Mundo Oriente Médio

Maior navio da Marinha do Irã pega fogo e afunda

Autoridades afirmam que se tratou de um acidente, e rejeitam hipótese de sabotagem; também nesta quarta-feira, refinaria nos arredores de Teerã foi parcialmente destruída por incêndio
Coluna de fumaça provocada pelo incêndio no Kharg é vista do porto de Jask, no Sul do Irã Foto: ROY ISSA / AFP
Coluna de fumaça provocada pelo incêndio no Kharg é vista do porto de Jask, no Sul do Irã Foto: ROY ISSA / AFP

TEERÃ — O maior navio da Marinha do Irã, o IRIS Kharg, afundou perto do Golfo de Omã, depois de um grande incêndio a bordo iniciado nas primeiras horas de quarta-feira (noite de terça no Brasil). As autoridades afirmam que se tratou de um acidente, descartando, por enquanto, a hipótese de sabotagem, no momento em que o país negocia o restabelecimento do acordo internacional sobre seu programa nuclear , e enfrenta uma série de incidentes suspeitos.

Segundo a Marinha, o fogo começou por volta das 2h25 da madrugada de quarta-feira, pelo horário local, dentro da sala de máquinas. As altas temperaturas derreteram partes da embarcação, que caíram no mar e aceleraram o afundamento. Cerca de 400 pessoas estavam a bordo, sendo que 33 ficaram feridas.

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Construído no final da década de 1970 pelo Reino Unido e integrado à Marinha iraniana em 1984, o Kharg era o maior navio da frota em termos de capacidade de carga e tamanho, com 207 metros de comprimento. Ele era usado em missões de treinamento e para o abastecimento de outras embarcações em alto mar. Segundo especialistas, não há, no Irã, navios capazes de suprir as funções do Kharg, seja em treinamento, seja no transporte de combustível.

O incêndio do Kharg não foi o único nas últimas horas no Irã. Nos arredores de Teerã uma, uma refinaria foi parcialmente destruída pelo fogo, mas sem deixar vítimas. Segundo as autoridades, citadas pela TV estatal, houve um vazamento em uma tubulação de gás liquefeito de petróleo, com as altas temperaturas da capital iraniana contribuindo para começar o incêndio, já controlado.

Um incêndio eclodiu em uma refinaria no sul de Teerã, no Irã, depois que um tubo de gás líquido vazou e explodiu. A empresa descartou a possibilidade de sabotagem. O fogo começou várias horas depois de a Marinha iraniana ter anunciado que um de seus maiores navios, o Kharg, havia afundado no Golfo de Omã devido a um incêndio
Um incêndio eclodiu em uma refinaria no sul de Teerã, no Irã, depois que um tubo de gás líquido vazou e explodiu. A empresa descartou a possibilidade de sabotagem. O fogo começou várias horas depois de a Marinha iraniana ter anunciado que um de seus maiores navios, o Kharg, havia afundado no Golfo de Omã devido a um incêndio

Como no caso do Kharg, as autoridades afirmam que se tratou de acidente, descartando a hipótese de sabotagem, no momento em que o país registra uma série de incidentes suspeitos em instalações nucleares e militares, além de ataques contra embarcações.

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Em um caso recente, em abril, o MV Saviz, ancorado perto da costa da Eritreia desde 2016, no Mar Vermelho, foi atacado com minas submarinas , alegadamente pelo governo de Israel, principal rival de Teerã no Oriente Médio e com quem trava uma guerra “secreta” e “indireta”.

Guerra secreta

O governo de Benjamin Netanyahu acusa o Irã de tentar obter armas nucleares, algo negado por Teerã, e vê o regime como uma ameaça à sua própria existência.

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Além de pressionar as potências internacionais, em especial os EUA, a evitarem uma política de aproximação e normalização, os israelenses são acusados de fazer uso de outros métodos para desestabilizar os iranianos. Entre eles, sabotagens, como as ocorridas na central nuclear de Natanz, e mesmo o assassinato de cientistas nucleares, como o de Mohsen Fakhrizadeh , em novembro do ano passado.

Em todos os casos, não houve comentário por parte de representantes de Israel.

Por enquanto, não há sinais de que os incêndios desta quarta-feira tenham sido intencionais — no caso do Kharg, por exemplo, integrantes da própria Marinha vinham citando problemas estruturais na embarcação, que opera há quase quatro décadas.

Analistas lembram que acidentes não são incomuns nas Forças Armadas: no ano passado, 19 marinheiros morreram quando um míssil atingiu , por engano, uma embarcação de transporte de tropas durante treinamento de rotina.  Na terça-feira, dois pilotos morreram depois de um problema técnico com o caça F-5 em que voavam — a aeronave foi comprada nos anos 1970.

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Vale ressaltar que os episódios ocorrem em um momento central das negociações para o retorno dos EUA ao acordo sobre o programa nuclear iraniano, duramente abalado depois da decisão do então presidente Donald Trump de abandonar o plano em 2018 e adotar uma política violenta de sanções, conhecida como “Pressão Máxima”.

Ao ser eleito, Joe Biden se comprometeu a retornar ao acordo, mas o ritmo das negociações é bem mais lento do que esperavam os demais signatários (Rússia, China, Alemanha, França e Reino Unido), o Irã e boa parte da base política do presidente americano. O plano, de 2015, prevê limites às atividades nucleares iranianas, como sobre o grau de enriquecimento e o armazenamento de urânio, em troca do fim de sanções e a retomada dos mecanismos de comércio com o Ocidente.

Por outro lado, o governo de Netanyahu rejeita a ideia, declarando que ela é ineficaz e se trata de um “prêmio” a Teerã, sem eliminar a ameaça de novas armas nucleares no Oriente Médio  — Israel possui entre 80 e 400 ogivas, segundo especialistas, mas o país não nega nem confirma a existência desse tipo de armamento.