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Por O Globo; New York Times


O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, em entrevista em Tóquio REUTERS — Foto:
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, em entrevista em Tóquio REUTERS — Foto:

TÓQUIO — O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, indicou nesta segunda-feira que o seu governo empregaria a força militar para defender Taiwan se a ilha fosse atacada pela China, deixando de lado a política de "ambiguidade estratégica" adotada pelos presidentes americanos desde o reatamento com Pequim, nos anos 1970.

Horas depois, sua equipe tentou voltar atrás e disse que a política americana para a ilha não mudou. Segundo essa abordagem de quatro décadas, os EUA reconhecem o princípio de "uma só China", mas continuam apoiando a autodefesa de Taiwan, para onde fugiram os nacionallstas chineses ao serem derrotados pelos comunistas na guerra civil, em 1949.

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Mesmo com a tentativa do governo americano de corrigir a declaração de Biden, a China reagiu, por meio da porta-voz do escritório de assuntos taiwaneses em Pequim, dizendo que os EUA estão "brincando com fogo", segundo a agência estatal Xinhua. Os Estados Unidos estão "usando a 'carta de Taiwan' para conter a China e eles vão se queimar", disse Zhu Fenglian.

Ainda de acordo com a Xinhua, Zhu "pediu aos Estados Unidos que parem de fazer declarações ou ações" que violem os princípios estabelecidos entre os dois países.

Em uma entrevista coletiva com o primeiro-ministro do Japão, Fumio Kishida, durante uma visita a Tóquio, Biden sugeriu estar disposto a ir mais longe para ajudar Taiwan do que no caso da Ucrânia. O governo americano forneceu ao país europeu dezenas de bilhões de dólares em armas, bem como assistência de inteligência para ajudar a derrotar os invasores russos, mas se recusou a enviar tropas americanas para participarem de um confronto direto com a Rússia.

— O senhor não queria se envolver militarmente no conflito da Ucrânia por razões óbvias — disse um repórter a Biden. — O senhor está disposto a se envolver militarmente para defender Taiwan se for necessário?

— Sim — respondeu Biden categoricamente.

— Está? — confirmou o repórter.

— Esse é o compromisso que assumimos — disse Biden.

A declaração do presidente, feita sem ressalvas ou esclarecimentos, surpreendeu alguns membros de seu próprio governo presentes na sala, que não esperavam que ele prometesse tal compromisso sem condições.

Os Estados Unidos historicamente fazem alertas à China contra o uso da força para a reunificação de Taiwan com o território continental, mas geralmente permanecem vagos em relação a até que ponto ajudariam a ilha em tal circunstância.

A Casa Branca rapidamente tentou negar que o presidente quis dizer o que parecia dizer. “Como o presidente disse, nossa política não mudou”, disse a Casa Branca em comunicado enviado às pressas aos repórteres. “Ele reiterou nossa política de 'uma China' e nosso compromisso com a paz e a estabilidade em todo o Estreito de Taiwan. Ele também reiterou nosso compromisso sob a Lei de Relações com Taiwan de fornecer a Taiwan os meios militares para se defender."

Seguindo a mesma linha, o secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, disse, após ser questionado por jornalistas, que a "política de uma só China" de Washington com relação a Taiwan não mudou.

Mas os comentários de Biden foram além de simplesmente reiterar que os Estados Unidos forneceriam armas a Taiwan, porque a pergunta foi feita em contraste com o que ele havia feito com a Ucrânia. O presidente não fez nenhum esforço para qualificar o que pretendia quando concordou em “se envolver militarmente”.

Na verdade, ele em seguida reforçou a ideia de que seu compromisso com Taiwan vai além do que o que foi feito pela Ucrânia.

— A ideia de que [a ilha] pode ser tomada à força, apenas tomada à força, simplesmente não é apropriada — disse ele sobre Taiwan. — Isso abalaria toda a região e seria mais uma ação semelhante ao que aconteceu na Ucrânia. E por isso teria um peso ainda mais forte — continuou, fazendo uma comparação direta entre a Ucrânia, um país independente desde o fim da União Soviética, com cadeira na ONU e reconhecido como tal pela própria Rússia, e Taiwan, que não tem assento na ONU e com a qual apenas 13 países mantêm relações diplomáticas formais, o que não inclui os EUA.

Biden já ignorou a ambiguidade proposital de seus antecessores em relação à China e Taiwan antes. Em agosto do ano passado, ao tranquilizar aliados após sua decisão de abandonar o governo do Afeganistão, ele prometeu que “nós responderíamos” se houvesse um ataque contra um membro da Otan, a aliança militar ocidental, e depois acrescentou:

— O mesmo com o Japão, o mesmo com a Coreia do Sul, o mesmo com Taiwan — disse.

Taiwan, no entanto, nunca recebeu as mesmas garantias de segurança dos EUA que Japão, Coreia do Sul ou os aliados da Otan (aliança militar liderada pelos EUA), e por isso o comentário foi visto como significativo. Dois meses depois, Biden foi perguntado durante uma conversa com cidadãos se os Estados Unidos protegeriam Taiwan de um ataque.

— Sim, temos o compromisso de fazer isso — disse ele.

Aquela declaração também motivou uma correria frenética da Casa Branca para corrigir sua observação, insistindo em que ele não estava mudando a política americana de longa data. No final do ano passado, depois de uma cúpula virtual entre Biden e Xi Jinping, a Casa Branca reiterou que os EUA continuam seguindo o preceito de "uma só China".

Biden, porém, criou o hábito de ignorar precauções ao se referir a adversários no exterior. Em março, ele foi mais incisivo que a posição oficial de seu governo e chamou o presidente da Rússia, Vladimir Putin, de criminoso de guerra em resposta à pergunta de um repórter. Apenas uma semana depois, Biden causou alvoroço quando improvisou a conclusão de um discurso na Polônia e declarou que Putin “não pode permanecer no poder”.

A China, que considera Taiwan uma de suas províncias, enviou 14 aeronaves para a zona de defesa aérea da ilha no dia em que Biden chegou à Ásia, na semana passada,segundo o Ministério da Defesa de Taiwan, parte de um padrão de incursões crescentes no último ano. Taiwan enviou caças em resposta, mas nenhum conflito direto foi relatado.

O Ministério das Relações Exteriores de Taiwan saudou os últimos comentários de Biden nesta segunda-feira, expressando "gratidão" ao presidente por afirmar o "compromisso sólido dos Estados Unidos com Taiwan". Em um comunicado, o ministério disse que Taiwan “continuará a melhorar suas capacidades de autodefesa e aprofundar a cooperação com os Estados Unidos, o Japão e outros países com ideias semelhantes”.

Pequim, por outro lado, repudiou as declarações do presidente.

— Em questões relacionadas à soberania da China, à sua integridade territorial e a outros interesses centrais, a China não dá espaço para concessões — disse Wang Wenbin, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, acrescentando que ninguém deve subestimar a determinação da China de se defender.

Os comentários de Biden vieram apenas uma hora antes de ele apresentar formalmente um novo Quadro Econômico Indo-Pacífico de 13 países, destinado a servir como um contraponto à influência chinesa na região.

Encerrando o evento, Biden ignorou perguntas de repórteres sobre como seria uma intervenção militar em Taiwan e se ele estava disposto a enviar tropas americanas ao campo de batalha.

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