Mundo Coronavírus

Merkel propõe relaxamento das restrições, mas prorroga isolamento pelo coronavírus até 3 de maio

Chanceler discutiu o projeto com os governadores dos 16 estados da Alemanha na manhã desta quarta-feira; eventos de larga escala permanecerão proibidos até 31 de agosto
Em Berlim, a chanceler Angela Merkel participa de entrevista coletiva sobre a contenção do novo coronavírus Foto: POOL New / REUTERS/09-04-2020
Em Berlim, a chanceler Angela Merkel participa de entrevista coletiva sobre a contenção do novo coronavírus Foto: POOL New / REUTERS/09-04-2020

BERLIM — A Alemanha vai relaxar a partir da próxima semana as restrições impostas no mês passado para conter a disseminação do novo coronavírus, disse a chanceler Angela Merkel em entrevista coletiva nesta quarta-feira. O governo, no entanto, manterá as regras de distanciamento social até 3 de maio. A partir dessa data, o uso de máscaras em público é recomendado "fortemente", embora não seja obrigatório.

— Temos que garantir o sucesso alcançado permitindo mais vida pública em pequenos passos — afirmou Merkel, que apelou aos alemães que continuem a respeitar as restrições na luta contra a pandemia.

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Segundo Merkel, o isolamento social contribuiu para que não houvesse sobrecarga do sistema de saúde nem das equipes médicas, algo impensável no início da crise. Mas, alertou, é apenas "um frágil sucesso intermediáriol".

O projeto de saída gradual da quarentena foi discutido amplamente pela chanceler e os governadores dos 16 estados da Alemanha nesta quarta-feira, devido a uma melhora na situação do pais.

As propostas aprovadas incluem a reabertura de escolas gradualmente a partir de 4 de maio, com prioridade aos alunos do ensino fundamental e médio nos últimos anos. Antes de voltarem a fucionar, porém, as escolas precisam preparar um plano de higiene. Já as creches permanecerão fechadas.

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Reuniões religiosas continuarão proibidas, e restaurantes, bares, cafés, cinemas e locais de música, fechados. Mas varejistas cujas lojas tenham até 800 metros quadrados, bem como salões de beleza, zoológicos e bibliotecas públicas poderão abrir na próxima semana sob rígidas regras de distanciamento social e de higiene.

O controle das fronteiras com a Áustria, Suíça, França, Luxemburgo e Dinamarca também serão estendidos por 20 dias até o início de maio, disse um porta-voz do Ministério do Interior.

O vice-chanceler  Olaf Scholz disse à agência Reuters que são necessárias restrições contínuas para conter o risco de infecção.

— Em toda a Alemanha, as pessoas compreendem claramente e concordam plenamente com o que precisa ser feito para proteger a saúde dos cidadãos e conter a disseminação de infecções — disse ele. — Isso requer restrições que muitas pessoas aceitam, especialmente quando sabem que isso as afeta pessoalmente.

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Além do isolamento, rastreamento de casos e testes em massa explicam o sucesso no combate à Covid-19 no país, que até o momento tem confirmados pouco mais de 133 mil casos e 3,5 mil mortes por coronavírus, segundo a Universidade John Hopkins. Sua taxa de mortalidade de 1,9%, com base nos dados coletados pela Reuters, também é a mais baixa entre os países mais afetados, se comparada com a de 12,6% na Itália.

Equipes médicas começaram a trabalhar na idenficação e no isolamento de trabalhadores infectados já em fevereiro, o que fez com que a Alemanha ganhasse um tempo crucial para construir suas estratégias de defesa contra a Covid-19, entre elas a ampliação maciça do número de leitos no país, incluindo os de unidades de terapia intensiva (UTIs).

Recessão

Com vários países da UE agora tentando maneiras diferentes de aliviar suas restrições, a Comissão Europeia está pedindo que os Estados membros coordenem seus esforços, alertando que o não cumprimento dessa iniciativa pode resultar em novos picos nos casos.

Especialistas em doenças infecciosas dizem que quatro semanas mantendo escolas, fábricas e lojas fechadas trouxeram progresso, mas alertam que a epidemia ainda não está contida e que há um longo caminho a percorrer antes que a vida normal recomece na maior economia da Europa.

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Empresas e políticos também estão preocupados com o impacto econômico de um fechamento prolongado, embora o governo tenha tentado amortecer o golpe com uma série de medidas, incluindo um pacote de estímulo de 750 bilhões de euros (R$ 3,93 bilhões).

O Ministério da Economia disse que a Alemanha entrou em recessão em março e que a desaceleração deve continuar até o meio do ano. "O colapso da demanda global, a interrupção das cadeias de suprimentos, as mudanças no comportamento do consumidor e a incerteza entre os investidores estão tendo um impacto maciço na Alemanha", afirmou.

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Ainda segundo o Ministério, mesmo que as medidas de distanciamento social sejam atenuadas, a atividade econômica continuará bastante moderada e só aumentará gradualmente.

Cerca de 725 mil empresas na Alemanha optaram pela redução da carga horária de trabalho até 13 de abril, informou o Ministério do Trabalho nesta quarta-feira, um aumento de aproximadamente 12% em relação à semana anterior, informou.

A medida, que é uma forma de auxílio estatal permitida aos empregadores durante uma crise econômica para que mantenham seus empregados na folha de pagamento, tem sido amplamente utilizado pela indústria, incluindo o setor automotivo da Alemanha.