macron e 46% para Le Pen.