Mundo Radar

Morre Simone Veil, ícone político feminista na França, aos 89 anos

Sobrevivente do Holocausto teve papel chave para legalizar aborto no seu país
Simone Veil, primeira presidente do Parlamento Europeu Foto: Charles Platiau / REUTERS
Simone Veil, primeira presidente do Parlamento Europeu Foto: Charles Platiau / REUTERS

PARIS, França — Morreu nesta sexta-feira a política e ativista dos direitos das mulheres Simone Veil, aos 89 anos. Sobrevivente do Holocausto e ex-magistrada francesa, ela ficou conhecida pelo papel fundamental na descriminalização do aborto em seu país, quando foi ministra da Saúde, nos anos 70. Simone também foi a primeira presidente eleita do Parlamento Europeu, em 1979.

"Minha mãe morreu nesta manhã em sua casa. Ela faria 90 anos no próximo 13 de julho", afirmou à agência de notícias AFP o filho de Simone.

Simone Jacob nasceu em Nice, em 1927. Sua família foi presa pela Alemanha Nazista, em 1944. Ela tinha 17 anos quando foi enviada ao temido campo de concentração de Auschwitz-Birkenau e depois para Bergen-Belsen, com sua mãe e irmã mais velha, Madeleine, enquanto a outra irmã, Denise, se uniu à Resistência Francesa e foi encarceirada no campo de concentração de Ravensbruck.

Seu pai e seu irmão foram deportados para o Leste Europeu logo após a prisão da família. Simone nunca mais teve notícias sobre eles.

Com o número 78651 tatuado em seu braço pelos nazistas, a francesa estudou Direito em Ciências Políticas em Paris e tornou-se juíza, ganhando graus honorários da Universidade de Princeton dos EUA e do Instituto Weizman de Israel.

Foto de 1977 mostra a então ministra da Saúde, Simone Veil (à direita) e a então secretária de Estado para Universidades, Alice Saunier-Seite Foto: - / AFP
Foto de 1977 mostra a então ministra da Saúde, Simone Veil (à direita) e a então secretária de Estado para Universidades, Alice Saunier-Seite Foto: - / AFP

Desconhecida quando entrou no governo francês, Ministra da Saúde entre 1974 e 1979, Simone lutou obstinadamente contra um parlamento hostil e dividiu a opinião pública para promover um projeto de lei que se tornou conhecido como "Lei Veil". A proposta foi aprovada em 1975 e fez da França o primeiro país de predominância católico-romano a legalizar o aborto.

Unionista desde o fim da Segunda Guerra Mundial, Simone se tornou um membro do Parlamento Europeu em 1979, quando também foi eleita a primeira presidente da Casa. Ela se tornou, então, a líder do grupo liberal dentro do Parlamento, de onde saiu apenas em 1993, antes de retornar à política francesa para ser ministra durante o governo de Édouard Balladur.

Na imagem de 1980, Simone Veil se dirige a fazendeiros durante manifestação em frente ao Parlamento Europeu Foto: DOMINIQUE FAGET / AFP
Na imagem de 1980, Simone Veil se dirige a fazendeiros durante manifestação em frente ao Parlamento Europeu Foto: DOMINIQUE FAGET / AFP

Em 1998, Simone foi nomeada membro do Conselho Constitucional de França, do qual saiu apenas em 2007, quando terminou seu mandato. Mesmo assim, ela permaneceu entre os políticos mais populares do país nas pesquisas de opinião.

O presidente francês Emmanuel Macron demonstrou suas condolências à família dela. "Que o seu exemplo inspire nossos compatriotas, que encontrarão nela o melhor da França", afirmou ele no Twitter.

A política foi casada por mais de 60 anos com o empresário Antoine Veil, de quem recebeu o sobrenome, e estava viúva desde 2013. Os dois tiveram três filhos.

Simone Veil e o marido, Antoine Veil, em foto de 2010 Foto: JACQUES DEMARTHON / AFP
Simone Veil e o marido, Antoine Veil, em foto de 2010 Foto: JACQUES DEMARTHON / AFP