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'Não sou olavista ou ideológico, mas é claro que estou bem longe da esquerda', diz diplomata que foi cotado para substituir Ernesto

Luís Fernando Serra, embaixador do Brasil na França, afirma que parceria com China é 'fundamental'
Embaixador Luis Fernando Serra no Palácio do Planalto com Jair Bolsonaro Foto: Marcos Corrêa/PR
Embaixador Luis Fernando Serra no Palácio do Planalto com Jair Bolsonaro Foto: Marcos Corrêa/PR

BRASÍLIA  — Antes o preferido de Jair Bolsonaro para ocupar o Ministério das Relações Exteriores no lugar de Ernesto Araújo, que pediu para sair, o embaixador do Brasil na França, Luis Fernando Serra, afirma estar "surpreso" com críticas e opiniões proferidas a seu respeito nesta segunda-feira. O diplomata rechaça o rótulo de "ideológico" e nega que seja discípulo de Olavo de Carvalho  — a quem diz nem sequer conhecer. Serra diz se identificar com o que chama de "centro-direita europeia".

— Não me considero olavista e tampouco de esquerda. Sou um liberal de centro-direita, com grande admiração por vultos históricos como Winston Churchill e Charles de Gaulle. Tem gente querendo me associar a Olavo de Carvalho. Com todo o respeito ao trabalho desse senhor, nunca li nada dele e nunca chegamos a ser apresentados. Não sou olavista ou ideológico, mas é claro que, como alguém que conheceu bem a União Soviética, estou bem longe de ser de esquerda, pois servi na embaixada em Moscou de 1988 a 1991 e fiz minha tese para o CAE sobre a perestroika  — disse, referindo-se às reformas econômicas empreendidas por Michael Gorbachev nos anos 1980.

A tese do CAE (Curso de Altos Estudos do Itamaraty) é condição para a promoção dos diplomatas de conselheiro a ministro de segunda classe.

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Uma das críticas feitas no Congresso a Serra é que ele teria minimizado a repercussão, na França, do assassinato da vereadora Marielle Franco, do PSOL. Em carta, ele cobrou que a facada no presidente Jair Bolsonaro ou assassinato do prefeito Celso Daniel, do PT, tivessem, na política francesa, a mesma repercussão que a morte de Marielle.

— Li nas redes que eu teria ficado "indignado" com o fato de a França homenagear Marielle. Nunca usei essa palavra, mas, sim, "consternado". Triste de ver que Marielle Franco merecia homenagens, enquanto o assassinato de Celso Daniel ou a facada no presidente Bolsonaro não mereciam o mesmo destaque. Essa foi a minha ênfase.

"Este ato (facada) é, em minha opinião, tão grave quanto os demais crimes políticos aqui mencionados. Assim, é com profunda consternação, que constato que o assassinato de Daniel e o atentado contra Bolsonaro não receberam o mesmo eco na França que o assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes", escreveu Serra, em fevereiro do ano passado.

No que diz respeito à China, Serra afirma que o Brasil deve trabalhar por uma relação "construtiva" com o país asiático.

— O Brasil tem que ter a relação mais construtiva  possível com a China, que é um dos maiores sócios do Brasil. O povo já entendeu: o freguês tem sempre razão. E os chineses são nossos fregueses. Como fazer se a China não se dispuser a comprar de nós a maior parte da soja que produzimos? Para quem vamos vender? Como vamos ser agressivos com um país que proporciona cerca de 30 bilhões de dólares de superávit? — questionou, completando:  —  No hemisfério ocidental, não conheço outro país com esse superávit com a China. o negócio é construir com a China uma relação onde a China passe a comprar mais, investir mais e agregar valor àquilo que compra do Brasil. E essa boa relação, claro, se estende à questão da aquisição de vacinas.