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'Não é hora de culpar o mensageiro': Michelle Bachelet critica ataques à imprensa em meio à pandemia

Alta comissária da ONU para os direitos humanos diz que alguns governos usam a pandemia para controlar a liberdade de expressão e abafar críticas
Repórteres no briefing diário de imprensa da Casa Branca no dia 17 de abril Foto: LEAH MILLIS / REUTERS
Repórteres no briefing diário de imprensa da Casa Branca no dia 17 de abril Foto: LEAH MILLIS / REUTERS

Em uma defesa veemente do jornalismo em tempos de pandemia, a alta comissária da ONU para os direitos humanos, a ex-presidente chilena Michelle Bachelet , afirmou que alguns governos estão usando a crise para atacar profissionais de imprensa e restringir ainda mais a liberdade de expressao no mundo.

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Em comunicado, Bachelet, sem citar nomes, disse que alguns lideres políticos estão criando um "ambiente hostil", comprometendo a segurança dos jornalistas e restringindo sua capacidade de levar notícias às pessoas.

"Alguns Estados usam a pandemia como pretexto para restringir o acesso à informação e calar as críticas", declarou a alta comissária. "Uma imprensa livre é sempre essencial, jamais dependemos tanto dela como nesta pandemia, quando muitas pessoas estão isoladas e temendo por suas saúdes e meios de subsistência".

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De acordo com o Instiututo Internacional de Imprensa , organização que age em defesa da mídia internacional, mais de 40 jornalistas foram presos em todo o mundo por reportagens e coberturas vistas como críticas à ação de autoridades diante da pandemia. Também há casos como o da agência de notícias Reuters, que teve sua permissão de funcionamento no Iraque suspensa por três meses após uma reportagem acusando o governo local de não reportar corretamente os números de infecções e mortes causadas pela Covid-19.

"Não é hora de culpar o mensageiro ", pontuou Bachelet. "Ao invés de ameaçar jornalistas ou calar as críticas, os Estados deveriam encorajar um debate saudável sobre a pandemia e suas consequências."

A alta comissária ainda afirmou que "as ameaças sofridas pelos jornalistas são completamente evitáveis", e que protegê-los de "ameaças, detenções e censura ajuda para que todos fiquem seguros".

Ranking de liberdade

A preocupação de Michelle Bachelet com os ataques a jornalistas também foi expressa pela organização não-governamental Repórteres Sem Fronteiras (RSF). Esta semana, ao revelar o seu ranking anual de liberdade de imprensa, a organização disse os maiores ataques ocorrem justamente nos países nas últimas posições desta classificação, que analisa 180 países.

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A RSF menciona a Coreia do Norte, última colocada no ranking e apontada como um lugar onde é impossível fazer jornalismo, a China, que, segundo a organizaçao, apertou sua máquina estatal de censura, e o Irã, onde a RSF diz que a "crise sanitária agrava os piores hábitos do regime em termos de desinformação".

O Brasil, que caiu duas posições no ranking 2020 e aparece na 107ª posição , é apontado como um local onde os ataques contra a imprensa mais que dobraram nas últimas semanas. A ONG também faz criticas ao presidente Jair Bolsonaro, dizendo que ele "insulta e humilta regularmente alguns dos mais importantes jornalistas e veículos de imprensa do país, criando um clima de ódio e desconfiança em relação aos atores da informação.