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Ministro avalia que não houve 'golpe' na Bolívia e que Evo Morales acertou ao renunciar

Chanceler diz que tentativa de fraude eleitoral 'deslegitimou Morales, que teve a atitude correta de renunciar'. Bolsonaro afirmou ontem ao GLOBO que a 'palavra golpe é usada só quando a esquerda perde'
Chanceler Ernesto Araújo, durante reunião do Grupo de Lima em Brasília Foto: ADRIANO MACHADO / REUTERS / 08-11-2019
Chanceler Ernesto Araújo, durante reunião do Grupo de Lima em Brasília Foto: ADRIANO MACHADO / REUTERS / 08-11-2019

BRASÍLIA — O governo brasileiro considera que não houve "golpe" na Bolívia diante da renúncia do presidente eleito Evo Morales depois de forte pressão militar em meio a denúncia de fraude eleitoral. Momentos após o presidente da Bolíviaanunciar sua renúncia em pronunciamento pela TV, o presidente Jair Bolsonaro concedeu entrevista exclusiva ao GLOBO , por telefone, em que disse não considerar positivo o que ocorreu no país vizinho. Instado a opinar se Morales foi vítima de um golpe, como denunciou seu vice, Álvaro García Linera, que também anunciou sua renúncia, Bolsonaro inicialmente disse que não entraria em detalhes, mas acabou respondendo:

— A palavra golpe é usada muito quando a esquerda perde, né? Quando eles ganham, é legítimo. Quando eles perdem, é golpe. Eu não vou entrar nessa narrativa deles aí. A esquerda vai falar que houve golpe agora.

Já o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo , publicou em seu perfil de rede social que o Brasil “apoiará a transição democrática e constitucional” na Bolívia, após o presidente demissionário Evo Morales renunciar à Presidência daquele país.

Em seu perfil no Twitter, Ernesto Araújo afirmou não considerar que tenha havido “golpe na Bolívia”e que a narrativa de golpe só serve para "incitar a violência". Ele disse que uma tentativa de fraude "maciça" no processo eleitoral “deslegitimou Evo Morales, que teve a atitude correta de renunciar”.

Análise : Com a renúncia de Morales sob pressão militar, Bolívia volta a ciclo de instabilidade

“Não há nenhum golpe na Bolívia. A tentativa de fraude eleitoral maciça deslegitimou Evo Morales, que teve a atitude correta de renunciar diante do clamor popular. Brasil apoiará transição democrática e constitucional. Narrativa de golpe só serve para incitar violência”, publicou no Twitter.

Em maio, Araújo havia recebido no Palácio do Itamaraty Luis Fernando Camacho , líder da oposição radical, que comanda o Comitê Cívico do departamento (estado) de Santa Cruz. Na última semana, Camacho tomou a frente dos protestos contra Morales, entrou no palácio de governo em La Paz e se fez fotografar ajoelhado diante da bandeira boliviana e de uma Bíblia.

Foto da visita de Camacho, segundo à direita, durante visita ao Itamaraty Foto: Facebook / Reprodução
Foto da visita de Camacho, segundo à direita, durante visita ao Itamaraty Foto: Facebook / Reprodução

No fim da tarde deste domingo, antes do anúncio da renúncia de Evo Morales, o Ministério das Relações Exteriores havia se manifestado sobre a convocação de novas eleições na Bolívia.

Exclusivo: 'A palavra golpe é usada quando a esquerda perde', diz Bolsonaro após renúncia de Evo Morales

“Brasil considera pertinente a convocação de novas eleições gerais em resposta às legítimas manifestações do povo e às recomendações da OEA, após a constatação das graves irregularidades. O Brasil estima que o novo sufrágio deve ser dotado de todas as condições para assegurar sua absoluta transparência e legitimidade", diz trecho da nota.

Por meio de nota, o Ministério da Defesa afirmou que “acompanha a evolução dos acontecimentos na Bolívia, particularmente por meio do Adido de Defesa junto aquele país” e que qualquer manifestação transmitida será dada pelo Ministério das Relações Exteriores.