Mundo

Morte de George Floyd completa um mês nesta quinta sob forte debate

Sociólogo da Universidade Columbia vê mudança cultural em curso, mas especialista da Pensilvânia teme que caso seja esquecido, como os de tantos outros negros
Manifestante veste blusa estampada com a frase em inglês "eu não consigo respirar", dita por George Floyd antes de morrer sufocado por um policial em 25 de maio Foto: CLEMENT MAHOUDEAU / AFP/13-06-2020
Manifestante veste blusa estampada com a frase em inglês "eu não consigo respirar", dita por George Floyd antes de morrer sufocado por um policial em 25 de maio Foto: CLEMENT MAHOUDEAU / AFP/13-06-2020

Há exatamente um mês, gravações feitas por transeuntes em Minneapolis, no estado americano de Minnesota, foram postadas em redes sociais e desencadearam os maiores protestos contra o racismo e a violência policial nos EUA desde 1968. As imagens de um policial branco ajoelhado sobre o pescoço de um homem negro correram o país e o mundo. O efeito das últimas palavras de George Floyd , “não consigo respirar”, extrapolou o âmbito de movimentos sociais, motivou resolução do Conselho de Direitos Humanos da ONU e sensibilizou o mundo de forma mais ampla para a necessidade de revisão do racismo sistêmico e da atuação das polícias contra pobres e minorias nas democracias ocidentais.

Numa reação em cadeia, monumentos a escravistas e colonialistas foram pichados, decapitados, derrubados ou retirados de cena em várias cidades do mundo. Pressionado e vendo sua popularidade cair , o presidente Donald Trump promulgou em 16 de junho uma pequena reforma das polícias — aquém de projetos em discussão no Congresso, mas que já limita o uso de sufocamento e cria um banco de dados nacional sobre conduta policial imprópria.

— Se compararmos a reação desencadeada pela morte de George Floyd agora com a de Trayvon Martin, o garoto da Flórida, ou Michael Brown, em Ferguson, Missouri, e assim por diante, a reação agora é muito maior e mais profunda — afirma Todd Gitlin, professor de sociologia da Universidade Columbia. — As grandes corporações estão tendo que se esforçar para provar a todos que são contra o racismo, ou ao menos parecer que são, senão poderão sofrer boicote dos consumidores.

Para o especialista, está em curso uma mudança de pensamento, cujas perspectivas de longo prazo são “surpreendentemente boas”.

— Houve realmente uma mudança no entendimento dominante entre os brancos sobre o que é a realidade dos negros nos EUA. Até os republicanos estão fingindo interesse — afirma Gitlin. — É uma mudança cultural, não apenas uma reação política.

Brian Jackson, mestre em estudos africanos pela Universidade da Pensilvânia, destaca a maior participação de brancos nos protestos, o que avalia como positivo. Mas, diferente de Gitlin, teme que o caso de George Floyd seja esquecido em breve, como aconteceu com os de tantos outros negros.

— Depois de um ou dois meses, os americanos esquecem, principalmente os brancos. Já está acontecendo com Breonna Taylor [profissional de saúde morta pela polícia em março], e acho que não vai demorar para acontecer com George Floyd — afirma. — E se a sociedade esquecer o que estamos vivendo agora, não teremos mudanças suficientes [no futuro].