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Museu revela rica história da vida judaica na Polônia

Sobreviventes do Holocausto ajudaram a criar o memorial

VARSÓVIA, Polônia — Nos dois milênios que separam a antiga Israel e seu renascimento moderno, os judeus nunca tiveram tanta autonomia política quanto na Polônia, terra que séculos mais tarde seria intrinsecamente ligada ao Holocausto. Mas a história do florescimento da vida política e cultural do país graças aos judeus é parte de uma história de mil anos que agora é contada visualmente em um novo museu, o Polin, Museu da História dos Judeus Poloneses, que abre exposição ao público nesta terça-feira, em meio a comemorações.

“Polin” quer dizer Polônia em hebraico e também significa “descansar aqui”, uma referência à história que os próprios judeus contaram sobre sua chegada à Polônia na Idade Média: eles tiveram a ajuda de governantes e foram autorizados a morar no país com tranquilidade. O resultado foi séculos de uma civilização de língua iídiche, que fez importantes contribuições para a cultura polonesa e mundial antes de quase serem dizimadas pela Alemanha nazista.

Na inauguração nesta terça-feira, estarão presentes os presidentes israelense e polonês, além de sobreviventes do Holocausto que ajudaram a criar o memorial.

— O Holocausto lançou uma sombra sobre esta grande civilização e as gerações de judeus que viviam na Europa Oriental antes da Segunda Guerra Mundial, como se esses séculos de vida fossem pouco mais do que um prefácio para o Holocausto — disse o diretor do museu, Dariusz Stola Said. — Mas isso é um absurdo. Este museu salienta que mil anos de vida judaica não são menos dignos de lembrança do que os seis anos do Holocausto.

Na Polônia, judeus se beneficiaram de tolerância e de um alto grau de autogoverno garantido por governantes, crescendo como a maior comunidade judaica do mundo. Hoje 9 milhões do total de 14 milhões de judeus podem traçar sua ascendência na Polônia. Mas apesar da significativa presença de outrora, a memória dos judeus de desapareceu no país na era comunista, deixando as gerações do pós-guerra em grande parte pouco conscientes de que o país havia sido multiétnico — onde judeus e outras religiões viveram em relativa paz, evitando guerras religiosas que devastaram outras terras europeias.

A população pré-guerra de 3,3 milhões de judeus foi reduzida a 300 mil após o genocídio de Adolf Hitler, enquanto na era comunista a maioria dos sobreviventes deixou o país. Hoje existem menos de 30 mil judeus na Polônia — embora a comunidade esteja crescendo novamente.

— Nas décadas do pós-guerra a história polonesa não falava dos judeus. Falava dos cemitérios, do Holocausto, dos guetos. Falava exclusivamente de morte — disse Piotr Wislicki, dono de uma associação histórica judaica que levantou US$ 48 milhões dólares para a exposição. — E aos olhos do mundo, a Polônia era apenas um grande cemitério.

Construído com dinheiro do contribuinte e doações privadas, a mensagem liberal do museu foi saudada pelos jovens poloneses, muitos dos quais migram para as dezenas de festas judaicas que acontecem na Polônia todos os anos. Dias antes da inauguração, o museu abriu as portas para as pessoas que vivem no bairro, uma área no coração do Gueto de Varsóvia. Os vizinhos, muitos dos quais nunca haviam ido a uma sinagoga e sabem pouco sobre a história judaica, estavam entusiasmados.

— Mesmo que não sejamos judeus esta é também uma parte da nossa história e nós precisamos saber sobre isso — disse Agnieszka Rudkowska, professor pré-escolar de 28 anos de idade, que lê os poemas do escritor judeu polonês do século 20 Julian Tuwim para seus alunos. — Você às vezes pode ouvir opiniões negativas sobre judeus na mídia, mas é importante saber a verdade.

O museu conta histórias novas, junto a episódios de perseguição. Mesmo os séculos XVI e XVII, que alguns chamam de época de ouro, viu judeus serem torturados e executados em falsas acusações de profanar a hóstia, o pão sagrado que simbolizaria o corpo de Cristo durante o comunhão.

Algumas semanas atrás, um casal de judeus-americanos idosos que haviam deixado a Polônia antes da guerra foram às lágrimas durante uma visita de pré-abertura.

— Quando os vi chorando achei que a galeria do Holocausto tivesse causado essa impressão sobre eles — disse Wislicki. — Mas eles disseram ‘não, nós estamos felizes porque podemos mostrar aos nossos filhos e netos que, mesmo com todos os problemas com a imigração, que os judeus tinham uma vida interessante e maravilhosa, e que não houve apenas a morte.